sábado, 30 de junho de 2012

Resultado do Concurso Literário do Edital 03/2012 - Gênero Conto

Prezados leitores,

é com prazer que trazemos ao conhecimento do público os textos escolhidos no certame do Edital 03/2012 organizado pela Revista Encontro Literário. Como estava previsto, foram selecionados para serem publicados três contos da categoria juvenil e outros três da categoria adulta. Esses textos serão exibidos em postagens separadas, logo abaixo desta. Estão dispostos em ordem alfabética, ou seja, a ordem não corresponde a uma classificação.

Pedimos, mais uma vez, desculpas pelo atraso na divulgação do resultado do edital, mas o volume de trabalhos recebidos foi bastante alto, superando nossas expectativas. No total foram 134 textos, vindos de várias partes do Brasil: MG, DF, SP, BA, RJ, PR, SC, MS, RS, CE, ES, PE, PB, SE, PI, GO, PA, RO, RN e AC. Tivemos também participações internacionais, enviadas por brasileiros que vivem na Alemanha, no Japão e na Suíça, além de textos enviados de Portugal.

Agradecemos a todos os participantes e aos leitores da Revista. Esperamos que vocês possam continuar participando dos nossos editais, além de acompanhar as postagens que são feitas mensalmente por nossos editores. Aproveitamos para lembrar que o próximo edital, 04/2012, será dedicado à poesia e estará aberto a partir do próximo mês de agosto.

Relação de Obras Selecionadas (por categoria)

Categoria Juvenil:

A caçada, de Julia Cedro de Oliveira
Balinha de maçã, de Clarissa Damasceno Melo
O rei das ruas, de Igor Gonçalves de Oliveira

Categoria Adulta:

Abandono, de Gilson Morais
Conto tirado de um poema de Bandeira, de Waldyr Imbroisi
Mundinho branco de talco de vó, de Luci Ponte

Informamos aos autores dos textos selecionados que o envio dos certificados de Menção Honrosa e dos livros indicados no edital como premiação de cada categoria será feito até o dia 30/09/2012. 

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Juvenil: "A caçada"

A caçada
por Júlia Cedro de Oliveira*


     Eu sei que deveria correr enquanto ainda tenho chances, mas por um motivo que não sei qual, eu fico paralisada atrás da porta do meu quarto, ouvindo os Caçadores conversando com meus pais. Eu sabia que eles viriam me buscar, só não sabia que viriam tão cedo.
      Foi aos 12 anos que percebi que era diferente dos outros. Estava na escola e minha melhor amiga veio em direção a mim, pedindo um lápis de cor emprestado. Eu poderia estar louca, talvez fosse só a minha enorme imaginação, mas posso jurar que ouvi o pensamento dela. Neste dia percebi que conseguia ler os pensamentos das pessoas ao meu redor e percebi que minha melhor amiga na verdade não gostava tanto de mim como imaginava.
     Cheguei em casa chorando e contei aos meus pais o que tinha acontecido, desde o momento que consegui ler o pensamento da minha amiga até quando essa amiga passou a ser minha inimiga. E então eles me contaram tudo que até então eles tentaram esconder de mim.
      Eu era um experimento aparentemente falho do Governo. Quando nasci eles poderiam ter me jogado fora como algo que eles não queriam mais, algo que antes era encantador, mas que agora se tornou fútil e repulsivo. Esse casal acolheu-me e tratou-me como se eu fosse uma filha para eles, como se eu fosse humana.
       O Governo estava errado e o que acontecera na minha sala de aula era uma prova disso. Eu não era falho, meu DNA apenas demorou em aceitar a modificação que eles estavam tentando fazer. Demorou um pouco mais do que a paciência deles pôde esperar. Só que não sou mais fútil como antes, agora eu posso até ter uma utilidade para eles e eles virão atrás de mim.
      E finalmente esse dia chegou. Meus pais adotivos estão nesse momento tentando convencer os apelidados por mim como Caçadores de que não estou dentro daquela casa. Não dá para enganá-los, meus pais só estão me dando um tempo para fugir. Mas eu não consigo sair do lugar. Não consigo deixá-los sozinhos depois de tudo que fizeram por mim. Eu sei o que os Caçadores podem fazer com eles, e essas coisas não são boas.
         Um barulho de tiro me tira do meu devaneio e me traz de volta para a realidade. Os Caçadores não podiam simplesmente me descartar e pegar de volta na hora que quiserem, eu não sou um brinquedo. Sei que não sou humana, mas conforme o tempo eu criei compaixão por eles.
      Minha raiva fez com que meu sangue bombeasse mais rápido em minhas veias e que minhas mãos abrissem a porta na minha frente. Passei os olhos pela sala de estar para saber o que o tiro acertou. Deixei um suspiro de alívio sair da minha boca quando vi o que foi acertado: um vaso de flores estava estilhaçado no chão. Meus pais estavam em pé um do lado do outro e eu não precisava ler suas mentes para perceberem que eles estavam assustados.
          Coloquei-me na frente deles, a fim de protegê-los.
       - E vocês disseram que ela não estava em casa hein? – uma voz áspera e rude saiu de um dos dois Caçadores, apontando uma arma para a cabeça da minha mãe e o outro apontando para a cabeça do meu pai.
      Encarei a arma assustada. Eu sei que posso ler as mentes, mas por algum motivo as mentes deles estavam bloqueadas. Mas é claro que viriam preparados. Cerrei os punhos com raiva da minha própria estupidez e algo que os dois Caçadores viram em mim os fez recuarem. Continuava a encarar as armas nas mãos deles. Eu não podia desistir tão fácil.
         - Cuidado, a coisinha está nervosa – os dois agora desviaram a mira das armas para outro alvo.
        O perigo não era os dois humanos frágeis atrás de mim. Sou eu que tenho o poder desconhecido. Não pude deixar de soltar um riso contido.
      - EU. NÃO. SOU. UMA. COISA – gritei pausadamente, tentando recuperar o ar que perdi durante esse meu ataque de cólera.
        E algo aconteceu. Os corpos dos Caçadores começaram a pegar fogo. Dei um passo para trás fazendo com que meus pais também recuassem. Olhei para todos os lados, alarmada, procurando a fonte do calor que fizera aquilo, mas não havia nada que pudesse fazer com que aqueles corpos musculosos queimassem com tanta facilidade, e mesmo que tivesse, eu e meus pais também estariam se dilacerando lentamente no fogo.
        - Fui eu – disse em quase um sussurro.

Estávamos livres dos Caçadores.
Por enquanto.


-----------------------
* Julia Oliveira, 15 anos, estudante do primeiro ano do Ensino Médio. Gosta de ler e sonha em publicar um livro um dia. Tem um blog literário (http://wakeupthe-world.blogspot.com) e ainda acredita que pode mudar o mundo para melhor. Protetora dos animais, gostaria de pegar todos os cachorros de rua e levá-los para casa. Contato da autora: juliacedro@ig.com.br

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Juvenil: "Balinha de maçã"

Balinha de maçã
por Clarissa Damasceno Melo*




     Horas passavam sem que se mudasse o tempo. E cada pedaço desse pouco tempo era um pedaço de céu arrebentado. E o tempo se congelava e se derretia sem que as previsões alarmassem. Esse era um novo tempo. Dele, só dele.
      Ele que gostava de correr... Estava correndo. Em velocidade máxima, puxando todo o ar que cabia em seus pulmões e soltando como se fosse a última vez que pudesse fazer isso. Ele corria, não com pernas, mas de mãos dadas, de braços inertes, de costas coladas no lençol, de suor no rosto, de dor no peito. Correr ele corria, contra o tempo. E quanto tempo faltava, ele não sabia. Só sabia que faltava tempo para... a natureza agir.
     De qualquer maneira, preferia ter sua alma solta ou presa nas nuvens, ou em um céu de estrelas. Tão limpas e tão brilhantes que ele desejaria explodir com elas. E ele correria para estar lá. Mas não hoje. Nem que se precisasse suar o dobro, ou doer o dobro, hoje ele só queria apertar a mão de sua mãe mais forte e mais forte até que pudesse sentir seu sangue aquecido. Por que até o calor fugiu dele. E a vida dele pulsava suas tão últimas horas. Horas dele, só dele.
      Doente, seu cabelo caíra com o tratamento que o deixava enjoado. Quando a família soube, choraram todos juntos. E toda a força e toda a fé e toda... É um muro de pedra cinza, veluda e forte. E a maciez dos dias em que viveu tornou-se rígida. Ele acordava e dormia sentindo falta de Deus. E Deus estava lá, escondido entre as nuvens, comandando rebeliões e revoluções tão nossas, e tão dele.
      E, por todo o universo, as únicas estrelas que brilham um dia tiveram de morrer. Só não sei se a morte brilha. Mas é verdade, se explode para que o brilho seja intenso. E uma cascata de nuvem prata talvez perpasse por nossos olhos e os feche devagarzinho até que... até que se possa brilhar.
       Orações sem fé não podem agarrar a carne crua e imóvel. E suas orações tinham poder mágico. Mas ele não acreditava em magia, nem no amor do mundo por ele. Velhos amigos sumiram... aqueles da faculdade, que estudavam com ele, e viajavam com ele, e dançavam com ele... Ele foi capaz de esquecer todos os seus rostos. Menos de uns dois ou três.
      Agarrado ali na sua mãe, puxando forças esgotadas e arrepios de carne, olhou pro dia lá fora pela janela: é verdade... estava coagulado! Estava feito uma gelatina em cima daquela cama. Do jeito de uma criança que fora proibida de sair. Ele seria uma boa criança se conseguisse se levantar. Mas, se levantasse, não ficaria de pé. Nem suas pernas se mexiam.
      Piscou suas pálpebras arroxeadas para a mãe. E toda mãe é capaz de ouvir o coração gritar desanimado. Ela levantou-se, soltando dedo por dedo de seu filho com a maior cautela do mundo. Abriu a bolsa e elas estavam lá, pequenas balinhas de maçã verde. Abriu uma e, com igual cautela, a pôs na boca de seu filho.
     Sentindo a saliva adocicada escorrer por sua boca, sentiu o salgado daquele momento se amenizar. Ele sorriu tranqüilo e brilhante. Era isso que ele queria: ter uma mortezinha doce. Tão doce como aquela. Sorriu mais umas três vezes para a sua mãe e, então, o véu de prata pareceu fechar-lhe os olhos. Talvez agora ele pudesse escalar as nuvens e de lá explodir como uma estrela que morre, que brilha e que é vista aqui da Terra.




--------------------
* Clarissa Damasceno nasceu em Itabuna, na Bahia, no ano de 1995 e criou-se em Itajuípe, cidade circunvizinha. Quando pequena, é notado o hábito de inventar pequenas estórias. O amadurecimento surge no segundo ano do ensino médio ao ser criticada por um professor que duvida da genuinidade de seus contos. No ano de 2012, já foi selecionada no concurso Valdeck Almeida de Jesus, que ocorre anualmente no estado da Bahia. Ganhou o terceiro lugar no concurso minicontos para Dickens, grande homenagem ao 200º aniversário de Charles Dickens, teve um de seus contos selecionados para a antologia 'Entrelinhas II', dentre outras menções. Contato da autora: melo_caca@hotmail.com

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Juvenil: "O rei das ruas"

O rei das ruas
por Igor Gonçalves de Oliveira* 


    Acordo com os sons dos pássaros, a luz do sol reflete em meus olhos, me espreguiço e então dou um pulo da cama. Pela manhã, como um taco de pão com um gole de leite e vou brincar de ser capitão.
    A casa na árvore, o meu barco, um cabo de vassoura, a minha espada e estou a navegar em um mar de sonhos. Ventania forte se transforma em tempestade e uma carroça entulhada no fundo do quintal é o barco adversário. O gramado é o oceano que se limita a um cercadinho de madeira e a vida se torna um sonho de criança.
    Estou a imaginar na casa da árvore até ver pela minha luneta de capitão um cachorro vira-lata entrando por debaixo do cercado. Então, o barco volta ser apenas uma casa na árvore, o gramado é apenas um gramado e a carroça é apenas um entulho. Não avistei somente um vira-lata ignorado por muitos, avistei ali, naquele cão de rua de olhos profundos e de face tristonha, um novo amigo.
     O cão sem valor, como muitos diziam, entrava espremido por debaixo do cercado por um caminho que ele havia feito após tanto cavoucar a terra preta. Após sair do buraco feito, levantou rapidamente meio sem jeito, sacudiu-se para tirar a terra e deu alguns passos desconfiado, mas logo levantou a cabeça, instigou o olfato e começou a cheirar a grama verde. Andava com orelhas em pé até achar um saco de lixo perto da carroça. Começou a futricar, despedaçou uma caixa de leite e a lambeu, agarrou um pedaço de tomate e logo se deliciava com um taco de pão.
     Não aguentei a ansiedade e logo desci escada abaixo para ver o cachorro. Dei alguns passos desconfiado e, um pouco ofegante, cheguei perto do cão, que, ao perceber que eu estava ali, logo escondeu o rabo entre as pernas e correu para debaixo da carroça. Agachei e o vi escondido atrás da roda da carroça, dava para ver o olhar de medo do cão. Vasculhei o lixo e peguei uma sobra de arroz queimado - parecia horrível, mas era o que tinha perto. Ofereci em minhas mãos a sobra de arroz, o cachorro desconfiou, saiu de trás da roda com um olhar atento, chegou um pouco perto, deu uma fungada, uma lambida na sobra e logo começou a se lambuzar com  o arroz queimado.
    Eu não sabia de onde ele havia vindo, nem seu passado. Conhecia muito menos seu futuro, mas desejava que ficasse comigo. Mas, ao terminar de lamber minha mão, ele simplesmente aproximou-se de mim, humildemente lambeu-me o rosto e se foi sem me dar uma pequena chance que fosse de lhe cuidar...
   Nunca mais o vi, mas eu o compreendia: aprendeu a ser livre, a sobreviver nas ruas, se escondendo do perigo e encarando-o quando fosse necessário. A vida lhe fez forte e corajoso...
     A vida fez dele o rei das ruas.

-------------------
* Igor Gonçalves de Oliveira é estudante do 1° ano do ensino médio. Tem 15 anos e há dois anos começou a escrever como hobby e paixão. Em seus textos tento descrever de forma simples e compreensível fatos do cotidiano e procura observar poesia nas coisas simples da vida. Em 2011 obteve o segundo lugar no concurso de Redação da 3° Caminhada pela Paz, de Valparaíso de Goiás.

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Adulta: "Abandono"

Abandono 
por Gilson Morais*


Pedro Fortunato chegou do trabalho e descobriu que sua casa o abandonara.


Ficou uns momentos parado na calçada observando o terreno vazio diante de si, totalmente vazio não fossem algumas telhas derrubadas no calor da fuga e sua mala deixada a um canto de muro. Caminhou até lá. Dentro, suas roupas e alguns objetos pessoais. Nenhum bilhete, nenhuma notícia, só o puro abandono. 


Arrastou a mala até a calçada do vizinho e sentou sob a castanheira, que não quis comentar o fato. Teve que se contentar com o silêncio da noite e a solidão que o envolvia como um manto frio. 


Ele era um vendedor. Vendia arruelas. Era muito diligente com seu trabalho: elaborava tabelas, agendava treinamentos, estudava os catálogos, vivia discursando a quem não quisesse ouvir sobre a importância delas para o progresso. Sabia tudo sobre arruelas. Na juventude ele era uma mente revolucionária, inquieta. Estava sempre à frente nas reivindicações da turma da escola, do bairro, de qualquer associação com que simpatizasse. De decepção em decepção caiu no mundo incrível das arruelas. Casou e fez família.


Pedro Fortunato tinha três filhos. O mais velho fora morar num país distante e nunca mandava notícias. O mais novo optou por se mudar para uma cidade próxima: precisava estar ao alcance de um depósito bancário. O do meio arranjara um casamento como desculpa para sair de casa e trabalhava muito para satisfazer os caprichos da esposa. A este não sobrava tempo para amenidades familiares. A mãe dos três, vendo o lar vazio, não mais enxergou sentido em morar com um homem seco e sem poesia. Mandou uma mensagem à irmã ("...saí ao mundo, fui respirar...") e não se soube mais dela. Pedro Fortunato continuou na casa, mas agora ela também partira. 


Cabeceou toda a madrugada, sentado no meio-fio. Com os primeiros raios de sol da manhã levantou e viu que estava descalço. Ainda flagrou seus sapatos e sua mala dobrando a esquina, apressados. Não ia rebaixar-se a persegui-los. Que fossem. 


Caminhou o dia todo, de mãos dadas com a chuva que caía. Não encontrou rostos conhecidos, nem abrigo, nem a fome. Todo o propósito o deixara e, com a volta da noite, a vida resolveu ir embora também. Só a chuva permaneceu ao lado do seu corpo frio. Ninguém sabe quanto tempo levou, mas, por fim, o enterraram num buraco já superlotado no cemitério. 


Seu Aristides, o coveiro, registrou reclamação três vezes. Não quer mais reenterrar aquele cadáver deplorável, a teimar, toda semana, em sair de sua cova. Um cadáver que os vermes não roem e os animais da noite evitam. Seu Aristides só sabe que aquilo o assombra e já avisou: se ninguém tomar providências vai deixar aquela carcaça lá, no chão, à vista de todos, abandonada.

-------------
Gilson de Oliveira Morais Junior é paraibano. Empresário, graduado em Letras e leitor ávido, ele é integrante do grupo Oficina de Escritores, na Internet, desde 2010, onde vem trabalhando sua escrita, caracterizada pelos elementos fantásticos inseridos nos temas cotidianos. Contato do autor: gilson_moraispb@yahoo.com.br

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Adulta: "Conto tirado de um poema de Bandeira"

Conto tirado de um poema de Bandeira
por Waldyr Imbroisi*

Lá estava João Gostoso diante da lagoa, ébrio, sóbrio já da vida, passo vacilante e voz ainda por sair. Era afinal sua última hora, e ali lembrava com um sorriso parvo do resto da noite, do pouco que teve de vida: seu riso trazia de volta o bar, os jovens, as garotas e o movimento daquele instante que apenas o poeta soube valorizar tanto, com três verbos só, o momento que o jornal não será capaz de captar com clareza amanhã, sobre o qual nem João sabia o que dizer, seu único idílio, sua única e efêmera Pasárgada, seu porquinho da Índia a anunciar-se tímido e escorregadio, a letargia da bebida a estuporar-lhe os músculos, a vivacidade da dança a empolgar-lhe a alma, a dissolução gradual do super ego que lançava-lhe a cantar, a doce loucura do final da vida, a dor pobre muito pobre e a agreste alegria de quem sabe que vai morrer. Não tinha mais nada que se lembrar, mas vinha-lhe à cabeça a contragosto as imagens dos dias, as dores no corpo, as humilhações sofridas nas palavras ásperas dos patrões e dos transeuntes, o peso a arquear-lhe as costas sem descanso e sem paz, a impossibilidade de fuga, Aqui eu não sou feliz, e vou-me pra onde? E toda manhã era sempre o mesmo, o mesmo arranhar nas costas e na alma, as mesmas aventuras desconcertantemente fastidiosas, com frequência a faltar-lhe na mesa café com pão, mas sempre passa caixa, passa carro, passa dor, passa agulhada, passa fome na soleira do barraco, ai, que vontade de chorar. Mas não chorava: vivia sub-sub-repticiamente, sem chamar atenção de ninguém, sem ser nada mais que o operário dos transportes de tantos alimentos de que ninguém dá conta, mas clamava humilde a ajuda do alto, nunca na missa porque domingo é dia de feira, mas Jesus Cristinho nem se incomodava com o pobre, se porque ele rezava em casa, se porque era um pecador ou era negro, não se sabe; soube-se só preterido, esquecido, quase vazio, ora, bastava de ser bicho a mendigar a piedade dos outros ou um pedaço de pão entre os detritos. Já chega. Agora a espera surda e expectorante se faz entre João Gostoso e a lagoa, ampla, de braços abertos, tão preparada para recebê-lo, tão cheirando a merda e a esgoto. Amanhã o jornal sairá com seu nome completo. Chamarão o pobre de alcoólatra. Irão vê-lo passar, de rabecão; alguns estarão no seu enterro, mas poucos terão como ele a tão presente certeza de que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade, traição. E lá vai ele: projeta-se no ar como uma pássaro, ganha o infinito num abraço carinhoso e completo e entrega-se às águas sujas, mórbidas, grossas e impudicas da Lagoa. Não se debate, não grita. Apenas aceita. E pensa do fundo da alma, embora talvez com distintas palavras: “Perdoai-me, transeuntes e leitores do jornal de amanhã, se espirrei-lhes um pouco dessa água e marquei a podridão suja da vida na roupa que acabastes de comprar”.

--------------------
Waldyr Imbroisi é mestrando do Programa de Pós Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz Fora. Interessa-se pelas aproximações de literatura e história e estuda literatura brasileira. Contato do autor: embroyler@gmail.com

Conto selecionado no Edital 03 - 2012, categoria Adulta: "Mundinho branco de talco de vó"

Mundinho branco de talco de vó
por Luci Ponte*

 “Vovó, é a pomba gira?” Foi assim que aprendi a só perguntar algo quando se sabe o mínimo sobre o que se está perguntando e, principalmente, a quem se pergunta. Dia das mães era sempre assim na minha infância: viajávamos de Fortaleza a Sobral de carro para visitar a mãe de meu pai, minha única avó viva. Eram quatro longas horas que, para minha insípida felicidade infantil, passavam rapidinho. Tudo era festa: arrumar a mala, acordar de madrugada, comer paçoca com Coca-Cola no café da manhã em um bar de beira de estrada.
Lembro que da primeira vez que fui arrumar minha mala sozinha, pus as roupas com os cabides, pois não queria que se amassassem. Minha mãe, claro, deu um escândalo e desmanchou minha linda mala de areia. Pois bem, findo o trajeto, chegávamos à casa de minha vó, que quando conheci, já não era muito lúcida, trocava os nomes dos filhos, netos e passava madrugadas em claro, rezando no quintal junto ao muro da vizinha que ela jurava fazer “macumba” noite adentro. Minhas duas tias solteironas que moravam com ela, consequentemente, faziam também uma vigília noturna involuntária. Na verdade, elas vigiavam minha vó que, por vezes, atirava coisas na casa da vizinha: bacias de “água benta”, rosários ou até pedras.
Em geral, chegávamos à casa da vovó na hora do almoço e era um rebuliço só porque vovó sempre cismava que minhas tias não tinham feito comida suficiente e queria ela mesma cozinhar. Esse tumulto era logo controlado porque ela rapidamente encontrava uma outra pessoa para implicar. Entrar na casa da minha vó era sempre uma redescoberta de mim mesma pelos olhos dela. Aquela fortaleza frágil e cheia de certezas falsas fazia meu coração bater mais forte quando dizia “Isso é a Clarinha, Laura?” perguntando a minha mãe. “Tá uma moça”. Aí como de costume, eu pedia a benção, ela me abençoava e, antes que cogitasse seguir a nossa conversa, sua mente já havia escapado novamente para o seu mundinho branco com cheirinho de talco de vó.
Nosso relacionamento era assim, fragmentos de bênçãos em meio a almoços tumultuados de dias das mães. Logo nas primeiras visitas de que me recordo, pensava ser ali uma igreja, pois havia quadros, imagens e terços de todos os tipos e tamanhos espalhados por toda a casa. A sala clara e ventilada com suas cadeiras de balanço de macarrão de cores diversas, os azulejos decorados do piso e aquela cortina colorida arejavam minha mente infantil que olhava para aquelas imagens, tentando prestar a mesma reverência que alguns adultos. Meus olhinhos curiosos percorriam cada uma delas e até reconheciam algumas. Lembro-me claramente do quadro de nossa senhora, ela era linda e sorria para mim como nos meus sonhos. Mas tinha uma imagem naquele lugar que me intrigava. Era uma pomba branca em uma casinha de madeira escura com uma luzinha vermelha acesa sobre sua cabeça.
Não conseguia associar aquela figura a nada que havia estudado no catecismo. Fiquei intrigada por vários anos, mas, dessa vez, decidi ingenuamente perguntar, interrompendo a “conversa dos adultos”: “Aquilo lá no alto é a pomba gira?”. Que eu me lembre, foi a primeira grande oportunidade de ficar calada que eu perdi na vida. Iniciaram-se a partir daí gritos de repreensão de minhas tias, meu pai me dizia para não falar besteira e até minha vó saiu do mundinho branco de talco de vó dela para me dar um esporro, logo seguido de orações confusas: “É o espírito santo, minha filha!” “valei-me nossa senhora”, “chagas abertas” “Jesus amado”. Em seguida, rapidamente, como se nada houvesse acontecido, esqueceram-se de mim e voltaram à conversa de adultos, tumultuada como é de praxe na minha família. Começaram a se perguntar onde eu aprendera isso e de quem era a culpa. Minha vó escapou de novo para seu o mundinho branco de talco de vó e eu fiquei ali sem entender nada. Naquele dia, percebi que algumas das minhas perguntas não cabiam nas respostas pequenas dos adultos.



---------------------
* Luci Ponte é comunicóloga, formada pela Universidade Federal do Ceará e professora universitária no Rio de Janeiro. Ela atua como contista, poetisa, dramaturga e atriz. Dentre as peças que escreveu, destaca-se o espetáculo ‘Cidade dos Lázaros’, uma adaptação da obra de Augusto dos Anjos que estreou em Junho de 2012 no Rio de Janeiro. Tem contos, crônicas e poemas em diversas antologias e escreve em seu blog http://minhasemeadura.wordpress.com. Contato da autora: luciponterj@gmail.com

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A cultura audiovisual e a construção de um país de leitores no Brasil

A cultura audiovisual e a construção de um país de leitores no Brasil

"Um país se faz com homens e livros" (Monteiro Lobato)
Raphael de Oliveira Reis[1]


Não é novidade para ninguém que o Brasil é um país de não leitores, assim como acontece também nos outros países da América Latina. Principalmente se considerarmos leitores aqueles que leem livro (seja ele o tradicional, em arquivo pdf, e-book ou audiobook). Se ainda quisermos ser um pouco mais exigentes, retirando os livros do momento (best-sellers e os de autoajuda/esoterismo/religioso) os números são, no mínimo, preocupantes.

A principal razão apontada pelos não leitores para não ler é a falta de tempo. Conjuga-se a isso que a leitura ainda não é vista como uma atividade para ser exercida no tempo livre, já que neste há uma escolha predominante pelo audiovisual. Por exemplo, no Brasil, as pessoas preferem assistir televisão (85%), escutar música ou rádio (52%), descansar (51%), reunir com amigos ou família (44%) e assistir filmes (38%). Ler só aparece em 6º lugar com 28%, mesmo considerando os diversos meios de leitura (jornais, revistas, livros e textos na internet). (IPL, Retratos da Leitura, 2012, p. 42). Esses dados nos mostram que a relação dos brasileiros com o audiovisual é mais íntima do que com a leitura.

Como aponta o historiador Nelson Werneck Sodré (1999), a cultura de massa desde a metade do século XX é anterior a relação com o livro e leitura no Brasil, pois “o brasileiro passou, sem mediação, da oralidade para a cultura audiovisual, ou seja: tem acesso a uma tecnologia mais avançada de gravação antes de sua precedente e sem a qual, poderíamos dizer, está mais apto a ver as imagens do que lê-las”.[2]

Um dado interessante que corrobora a análise de Sodré são as citações de obras literárias pela personagem Tufão, da novela Avenida Brasil (2012), transmitida pela Rede Globo no horário das 21:00 horas, despertando o interesse de telespectadores e o aumento de vendas das obras lidas por ele. Dentre essas obras estão os clássicos: Dom Casmurro, de Machado de Assis; A Interpretação dos Sonhos, de Freud; A Metamorfose, de Franz Kafka; Memórias Póstumas de Brás Cubas; e Madame Bovary, de Flaubert. Neste caso, a televisão, mesmo sem ter esse objetivo de estimular a leitura, visto que os livros supracitados fazem parte da trama da novela e não de um projeto de divulgação literária, acabam exercendo um papel positivo, ou melhor, legal. Por outro lado, sabemos que a indústria cultural está pouco interessada na qualidade do leitor e da leitura, e sim em vender livros, construir um país de leitores independente do gênero, da qualidade da leitura, desde que comprem. Isso fica nítido no trabalho de marketing das editoras em fabricarem livros best-seller, contando com uma estratégia da mídia de massa (rádio, televisão e cinema). Muitos livros que tiveram uma explosão de vendas passaram primeiro pelas telas do cinema e de outros meios de divulgação (ver a coleção Henry Potter e da Saga Crepúsculo).

É curioso notar que o lugar da leitura no tempo livre ganha mais destaque na América Latina somente na Argentina (66%). Nos outros países é bem baixo, a saber: Colômbia (31%), República Dominicana (19%), Uruguai (19%), México (13%) e Chile (5%). (Jaramillo e Monak, 2012, p. 11).

Ressalto que a variável falta de tempo para a leitura dispara comparada às outras opções, como já dissemos anteriormente. Motivos relacionados a dinheiro (para a compra do livro) ou de acesso (bibliotecas e livrarias) são pouco considerados pelos entrevistados na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2012), o que nos leva a considerar a hipótese de que a renda não é um fator determinante nem o mais importante para ser um leitor. Neste sentido os dados da pesquisa mostram uma desmistificação entre renda e leitura.

Por fim, se quisermos um país de leitores precisamos urgentemente trabalhar com a formação do leitor, lembrando que esta está diretamente ligada aos mediadores da leitura (professores, bibliotecários, pais, etc.), os quais para formarem leitores precisam ser leitores formados. E que a leitura também seja uma atividade do cotidiano, valorizada socialmente, para ser exercida no tempo livre e que está diretamente relacionada à qualidade de vida, já que aponta caminhos e horizontes os mais diversos possíveis.



Referências:



INSTITUTO PRÓ-LIVRO (IPL). Retratos da Leitura no Brasil. 2012. Disponível em [www...http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834_10.pdf]. Acesso em 10/05/2012.



JARAMILLO, Bernardo e MONAK, Lenin.  Comportamento do leitor e hábitos de leitura: comparativo de resultados em alguns países da América Latina. Pesquisada apresentada no II Seminário Retratos da Leitura no Brasil, Brasília, 2012. Disponível em [http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834.pdf]. Acesso: 08/06/2012.



SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de História da Cultura Brasileira. 19ª ed. RJ: Bertrand Brasil, 1999.



[1] É Mestrando em Educação (PPGE-UFJF), Especialista em Políticas Públicas e Gestão Social (UFJF) e Graduado em História (UFJF). Atualmente, trabalha como Professor de Suporte Acadêmico no Caed-UFJF, Assessor Político e ministra cursos de formação do leitor e formação política.
[2] Neste sentido, é válido lembrar que em meados do século XX, mais da metade da população brasileira era analfabeta.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Temática negra em pauta: apresentação do Romanceiro da Abolição e do Canto dos Escravos

Não sei o que dizer aos amigos editores e, mais ainda, aos estimados leitores da Revista Encontro Literário pelo (constante) atraso das minhas colunas mensais. Até porque não me ocorrem outras explicações que não sejam a dificuldade em escolher os temas e, claro, uma excessiva dose de desorganização.

Bom, pode ser também uma espécie de mania que eu tenho e que o leitor mais atento já deve ter notado: dificilmente começo o texto indo direto ao ponto, e trato de alongar-me em "pretextualidades" que permitem que as ideias se acomodem e venham mais arrumadinhas para a página da revista.


Agora que todos passaram os olhos pela "oficina do autor", vamos ao que interessa: o tema da vez. Após homenagear, com atraso, o escritor Monteiro Lobato (veja a postagem a esse respeito aqui), faço outra homenagem pós-data: aos negros, cuja libertação da condição de escravos completou 124 anos no último mês de maio.


Pois bem. A história que quero contar começa em 1943, quando Aires da Mata Machado Filho (1909-1985), professor, filólogo e folclorista publicou O negro e o garimpo em Minas Gerais - um importante trabalho sobre os cantos de trabalho dos escravos bantos, recopilados por ele na região de São João da Chapada, distrito de Diamantina (MG). 

Esses cantos de trabalho, chamados vissungos, foram um marco no estudo etnográfico brasileiro, pois demonstravam que no nosso país não foram só os negros nagôs da Bahia quem deixaram contribuições linguísticas e culturais de grande importância, mas também os bantus trazidos a Minas Gerais. Ao publicar tal obra, Aires da Mata Machado recuperava um acervo cultural e rítmico importante para se compreender  um pouco melhor como se processou a formação da língua e da música que hoje temos como nossas, iluminando melhor nosso passado colonial.

Apesar de publicada há mais de 60 anos, estamos frente a uma obra que pode ser adquirida com relativa facilidade em edição da Itatiaia Editora (capa acima). Vejam aqui os resultados da busca pela Estante Virtual: http://www.estantevirtual.com.br/qtit/o-negro-e-o-garimpo-em-minas-gerais

Essa obra capital teve alguns desdobramentos. O primeiro que vou focalizar, é o poemário Romanceiro da Abolição, de Stella Leonardos, publicado em 1986 e premiado, na ocasião, com o terceiro lugar na categoria poesia do Prêmio Bienal Nestlé de Literatura Brasileira. Para dizer a verdade, a autora não bebe apenas da fonte de Mata Machado, reportando-se ainda a cantos e outros achados de gente do naipe de Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo. Com um título e uma técnica poética que remetem ao conhecido livro de Cecília Meireles publicado em 1953, essa obra descreve a saga dos povos africanos em terras brasileiras.

Porém, ao contrário de Cecília, que busca compor poemas de intenção narrativa e dicção fluente, Stella Leonardos trata de buscar nos cantos dos negros as epígrafes e/ou os refrões de seus poemas, promovendo uma escrita cheia de quebras e atravessamentos, erigida como documento dos contatos interraciais e sem ocultar o jogo de forças que estava por trás de tudo. Com isso, desloca o foco da forma linguística ou mesmo de uma intenção estilística, e traz para o centro da cena aquilo que os próprios negros produziram e que deveria ser mais conhecido. Desnecessário dizer que eu considero ser este um livro que vale a pena ser lido. Ele também pode ser encontrado em uma busca rápida: http://www.estantevirtual.com.br/qtit/romanceiro-da-abolicao 


Deixo aqui um desses poemas para que vocês apreciem:



Com licença do curiandamba”...
Papai auê”...

Vissungos coligidos por Aires da Mata Machado Filho

CANTO NA NOITE FECHADA

Licença, curiandamba,
de mostrar pra vosmicê
nessa malamba de vida
saudade avoando ferida
nas asas de tatanguê?

                  “Papai auê
                  mamãe, papai auê
                Iô, fero a, siquê
                tequirombô maianê
              a ê, mamãe ê”

A noite banza, manganga,
com seu povo jeito noite,
riso morto, mar nos olhos
das estrelas de: por quê?

Passemos, agora, a outro desdobramento do trabalho do professor Aires da Mata Machado. Trata-se do disco O canto dos escravos, lançado em 1982 pela gravadora Eldorado, com registro em áudio de 14 dos cantos de trabalho recopilados e partiturados pelo pesquisador. No disco, os vissungos são entoados por Tia Doca, pastora da velha guarda da Portela, por Geraldo Filme, sambista paulistano, e por Clementina de Jesus, uma das cantoras brasileiras mais importantes no que diz respeito ao resgate das raízes da música popular de origem africana e dona de um timbre grave que evoca toda a ancestralidade dos cantos dos negros.


Trata-se, sem dúvida, de um trabalho corajoso, que vai na contramão das tendências mercadológicas que valorizam composições de gosto duvidoso e que se destinam unicamente a embalar um "remeximento das cadeiras" dos ouvintes. (Isto para dizer o mínimo e de modo respeitoso aos leitores.)

Tenho comigo que a audição do referido disco é uma oportunidade e tanto para conhecer e valorizar as "raízes do Brasil", normalmente tão esquecidas. Abaixo disponibilizo para audição uma das faixas do disco. Espero que gostem!


domingo, 17 de junho de 2012

Islã: identidades e subjetividades

O Islã e as sociedades muçulmanas vêm despertando crescente interesse nos últimos anos, e os pesquisadores têm procurado produzir estudos a respeito desse tema em espaços especializados como a BibliASPA, a Biblioteca e Cento de Pesquisa América do Sul-Países Árabes.
A Associação Brasileira de Antropologa(ABA), a Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes (BibliASPA) e os grupos de pesquisa Temáticas, narrativas e representações árabes, africanas, asiáticas e sul-americanas e de comunidades diaspóricas e GRACIAS -Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes convidam para o debate:
“Islã : identidades e subjetividades”
Profa. Dra. Maria Cardeira da Silva, Profa. Dra. Angeles Ramirez, Profa. Dra. Francirosy Campos Barbosa Ferreira, Prof. Dr. Paulo Daniel Farah
Abertura:
Prof.Dr. Paulo Daniel Farah (BibliASPA e USP)
Prof.Dra. Francirosy Campos Barbosa Ferreira (USP)
(coordenadores)

Os árabes nas nações e nas academias: mútuas colonizaçõesMaria Cardeira da Silva (UNL)
Se é verdade que as academias participaram frequentemente da colonização dos contextos árabes e muçulmanos, estes sempre desafiaram as academias pelas complexidades analíticas e políticas a que sujeitaram suas teorizações. O que pretendo aqui fazer é rastrear a história mais recente dessa interação específica, integrando-a num quadro comparativo com outros quadros de produção acadêmica,focalizando-me particularmente nas questões de gênero e tomando como base a minha própria experiência de investigação ao longo das duas últimas décadas nalguns desses contextos, particularmente Marrocos e Mauritânia.
Antropología en y de los contextosárabes y musulmanes
Angeles Ramirez (Universidade de Madrid)
La investigación hecha desde las cienciassociales en España sobre las áreas arabo-musulmanas el mundo es deudora de dos procesos relacionados: la experiencia colonial de España como potencia enel norte de África y el lugar de España como objeto de estudio y no como sujeto de estudio, sobre todo desde el punto de vista deldesarrollo de laantropología. Mi trayectoria de investigación se inserta en esta complejarelación, que se proyectaen dos objetos de estudio: laconstrucción teórica dela inmigraciónmarroquíenEspaña y elnacimiento de una comunidadmusulmana, por un lado, y enlarelaciónfeminismo-islamismo como partes de laconstrucción de género enestascomunidades.
Pesquisadores de Islã no Brasil - interfaces
Francirosy Campos Barbosa Ferreira (USP)
O crescimento das pesquisas em comunidades islâmicas no Brasil foi bastante significativo na última década em comparação com a década anterior, hoje podemos dizer que as pesquisas vão a um crescimento vertiginoso. Cabe refletir sobre este fenômeno a partir de alguns dados coletados por meio da pesquisa com pesquisadoras de islã, pesquisa esta transformada em site e que pode ser consultado porque tem interesse na temática. É possível destacar que no Brasil os efeitos dos atentados de 11 de Setembro nos EUA podem ser um dos indícios para este crescimento, assim como, de forma menor, mas não menos importante, os efeitos da telenovela O Clone. Cabe perguntar: as múltiplas pesquisas sobre o tema dão conta de que universo? Um dos recortes possíveis a se fazer é o próprio grupo formado há um ano o GRACIAS (Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes), que apresenta interesses diversos neste campo religioso.
Bibliaspa – Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes na construção do conhecimento
Paulo Daniel Farah (USP)

O estabelecimento de relações políticas, culturais e econômicas consistentes e duradouras entre os países da América do Sul e os países árabes e/ou muçulmanos pressupõe a construção de conhecimento mútuo das sociedades envolvidas. Os estereótipos culturais e as representações politicamente motivadas só podem ter seu efeito negativo contrabalançado pela produção constante de saberes acadêmicos, embasados em pesquisa empíricas de qualidade, bem como pela disponibilidade de textos representativos da produção cultural árabe e sul-americana. A experiência da BibliASPA na implementação de cursos, programa de língua e cultura árabe, publicação de livros sobre temas islâmicos e árabes, mostras de cinema, grupos de pesquisa e exposições revela um crescente interesse e uma via bem-sucedida no desenvolvimento de estudos que contam com reconhecimento nacional e internacional.
SERVIÇO
O que:Debate Islã : identidades e subjetividades
Quando: 30/junho/2012 às 14h
Local: Espaço BibliASPA – Rua Baronesa de Itu, 639 – Sta. Cecília SP
Informações: (11) 3661 0904
Inscrições GRATUITAScomunicacaobibliaspa@gmail.com

terça-feira, 12 de junho de 2012

22ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo

A Bienal do Livro

Assim como os livros transformam o mundo, a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo vai transformar as cidades de São Paulo em agosto.
A Bienal reunirá em um mesmo local as principais editoras, livrarias e distribuidoras do país, que apresentarão para cerca de 800 mil visitantes os mais importantes lançamentos editoriais e oferecerão uma diversidade única de títulos em um espaço total de 60 mil m².
Além de ser um local para realizar bons negócios, o evento reunirá representantes da cadeia produtiva e criativa do livro como: empresários, jornalistas e escritores do mundo inteiro, a Bienal do Livro de São Paulo atrai um público plural, entre crianças, jovens e adultos devido a sua diversificada programação cultural, que vai agitar os 11 dias do evento, incentivando o gosto pelos livros e pela leitura.

22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

  • Data: 9 a 19 de Agosto de 2012
  • Local:Pavilhão de Exposições do Anhembi
    Av. Olavo Fontoura, 1.209 - Santana - CEP 02012-021 São Paulo - SP

domingo, 3 de junho de 2012

Dica de Leitura: Vaga Música, de Cecília Meireles


Uma das boas sugestões literárias da poesia brasileira é o livro Vaga música (1942), de Cecília Meireles, que marcou definitivamente o auge de sua carreira. É uma poesia contínua que vai ao encontro das imagens do mar. Nesse livro, uma das formas poéticas mais utilizadas pela poeta é a da canção, o que vem indicado, à maneira antiga, já nos títulos: "Pequena canção da onda", "Canção da menina antiga", "Canção excêntrica", "Canção quase inquieta", "Canção do caminho", "Canções do mundo acabado", "Canção quase melancólica", "Canção de alta noite", entre outras... Tendo herdado a linguagem musical e cadenciada do simbolismo, e procurando depurá-lo, o lirismo de Cecília Meireles é perpassado pela melancolia e pelo sentimento da saudade do tempo que passou, o que sugere uma reflexão sobre a fugacidade da vida, a descrição do real e a preocupação com a falta de sentido da existência, bem como a ênfase na condição solidária do homem. 

De Vaga Música, vem este singelo poema em forma de canção:

Pequena canção

Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?

Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...

Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!
 
Confirmam-se, assim, algumas das características de uma bela canção: o som e o ritmo, a impregnação da realidade exterior pela emoção, o apagamento dos fatos e a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço. 
Fica, então, o convite a música ceciliana, para além de uma vaga música....