domingo, 27 de janeiro de 2013

Dica de Leitura de Janeiro/2013: "As cem melhores crônicas brasileiras"

Não estranhe o leitor da revista a assinatura ao final da postagem. Por questões que fogem ao âmbito desta coluna, seu redator habitual está impedido de redigi-la e, como "o show de todo artista tem que continuar", aqui estou para substituí-lo. Espero poder fazer isso à altura.

Outro alerta: apesar da minha irregularidade na escrita da coluna pela qual sou responsável depôr em contrário, existe um planejamento mínimo para que a Revista Encontro Literário se mantenha no ar. E, de acordo com o script, a indicação de janeiro deveria contemplar alguma obra do escritor Paulo Leminski (1944-1989). 

Mea culpa

No entanto, não me vejo em condições de indicar algo de Leminski aos leitores e explicar o fato exige de mim o reconhecimento de minhas limitações (sim, limitações!). Apesar do alarde em torno do nome de Leminski e do valor dado à sua atuação em prol da poesia brasileira, abrindo caminhos novos à expressão literária em verso e prosa (poética), confesso que não o li como deveria. Talvez um ou outro poema de antologia, mas nada que me habilite para apresentar ao autor ou a uma de suas obras aqui neste espaço. 

Se resta um consolo, eu o encontro na coluna escrita pelo companheiro Raphael Reis sob os fogos que saudaram o novo ano: "Eu, enquanto leitor, quais leituras posso fazer para ampliar o meu horizonte de fabulação, fantasia e conhecimento, entre outras coisas?". Para mim já se coloca o nome de Paulo Leminski como uma resposta possível à pergunta.


Indo ao que interessa 

Uma vez que já expliquei por que sou eu quem assino a coluna desta vez e, mais que isso, por que não faço a indicação conforme o script, resta cumprir com a função principal que é indicar alguma obra que os nossos leitores possam desfrutar. Confesso tratar-se de uma indicação oportunista. 

Neste mês, tivemos duas efemérides literárias que foram o ponto de partida desta indicação: os 90 anos que teria comemorado o cronista Sérgio Porto no dia 11 e, no dia seguinte, a comemoração pelo centenário de nascimento de Rubem Braga, inventor da (moderna) crônica brasileira [1]. A Folha de São Paulo do dia 12/01/2013, sábado, dedicou uma página da Ilustrada a Rubem Braga e, na edição de domingo (13), deu a público na Ilustríssima duas crônicas suas que estão por ser lançadas em volumes comemorativos. A matéria do sábado destacava também o pouco alarde em torno do aniversário de Sérgio Porto (ou Stanislaw Ponte Preta, como ficou mais conhecido).

Indo ao que interessa, devo dizer que a leitura dessa reportagem me deixou animado com a possibilidade de indicar uma obra de um desses autores, aproveitando a oportunidade dessas datas comemorativas. Mas, tratando de evitar esquecimentos como o que foi mencionado pela Folha, terminei optando por uma antologia que tem condições de apresentar não só os dois autores assinalados, mas também outros que se dedicaram ao cultivo deste gênero tão brasileiro. As cem melhores crônicas brasileiras (Ed. Objetiva, 351 págs.), volume organizado por Joaquim Ferreira dos Santos, traz uma seleção de textos de 62 autores, de variadas gerações literárias, começando por Machado de Assis ainda no século XIX e terminando com  Carlos Heitor Cony e Antonio Prata, entre outros, nos anos 2000. Entre uma ponta e outra, textos de Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e, claro, Rubem Braga e Stanislaw Ponte Preta, além de textos de autores como Olavo Bilac e Caetano Veloso, que normalmente não associamos à crônica. Antes que eu me esqueça: um dos textos escolhidos pelo organizador do volume é a crônica Complexo de vira-latas, de Nelson Rodrigues, a qual tem rendido muita discussão desde a sua publicação à época da Copa do Mundo de 1958.

O livro está dividido em partes sequenciadas cronologicamente, sendo cada uma delas iniciada com um breve panorama da época que será enfocada e que enfeixa textos dos seguintes períodos: de 1850 a 1920, de 1920 a 1950, anos 1950, anos 1960, anos 1970, anos 1980, anos 1980, anos 1990 e anos 2000. Além disso, o volume conta com uma introdução bastante feliz na explicação não só dos critérios de seleção dos textos [2] como também da dificuldade em delimitar o que vem a ser a crônica. A respeito da delimitação do gênero, assim se pronuncia Machado de Assis no texto que abre a antologia: 

Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma diz que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Temos aí destacadas pelo menos duas características da crônica: a primeira é seu caráter "informal", que Machado justifica atribuindo-lhe uma origem banal (o bate-papo de duas vizinhas) e a segunda se refere a seu conteúdo e função - a crônica pretende tecer um comentário sobre assuntos que estão com alguma visibilidade e que são "de interesse", tudo isso matizado por uma visão pessoal.

Os textos no volume tanto confirmam quanto negam essa primeira definição e, mais que isso, a ampliam. Eis um dos motivos para se aventurar na leitura de As cem melhores crônicas brasileiras. Além disso, é oportuno destacar que, por circular preferencialmente nos jornais, a crônica se tornou "uma espécie de iniciação do brasileiro ao prazer de ler" [3]. Sendo assim, nada mais natural que iniciar o Ano Novo com a leitura de um gênero textual "iniciático". Boas leituras!

Notas:

[1] Aqui faço referência a uma crônica de Clarice Lispector intitulada Ser cronista na qual a escritora assim se expressa sobre seu ofício e patenteia o lugar de Rubem Braga no conjunto dos cronistas brasileiros: “Sei que não sou [cronista], mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Na verdade eu deveria conversar a respeito com Rubem Braga, que foi o inventor da crônica. Mas quero ver se consigo tatear sozinha no assunto e ver se chego a entender.

[2] A introdução explica também a (lamentável) ausência de Manuel Bandeira e Cecília Meireles no volume por motivos extraliterários.

[3] Segundo a antologia, esse papel iniciador da crônica começa a se delinear mais fortemente a partir dos anos de 1950. A frase citada foi tirada do texto que introduz as peças dessa década. Ainda sobre este ponto, a crônica parece ser verdadeiramente um achado da nossa cultura. O escritor argentino Rodolfo Alonso, por exemplo, diz que a cessão de colunas jornalísticas a grandes escritores [de literatura] pode soar como um fato inimaginável em seu país e destaca ainda que, apesar de preservar a liberdade dos autores, ao colocá-los em um espaço de ampla circulação, a crônica relativiza os limites dessa liberdade e confronta "a exigência e a originalidade dos criadores com a exigência e a qualidade dos leitores". Seu texto original, em espanhol, pode ser lido aqui: http://www.cronicasdelaemigracion.com/opinion/rodolfo-alonso/revelacion-de-clarice-lispector/20130114112859047621.html 

domingo, 6 de janeiro de 2013

Revista Encontro Literário completa 2 anos

Hoje, 06 de janeiro de 2013, a Revista Encontro Literário completa 2 anos de divulgação de informações literárias, sociológicas, históricas, etc. !
Nestes dois anos consolidamos os objetivos propostos: lançamos dois editais de seleção (poesia e contos), recebendo centenas de produções de diversos lugares do Brasil e de outros países. O número de acesso aumentou e, hoje, contamos com uma média mensal de 1.500 acessos. Dessa forma, já podemos dizer que a Revista Encontro Literário é um espaço para autores que desejam ver os seus trabalhos publicados; um meio que ajuda a divulgar a literatura e a cultura brasileira; e contribui com a produção e circulação do conhecimento.
Outra ação foi contribuir com reflexões próprias, de cada Editor. Assim concretizamos 3 colunas mensais, a saber: Dica de Leitura (Paulo Tostes), Literatura e outras Manisfestações (Ailton Augusto) e História e Sociologia da Leitura (Raphael Reis).
Por fim, desejamos a todos os leitores um excelente 2013 e esperamos por vocês nas próximas seleções e participação em nossas postagens.
 


Editores:

Aílton Augusto
Graduando em Letras pela UFJF

Paulo Tostes
Doutor em Literatura pela UFF
Mestre em Literatura pela UFJF
Graduado em Letras pela UFJF

Raphael Reis
Mestrando em Educação pela UFJF
Especialista em Políticas Públicas
Graduado em História pela UFJF