sábado, 26 de março de 2011

"Poesia e Poema"

Sobre o que distingue a poesia do poema, vale destacar que se trata de questões que, embora sinônimas, apresentam diferenças que perpassam não apenas uma perspectiva teórica, segundo determinados estudos, como também a época em que se analisaram tais estudos.
Na Grécia Antiga, por exemplo, o poema foi a forma predominante na literatura e se confundia com esta. Não havia ainda o romance que surgiria séculos, mais tarde, com a ascensão burguesa para retratar sua condição social. Na Antiguidade, o lírico, o dramático e o épico eram escritos em forma de poesia, passando esta, com o tempo, a ser compreendida e relacionada apenas ao gênero lírico, ao eu, aos sentimentos do poeta. Mas, na visão clássica, a poesia tinha uma forma fixa: seus versos eram metrificados, ou seja, levavam-se em conta os acentos, a contagem silábica, o ritmo e as rimas, sendo isso a tal ponto valorizado que fora dessa “forma” não seria possível conceber um texto como poesia.
No entanto, hoje, o que se entende por poesia e poema? Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Hollanda, a poesia tem um caráter daquilo que emociona e afeta a sensibilidade de quem a lê, provocando emoções por meio de uma linguagem; já o poema é o texto em verso, em que há poesia. Para o estudioso Pedro Lyra: "Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existe per si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primariamente naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta."
Vejamos, por exemplo, a visão do ensaísta e poeta T. S. Eliot (“A essência da poesia: estudos e ensaios”): "[...] A poesia pode ter um significado social deliberado e consciente. [...] Podemos observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter para o povo da mesma raça e língua do poeta um valor que não tem para os outros. [...] nenhuma arte é mais obstinadamente nacional do que a poesia [...] a poesia que é o veículo do sentimento". E arremata: "A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis". E como tarefa de poeta, Eliot defende que primordialmente e sempre se leve a efeito uma revolução na linguagem, articulada com musicalidade de imagens e de sons. Já para o téorico e também poeta Ezra Pound: "Cada homem é o seu próprio poeta", defendendo que ninguém será um poeta escrevendo hoje com um jeito de anos atrás e que a linguagem deve ser usada com eficiência.
Bom, como se pode ver, estamos diante de uma questão que é bastante ampla. Mas, de forma geral, consideremos a poesia como o caráter imaterial e transcendente, e que também diz respeito ao conjunto de uma obra, enquanto o poema é a forma como esta se desdobra.


sábado, 12 de março de 2011

Conto: Encontro Literário, de Raphael Reis

Encontro literário

O sonho, gerador de desejos para uns e momento de contato com a pátria espiritual para outros, levou-me a um encontro literário, diferente, confesso. O leitor poderá confirmar sua validade.
Era um local que exalava intelectualidade, humor, crítica ou simples divertimento – não podia ser diferente, na medida em que ali se encontravam vários escritores conhecidos. Era um local que parecia uma espécie de café cultural. Não deu para ver a entrada, já estava dentro do recinto.
No balcão, uma bela moça me atendeu. Chamava-se, se não me engano, Amanda C., detentora do mais belo sorriso que já vi. Pedi um café expresso, olhei para as mesas – experiência única.
Pode me invejar, amigo leitor. Lá estavam vários escritores. A mesa que mais me chamou atenção foi a composta por Miguel de Cervantes Saavedra, Machado de Assis e Jorge Luis Borges. Também, não poderia ser diferente.
Peguei meu café e fui em direção à mesa. A mesa em que estavam era de ferro, desenhado, em sua superfície, os quadrados (preto e branco) do jogo de xadrez. Todos os três estavam acompanhados de uma xícara de café e, entre um gole e outro, conversavam.
De nada vai acrescentar em nossa narração, mas tenho que dizer, pois foi curioso notar que Machado insistia em usar, mesmo fora de moda, sua espessa barba. Mas sem problemas, continuava a ser um gênio!
Não preciso dizer que de um encontro reunindo três grandes escritores desse porte, no mínimo, sairia algo agradável e produtivo. Não quis incomodá-los com minha presença. Sentei-me em uma mesa próxima e fiquei a observá-los, assim como na tentativa de escutá-los.
A obra da vez era El Ingenioso Caballero Don Quijote de la Mancha. Cervantes passou detalhes aos amigos sobre a elaboração da obra que levou muito tempo e dedicação. Disse que depois de algumas leituras, os capítulos de que mais gostava eram os que narravam as habilidades de Sancho Pança quando finalmente conseguiu governar sua tão sonhada ínsula. Comentou sobre a repercussão do primeiro volume, sobre a edição apócrifa e a publicação do segundo volume. Ficara extremamente contente por ter inaugurado algo novo e que influenciou vários escritores.
 No entanto, tenho para mim que Borges conhecia mais a obra do que o próprio Cervantes. Fez comentários das erratas, comentários sobre os comentários do próprio Cervantes, das dezenas de traduções que leu, dos mínimos detalhes históricos e linguísticos, dos livros que Cervantes leu para compor sua narração, detalhou Avellaneda – coisas de que o próprio Cervantes já não se lembrava mais e talvez até desconhecia.
Machado de Assis, aproveitando a perplexidade de Miguel de Cervantes ao escutar o discurso circular hipnotizante de Borges e lembrando-se de Pierre Menard, completou: “sinceramente, tenho uma dúvida – não sei se Quixote gerou Borges, ou se foi este que foi seu autor”.
Todos os três sorriram. Tomaram mais um gole de café – pó produzido nas verdejantes fazendas mineiras – e passaram à loucura.
Ao aproveitar a descontração, Machado de Assis brincou com Cervantes que a cura de Dom Quixote estaria na Casa Verde e que ele seria um hóspede dos mais importantes e inusitados para o estudo do Dr. Simão Bacamarte, pois nele estaria, numa mesma pessoa, a causa e o antídoto da loucura.
Cervantes disse que seria improvável alguém curar Dom Quixote a não ser ele próprio, como de fato aconteceu, pois percebeu que os valores da nobreza medieval já não mais existiam, ou só existiam nas famosas lendas e sua lucidez o deixou melancólico. Em outro viés, Bacamarte concluiu que a loucura humana era a perfeita sanidade mental. Desta forma, encontraria em Alonso Quixano uma companhia e não ficaria na Casa Verde sozinho, no final das contas.
Machado de Assis concordou com um leve balançar de cabeça. Tomaram o último gole de café.
Enquanto Cervantes e Machado conversavam, Borges ficou imerso em seus pensamentos. Reparei que desde o começo do bate-papo entre Machado e Cervantes, Borges pegou uma folha amassada do bolso e começou a escrever com sua caneta prata de fabricação inglesa, este último objeto presente da amiga Silvina Carrizo. Como se estivesse sozinho na mesa, fez várias anotações com uma rapidez que me impressionou.
Cervantes e Machado, reparando no silêncio de Borges e seu movimento de escrita, perguntaram o que estava escrevendo. Borges, após alguns minutos de silêncio, guardou a caneta, passou a mão pela folha, desamassando-a, e mostrou aos amigos.
Da minha cadeira fiquei extremamente curioso para ler – já imaginou, leitor, você ser o primeiro a ler um escrito inédito de Borges e principalmente feito naquela situação?
Tentei de todas as formas ler o que Borges tinha escrito. Contudo, só pude ler o último trecho, a letra também não ajudava muito.
Recordo-me que dizia algo parecido como: “[…] y por fin, todos lo sintieron que estaban siendo vistos y analizados. Entendieron, entonces, que aún formaban parte del universo”.
O despertador tocou.

Para o Grupo Prazer da Leitura
01/12/2009


Autor: Raphael Reis (É especialista em Política Públicas e graduado em História, ambas as formações pela UFJF. É colaborador do Grupo Prazer da Leitura http://www.grupoprazerdaleitura.blogspot.com/ e editor da Revista Encontro Literário).
Contato: raphaeloliveirareis@yahoo.com.br

Informações sobre o Concurso Literário do edital 01/2011

Prezados,

É com muita alegria que comunicamos que a Revista Encontro Literário recebeu em seu primeiro edital 24 poesias e 20 contos. Participaram escritores de várias localidades, tais como: Juiz de Fora (MG), Goiânia (GO), Pirapetinga (MG), Americana (SP), São João del-Rei (MG), Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ), Kraków (Polônia) e Distrito Federal (DF).

A comissão julgadora começará, em breve, a análise das produções literárias. O resultado da seleção dos 3 contos e das 5 poesias sairá em maio.

Agradecemos a participação de todos.

Atenciosamente,

Rafael Laguardia
Raphael Reis

sábado, 5 de março de 2011

Construção do Conto

"Costumam nascer através de uma espécie de revelação, sendo gradual essa revelação. É evidente que quando se escreve um conto - e isto é imprescindível - deve-se saber de antemão o princípio e o fim. Não posso conceber que se comece a escrever um conto sem se saber como se vai concluí-lo. O que sucede entre o início e o fim tem-se que imaginar. É uma espécie de sonho voluntário."

"O conto deve ser escrito de modo que o leitor espere continuamente algo, que haja uma expectativa, de um modo que possa ser inesperada, ou, em todo o caso, que possa parecer estranho e nunca um capricho do autor, mas algo inevitável. Se puder ser inesperado e inevitável, melhor." (Jorge Luis Borges)


"É melhor não dizer o suficiente que dizer demais.” (Anton Tchekov)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Espacio Hispanófono UFJF

Hermanitos y hermanitas,

Segue abaixo um espaço para os professores e estudantes de espanhol. Neste site vocês poderão ouvir, ao vivo, 4 radios da Espanha, e assim aperfeiçoar o seu espanhol, além de encontrar artigos.

http://espaciohispanofonoufjf.blogspot.com/