quinta-feira, 30 de agosto de 2012

No apagar das luzes de agosto: comentário sobre o centenário de Nelson Rodrigues através de dois mitos revisitados

O ano de 2012 tem sido pródigo em comemorações para os amantes da Literatura Brasileira: 110 anos de Carlos Drummond de Andrade (lembrados pela homenagem recente na Flip), 120 anos de Graciliano Ramos (a serem celebrados - talvez - em outubro) e, neste mês de agosto que vai findando, os centenários de nascimento de três escritores - Jorge Amado, Lúcio Cardoso e Nelson Rodrigues.

Embora a revista tenha dedicado algumas linhas aos dois primeiros, a efeméride do dramaturgo (23/08) nos passou em branco, sem uma postagem que deixasse registrado que nos lembramos da data. Não vou me alongar fazendo o mea-culpa de sempre e que os habitués deste espaço já conhecem. Falemos de Nelson Rodrigues; será mais proveitoso.

Ao invés de brindar aos leitores dados biográficos ou uma lista de obras do autor, coisas que, suponho, poderão ser encontradas com facilidade na rede, optei por falar do escritor através de dois mitos que rondam a sua figura. Bom, os mitos que eu conheço ou ouço falar, obviamente e que podem parecer obviedades ululantes a muita gente. É uma abordagem pouco convencional talvez, mas ganha uns pontinhos em sinceridade e espero que desperte um mínimo de interesse.

Mito n° 1. Nelson Rodrigues não é um autor para crianças, mocinhas casadoiras ou pessoas "de família".

Parte dessa opinião deriva do choque causado pelo modo algo cru com que o autor retratou certos temas e problemas da vida doméstica, focalizando muitas e repetidas vezes as taras e desejos que convém, por amor às aparências, esconder. Além disso, o teatro, as crônicas e demais textos de Nelson Rodrigues não são "para rir", como muitos costumam esperar na terra brasilis.

Em entrevista de 1973, concedida ao Jornal Última Hora, o autor reage à posição da censura, que vetava ou impunha cortes às suas obras sob a alegação de que elas induziam ao sexo e à violência, posição que o "senso comum" endossa(va). Diz o autor: "Não inventei nenhum dos dois. O sexo e a violência existem e aí estão para quem quiser confirmar (grifo meu). Se tomarmos ao pé da letra esta afirmação dos egrégios censores, tudo poderá ser proibido; assim, Branca de Neve poderia induzir à dissolução da família e à violência, o Pequeno Polegar poderia induzir ao homicídio ou à violência dos menores contra os maiores."

Em tempo: no ano de 1996, quando foi posta no ar pela primeira vez a adaptação televisiva de A vida como ela é (que a Rede Globo começou a reprisar no último domingo, 26/08, diga-se de passagem) eu era apenas um menino de 10 anos de idade. Mandamento óbvio à criança que eu era: saia da sala. Desnecessário dizer o quanto esse tipo de coisa influi na formação de alguém.

Mito n° 2. Diagnosticando o "complexo de vira-latas", o autor criou um paradigma na cultura nacional

Em 1958, em uma crônica esportiva publicada antes do embarque da seleção brasileira para a Copa do Mundo da Suécia, o jornalista Nelson Rodrigues defendia a seguinte (e incômoda) posição:

Por "complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. 
Essa assertiva se relacionava, segundo consta, com a histórica derrota do escrete canarinho na final da Copa de 1950, ocorrida em pleno Maracanã. Embora Nelson destaque que esse "complexo" se manifesta "sobretudo, no futebol", é justo aí onde menos se fala no assunto. Para as gerações mais novas (de novo o escrevo de modo inclusivo), o Brasil é (ou deveria ser) de fato o país do futebol. Não precisa, portanto, se colocar em posição de inferioridade perante a outros países. Temos cinco títulos mundiais, não sei quantas Copas América, somos berço de craques (e de outros não tão craques assim, mas isso é outra história) e, como diz a música¹, quando o assunto é futebol  "a vida fica lá fora".

Mas, no caso da radiografia levantada por Nelson Rodrigues, a polêmica foi bem além das quatro linhas e se tornou questão de honra para o país vencer o "complexo de vira-latas" e, como diz outra canção², "dar a volta por cima", conforme pode ser lido nesta reportagem da Veja, a qual cito sem levantar juízo de valor a respeito do jornalismo feito no país. Apenas acho o texto ilustrativo do que estou comentando aqui. Com a  mesma disposição de espírito, recomendo aos leitores este outro texto aqui: http://placar.abril.com.br/copa-do-mundo/uruguai/obdulio-varela/materias/n-rodrigues-e-o-complexo-de-vira-latas-benedetti-e-a-maracanizacao.html

Estou dizendo que as discussões em torno ao "complexo de vira-latas" constituem um mito que tangencia o autor em causa porque elas tomaram uma proporção que o próprio escritor talvez não tenha previsto ao redigir sua crônica esportiva há mais de meio século atrás.

Não vou alongar-me muito mais. O fato é que a figura de Nelson Rodrigues sempre se viu cercada por polêmicas, sobretudo por conta dos aspectos pouco elogiáveis de nossas personalidades que ele fazia questão de ressaltar em suas obras, aí incluído o tal "complexo de vira-latas". Desconfio que muitos (eu próprio, inclusive) conhecem apenas o personagem Nelson Rodrigues, mantendo distância ou pouco contato com a produção do autor e sem receber grandes estímulos para isso. Aliás, pode ser que o escritor Nelson Rodrigues tenha contribuído, ele próprio, para a construção de uma mitologia ao seu redor.

Como afirma Yan Michalski em crítica de 1967, "depois do escândalo literário provocado, na época, por "Álbum de Família", o autor pouco mais tem feito do que procurar manter incólume a imagem que a opinião pública formou a respeito dele, continuando a indignar aqueles que se sentiram indignados com 'Álbum de Família' e continuando a corresponder à admiração daqueles que admiraram 'Álbum de Família'." (grifos meus)

No mesmo texto, Nelson é definido como autor com "talento para o desmedido", dotado de uma "exuberante imaginação para a criação do detalhe monstruoso" e de um senso de humor particular, "baseado na exaltação do grotesco". Independente dos atributos, Nelson Rodrigues é um autor que merece ser lido e suas peças deveriam ser postas em cena mais vezes. Existem mitos demais e preservação da obra e da memória de menos em torno da sua figura.

Notas:

1. Aqui é o país do futebol, de Milton Nascimento e Fernando Brant.
2. Volta por cima, de Paulo Vanzolini

Créditos: 

* da foto de Nelson Rodrigues exposta aqui: http://www.globoteatro.com.br/bis-1282-nelson-rodrigues.htm
* das entrevistas e críticas citadas: http://www.nelsonrodrigues.com.br/ 

sábado, 25 de agosto de 2012

A Bíblia do Diabo: sua história


A Bíblia do Diabo: sua história

Raphael de Oliveira Reis[1]

 

Desde que eu comecei a me interessar em pesquisar a tríade “Leitor-Livro-Leitura”, especificamente as práticas sociais da leitura e as políticas públicas do livro e leitura, um tema referente ao livro me chamou muita atenção: o Códex Gigas, ou melhor, A Bíblia do Diabo. Com um nome tão impactante como este, por apresentar uma oposição, o fascínio não poderia ser diferente.

Comecei, então, a buscar possíveis fontes sobre o Códex Gigas, visto que o único material que eu tinha até o momento era um documentário da National Geographic (Cf. http://www.youtube.com/watch?v=waNmAOpOclc). Contudo, a minha pesquisa, por enquanto, não foi bem sucedida, pois só encontrei duas referências em idiomas que eu não domino, a saber: Bártl, S., Kostelecký, J. Ďáblova bible. Tajemství největší knihy světa, Paseka, 1993 e J. Belsheim, Die Apostelgeschichte und die Offenbarung Johannis in einer alten lateinischen Übersetzung aus dem 'Gigas librorum' auf der königlichen Bibliothek zu Stockholm (Christiana, 1879).

Como as dificuldades e ausência de informações mais sistematizadas são também resultados e dados importantes, percebemos que a historiografia ainda não se interessou por tal manuscrito, já que não encontramos trabalhos acadêmicos a respeito. Enfim, a história de manuscritos e livros nos parecem não despertar tanto interesse aos pesquisadores.

Assim, já aponto ao nobre leitor de nossa revista que este artigo não oferece uma informação sistematizada, confiável a nível de ser explorado como gostaríamos que fosse. Por outro lado, o nosso intento é divulgar a história de tal manuscrito, através da lenda que circunda o Códex Gigas, até os dias de hoje, bem como refletir sobre alguns aspectos.

A Bíblia do Diabo, em seu formato nada tradicional, sendo o maior livro do mundo, tem 90 centímetros de altura, 50 de largura e 22 de espessura; é oconstituído por 310 páginas e pesa nada mais nada menos que 75 quilos.O seu conteúdo é preenchido por uma cópia da vulgata, histórias antigas, ladainhas de encantamento e receitas de curas medicinais e a infame iluminura de um diabo, na página 210.
 
 

A Bíblia do Diabo foi criada no ano de 1230, na Idade Média, e teria sido obra de um monge beneditino da região de Podlazice, o qual teria vendido sua alma ao diabo, no intuito de terminar sua penitência, por ter cometido um grande pecado. Caso não terminasse seria emparedado vivo.

O monge, cujo nome não sabemos, bem como não há a identificação de qual seria o grande pecado, prometeu o impossível: glorificar o monastério com o maior e mais glorioso livro do mundo, o qual conteria toda a sabedoria do mundo, em um único dia. Porém, essa tarefa logo se mostrou impossível. Então, evocou as forças malignas para ajudá-lo com a contrapartida de dar sua alma em troca. Assim o monge livrou-se do castigo.

É notório que o começo dessa lenda já nos revela um paradoxo: ao vender sua alma para garantir a existência terrena, o monge perderia sua vida mais sagrada, a eterna, sendo essa uma das grandes preocupações dos homens medievais, principalmente tratando-se de um religioso. Mas, continuemos nos rastros da lenda, pois há alguns pontos instigantes.

O mosteiro beneditino de Podlazice entrou em crise financeira, tendo que vender sua preciosidade. O mosteiro cisterciense de Sedlec o comprou, como objeto de grande prestígio. No entanto, este monastério também passou por uma profunda crise financeira.

De 1477 a 1593 ficou sob os cuidados da biblioteca de um monastério de Brumov, até ser levado para Praga, pelo Rei Rodolfo II, que era fascinado pela história do códex e há muito o cobiçava. Rodolfo passa a ter uma obsessão pelo manuscrito. Segundo os relatos, todo o dia ficava horas e horas trancafiado em sua biblioteca, lendo-o. Tornou-se antissocial, não se casou, não teve herdeiros, repetia fórmulas em latim de exorcismo ao andar por seu castelo, enfim, ficou transtornado. Seu país foi assolado pela peste, seu governo caiu, em 1648 e, por fim, foi saqueado pelas tropas suecas, a qual levou o códex como um de seus troféus.

Na Suécia, na cidade de Estocolmo, nasce uma garotinha de nome Cristina, filha do Rei Gustavo II, a qual fora criada pelo pai como se fosse um menino. Cristina toma o trono mais tarde como um rei e, não como uma rainha. Uma de suas medidas foi transferir o códex para a biblioteca de seu castelo. Anos mais tarde se converteu ao catolicismo e foi embora de Estocolmo. Renuncia ao trono e consigo leva todas as edições da bíblia que havia em seu castelo, menos o códex gigas. Em 1697 há um catastrófico incêndio no castelo e o único livro a sobreviver foi A Bíblia do Diabo...

Conforme alguns estudiosos é certo que o manuscrito, o único a conter um diabo desenhado em uma de suas páginas, foi escrito por uma só pessoa, pois há uma inalterância da caligrafia ao longo do livro e uma única tinta usada, extraída de insetos. Conforme alguns cálculos, ele deve ter levado de 20 a 25 anos, para que pudesse ser completado e que fora, provavelmente, uma tarefa de penitência.

O grande mistério que envolve tal livro, é por este conter o desenho de um diabo numa folha inteira, é resolvido num passar de folhas, já que do outro lado há um majestoso Reino do Céu, que revela a luta continua entre o bem e o mal.
 

E você, nobre leitor, acha que o Códex Gigas pode ter influenciado nos acontecimentos mencionados? Gostaria de tê-lo em sua casa?

Para mim fica o sentimento do maravilhoso, de saber que tal manuscrito influenciou as crenças e comportamentos de sociedades ao longo destes 800 anos, além de despertar grande interesse àqueles que conhecem sua lenda. E hoje, o livro está exposto na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo, para visitação.
 



[1] É Mestrando em Educação (UFJF), Especialista em Políticas Públicas (UFJF) e Graduado em História (UFJF). Trabalha como Professor de Suporte Acadêmico no Caed-UFJF, Professor de Ciências Humanas no Projovem, Editor na Revista Encontro Literário, Assessor Político (é Jucelio 40 013 para vereador em Juiz de Fora) e Consultor na área de Formação do Leitor e Formação Política.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Em louvor de Lúcio Cardoso: a casa assassinada em livro e imagem

Hoje, 14 de agosto de 2012, comemora-se o centenário de nascimento de Lúcio Cardoso. Como revista dedicada à Literatura, nos compraz falar desse tipo de efeméride, embora seja forçoso reconhecer que o autor em pauta é bem menos "badalado" que Jorge Amado e Nelson Rodrigues, outros escritores que também estariam completando um século de vida neste mês de agosto. Nem ouso compará-lo, então, com os medalhões da MPB que vão chegando aos 70 anos também em 2012.

Ao redor deste escritor mineiro paira o mito de que ele é "mais estudado na Academia que lido fora dela", o que talvez seja verdade nestes tempos de pouca leitura e busca de conforto nos braços da autoajuda. O que contribuiu para esse ostracismo foi a marcada diferença existente entre o autor e seus contemporâneos. Se de Jorge Amado pode-se dizer que pintou (e fixou) em romances épicos o jeito de ser e os costumes baianos, de Lúcio temos a constatação de que ele tentou, ao contrário, demolir Minas Gerais, atacando os valores encarnados na família mineira: casamento, zelo da reputação, contenção dos desejos sob a influência do catolicismo.

Lúcio Cardoso não esteve comprometido com um projeto literário focado no social e sim no adensamento da investigação ontológica. Dizendo de outro modo, ele também tentou, à sua maneira, contribuir para a definição da identidade do Brasil na primeira metade do séc. XX, porém, apontou com suas obras para as contradições, receios e jogos de máscaras da nossa sociedade.

Sua obra mais aclamada é Crônica da casa assassinada, de 1959. Há pouco mais de meio século desfilam por suas páginas um grupo de personagens sombrios e torturados, que se mostram nos quadros fragmentários de que se compõe a narrativa. Cartas, trechos de diários e depoimentos recopilados por um investigador nas sombras ajudam a contar a história dos Meneses, uma tradicional família mineira que vai se desagregando sob a influência de Nina, mulher da cidade que se casa com Valdo Meneses, membro do clã.

Como o objetivo da minha coluna na revista não é somente louvar as personalidades literárias do nosso meio, faço aqui a ponte com um filme que se baseou no romance em referência. Dirigido por Paulo Cesar Saraceni e roteiro adaptado pelo próprio Lúcio Cardoso antes de falecer, estreou em 1971 o filme A Casa Assassinada, que transpõe para as telas ao longo de 103 minutos o essencial da obra cardosiana, com destaque para as atuações de Norma Bengell no papel de Nina e de Carlos Kroeber no papel de Timóteo, um dos irmãos de Valdo e "ovelha negra" da família, assombroso em sua obesidade acomodada em trajes femininos de uma avó do clã dos Meneses. O longa metragem conta com trilha sonora composta pelo maestro Antônio Carlos Jobim. Acima apresento a imagem do cartaz do filme e, à falta de um trecho do mesmo, termino essa postagem com um vídeo em que a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo executa parte da obra composta por Jobim para a película.


PS: Abaixo uma breve apresentação de outras obras de Lúcio Cardoso. 

Maleita (1934)
Primeira obra do autor, escrita aos 16 anos. O título refere-se à doença endêmica na região do rio São Francisco

Salgueiro (1935)
A ação se passa no morro carioca homônimo e trata da miséria de três gerações de habitantes do lugar

A luz no subsolo (1936)
A loucura que se abate em um casal depois da chegada, em sua casa, de uma nova empregada

Dias perdidos (1943)
Trata da trajetória de Silvio, que parte de Minas Gerais para o Rio de Janeiro após a morte dos pais

Inácio, O enfeitiçado e Baltazar (esta última, inacabada) (1944, 1954 e 2002, respectivamente)
Três novelas centradas no personagem Inácio, que convive com alcoólatras, prostitutas e assassinos de aluguel


PS (2): Segue também uma relação (bem resumida) de títulos mais novos dedicados à avaliação crítica da obra do autor.

* O riso escuro ou o pavão de luto: um percurso pela poesia de Lúcio Cardoso. Prefácio de Ruth Silviano Brandão. São Paulo, Edusp/Nankin, 2006. - de Ésio Macedo Ribeiro

* Lúcio Cardoso: Paixão e Morte na Literatura Brasileira. Maceió: Edufal, 2004 - de Enaura Quixabeira Rosa e Silva

* Espaços de memória: uma leitura de Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso. São Paulo: Nova Alexandria, 2002. - de Marta Cavalcante de Barros

domingo, 12 de agosto de 2012

Clarice Lispector: a Fênix das palavras

Quando se trata de Clarice Lispector e de sua obra, não resta dúvida que se está diante de uma autora genial, pois as questões trazidas por essa escritora ucraniana, de origem judia, e que chegou ao Brasil com apenas dois meses de idade, toma conta do ser, pensando-se no sentido heideggeriano: uma luta da escrita contra o tempo e a morte, que transforma em “absoluto” o instante mais fugaz da existência...
É por autores como ela que a literatura no século XX passou a ser uma iniciação e uma aprendizagem. O próprio ato de escrever, para Clarice Lispector, revela uma consciência profunda da experiência humana, ao mesmo tempo em que é perpassado por uma perspectiva mística e singular.
Nesse sentido, é significativa a própria escolha de seus títulos, envoltos pela dimensão do corpo, do amor, da escuridão, da perplexidade e do esplendor... Bastar lembrar algumas de suas obras imperdíveis a todo bom leitor, como: Perto do Coração Selvagem, A Paixão segundo G.H., A Maçã no Escuro, Água Viva, Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Visão do Esplendor, entre outros.
Clarice não traz em sua escrita uma solução para os dramas existenciais de seus personagens e muito menos os apresenta em um conflito convencional, ela intensifica esses dramas, conforme a particularidade psicológica e social de cada personagem, como ocorre, por exemplo, com a protagonista de A Hora da Estrela em suas variadas faces de opressão.
Ler Clarice significa um turning point inimitável, pois ela faz do instante uma revelação ou no sentido empregado por Joyce: uma epifania da fluidez inapreensível do real, recuperada pela arte.
É nessa perspectiva que a obra de Clarice Lispector vai além da própria leitura, é um mergulho tão abrupto que é impossível ficar indiferente diante de seu texto. A força da sua linguagem e a intensidade das emoções de seus personagens é um convite a desvendar a todo o momento o ser humano que se manifesta em nós, certo, contudo, de que a cada descoberta se oculta outro ser, como diria Heidegger...

sábado, 11 de agosto de 2012

Seleção de Poesias: Edital 04-2012



Edital 04 - 2012 (Poesia)

A Revista Encontro Literário, inscrita no ISSN 2237-9401, tem como objetivo fomentar a produção literária, bem como estimular o prazer da leitura. Para isso, publicaremos dois editais: o do primeiro semestre será dedicado ao gênero Conto e o do segundo semestre ao gênero Poesia.


REGULAMENTO

Art. 1º – A Revista Encontro Literário, por meio deste edital, abre inscrições para a publicação de Poesias, com temática livre.

§ 1º – As inscrições são gratuitas.
§ 2º – Ao se inscreverem, todos os candidatos aceitarão automaticamente todas as cláusulas e condições estabelecidas no presente regulamento.

Art. 2º - Será considerada somente a participação de pessoas com idade de 15 anos adiante.

Das inscrições

Art. 3º – O edital é aberto a todos os interessados, desde que o texto seja escrito em língua portuguesa.

Art. 3º – As inscrições serão realizadas através do e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br, no período de 11 de agosto a 20 de setembro de 2012.

Parágrafo único – Não serão aceitos textos discriminatórios, pornográficos ou que façam apologia às drogas.

Art. 4º – Cada participante pode se inscrever com 1 (uma) produção literária. As poesias devem ser inéditas, ou seja, que ainda não tenham sido publicados em livros, jornais ou outros meios.

§ 1º – As poesias devem ser enviadas em arquivo Word (preferencialmente versão 2003), para o e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br, com pseudônimo e título.

§ 2º - Em arquivo separado da obra, devem ser enviadas as seguintes informações: título da obra, pseudônimo, nome completo, endereço completo, telefone de contato e e-mail, bem como uma mini-biografia.

§ 4º - Os trabalhos devem ser digitados em editor de texto eletrônico Word (preferencialmente versão 2003), conforme as seguintes configurações:

a) Fonte Arial ou Times Roman, tamanho 12;

b) Espaçamento entre linhas de 1,5 cm.

c) Cada poesia não deve exceder o limite de 02 (duas) laudas.


Art. 5º – Serão selecionadas 5 (cinco) poesias, para publicação no site da Revista Encontro Literário, inscrito no endereço www.revistaencontroliterario.blogspot.com

§ 1º – Ao enviar as produções literárias, o participante tem a plena consciência de que autoriza a Revista Encontro Literário a publicar suas obras sem nenhuma espécie de ônus para a Revista.

Premiação

Art. 1º - Os autores que tiverem suas poesias selecionadas para publicação receberão como prêmio:

a)    1 (um) exemplar da obra Cem Sonetos de Amor, de Pablo Neruda.

Da comissão julgadora

Art. 6º – A Comissão Julgadora é composta pelos editores e colaboradores da Revista.

Parágrafo único – A Comissão Julgadora terá autonomia no julgamento, isto é, a decisão da comissão é irrevogável.

Do resultado

Art. 7º – O resultado do Concurso será divulgado, em outubro de 2012, no site www.revistaencontroliterario.blogspot.com. A publicação das obras selecionadas acontecerá no mesmo mês.

Das disposições finais

Art. 8º – Os casos omissos serão decididos pelos Editores da Revista.

Juiz de Fora, 11 de agosto de 2012.

Editores

Aílton Augusto

Paulo Tostes

Raphael Reis

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jorge Amado: "o baiano de todos os santos"

Bastante caracterizada por um tom social, a obra de Jorge Amado (1912-2001) é permeada pelo imaginário sensual, religioso e multicultural. Eis a combinação que o escritor baiano tão bem imprimiu em suas dezenas de romances publicados em diversas línguas, aliás, dos grandes escritores da Academia Brasileira de Letras - ABL, é o que mais foi traduzido no exterior. Com uma literatura que apresenta ao mesmo tempo a temática da sensualidade em meio a uma crítica da sociedade brasileira, sobretudo da sociedade baiana ao longo do século XX, J. Amado, desde o início de sua produção, envolveu-se com a ideologia marxista, procurando destacar em seus enredos os conflitos em torno das relações entre o trabalho e o poder, juntamente com os apelos à sensualidade. Assim, na sua primeira fase, romances como O País do Carnaval (1931), o primeiro, Cacau (1933), Suor (1934) e Jubiabá (1935), o mais engajado politicamente, foram inspirados junto a trabalhadores e grupos marginalizados da Bahia, que se redimiam buscando uma consciência sobre a luta de classes. Posteriormente, abandonanado as teorias acerca do proselitismo político, J. Amado se voltou mais para a arte literária, mantendo em destaque o clima sensual em que viviam os personagens que construía e mergulhando mais na cultura popular. Nesse sentido, destacam-se Gabriela, Cravo e Canela (1958), com uma nova versão para a telenovela da Rede Globo, agora em 2012, Dona Flor e seus Dois Maridos (1966) e Tieta (1977). Com todo essa produção, para citar apenas algumas de suas obras mais famosas, e que acabaram indo para as telas da TV e do cinema, J. Amado, ainda assim, nunca foi um consenso entre os críticos, chegando a ser visto como um escritor muito comercial, pouco erudito e até panfletário diante de sua adesão ao Partido Comunista. De qualquer forma, não há como negar que ao serem comemorados os 100 anos de nascimento do grande escritor baiano, agora no dia 10 de agosto de 2012, a sua literatura serviu, em décadas passadas, como uma "iniciação" sobre a cultura brasileira para muitos estrangeiros, tornando-se o imaginário de sua obra uma leitura que acabou contribuindo para identificar certa visão do Brasil, ainda presente nos dias de hoje. Enfim, rejeitado por alguns ou querido por outros, Jorge Amado não deixa de ser o "baiano de todos os santos" e um dos grandes escritores de toda literatura brasileira...

sábado, 4 de agosto de 2012

Nova geração debate literatura contemporânea

Alvo de inúmeras teorias, a literatura contemporânea esquiva-se de padrões e formatos. Convergentes em um aspecto, os debates sobre a produção literária brasileira atual defendem a multiplicidade como marca dessa nova geração. Reunindo alguns dos importantes nomes que surgiram nas últimas décadas, a livraria A Terceira Margem estreia hoje o projeto Ave, Palavra - Encontros de literatura contemporânea. Aprovada pelo edital de Programação Cultural em Livrarias, do Ministério da Cultura, e financiada pelo Fundo Nacional de Cultura, a livraria - única contemplada da região - promoverá debates entre escritores representativos dessa nova safra, além de oferecer oficinas gratuitas à população.
"Nos nove encontros, que acontecerão até dezembro, convidados de outras cidades e autores locais falarão sobre suas trajetórias e a produção literária atual", explica a jornalista e proprietária da livraria, Izaura Rocha. Os escritores Luiz Ruffato e Iacyr Anderson Freitas se encontram na abertura do projeto. Expoentes de uma geração literária que efervescia na cidade nos anos 1980, sempre aberta ao diálogo produtivo das revistas "D'Lira" e "Abre Alas", Ruffato e Iacyr, embora tenham se enveredado por gêneros distintos, assumiram o compromisso com um fazer literário engajado.
"Além de partilharmos a amizade, temos o mesmo foco em relação às estimas literárias. Autores capitais para mim, tanto na poesia quanto na prosa, são os mesmos admirados por ele", pontua Iacyr. "É quase inevitável que tenhamos esses mesmos gostos e interesses, já que começamos juntos, em um momento muito rico da cidade. Mas é interessante o fato de que a vida não tenha nos levado para caminhos diferentes. Continuamos participando efetivamente da carreira e da vida um dos outros", acrescenta Ruffato.
O debate abre caminho para que a nova geração, cuja produção se inicia neste milênio, também pense e reflita sobre seus próprios fazeres literários. "Juiz de Fora tem uma tradição literária muito forte, contando com nomes como Pedro Nava, Murilo Mendes, Affonso Romano de Sant'Anna, Rachel Jardim. A cidade tem a literatura no sangue. A nova geração vem trazendo livros surpreendentes, ricos em conteúdo, que já prometem muito para um futuro recente", avalia Iacyr.

Caminhos ora paralelos, ora convergentes
Jornalista formado pela UFJF, Ruffato iniciou-se nos versos, e, após alguns anos trabalhando em jornais, partiu para a prosa. Ensaiando a temática do proletariado, escreveu "Maio", presente no livro de poemas "Cotidiano do medo", de 1984. "Eles eram muitos cavalos" lhe rendeu, em 2001, o Prêmio Jabuti e fama internacional. Com o que chama de "primeira ideia" do que desejava construir como literatura, veio o projeto "Inferno provisório", iniciado em 2005, com "Mamma, son tanto felice" e "O mundo inimigo". Depois de "Vista parcial da noite", de 2006, e "O livro das impossibilidades", de 2008, Ruffato concluiu a pentalogia em 2011, com o romance "Domingos sem Deus", um dos indicados ao prêmio Portugal Telecom de Literatura desse ano. A obra, recebida com entusiasmo pela crítica nacional, será autografada no evento.
Lançando-se, esporadicamente, na área do ensaio, da ficção e da literatura infantojuvenil, Iacyr sempre se apoiou no terreno na poesia. Formado em engenharia pela UFJF, o autor publicou dezenas de obras, a maioria em versos. Entre seus prêmios, destaca-se a menção-honrosa recebida no prêmio literário Casa de las Américas, em 2005, com o livro de contos "Trinca dos traídos", publicado no ano anterior. Lançado em 2010, "Viavária" - que também será autografado no evento - é considerado pela crítica uma das grandes obras da poesia contemporânea brasileira.

Reflexões sobre a escrita contemporânea
O projeto Ave, Palavra contará ainda com a presença de Tatiana Salem Levy (18/8), Ana Paula Maia (1/9), Santiago Nazarian (15/9), Paulo Scott (6/10), Ramon Mello (20/10), Cecília Giannetti (3/11), Carola Saavedra (17/11) e o pesquisador e ensaísta Nelson de Oliveira (1/12), autor da antologia "Geração zero zero", que encerra o evento traçando um panorama da atual produção literária nacional. "O cenário editorial brasileiro é hoje mais vasto e dinâmico que no final do século XX", destaca Nelson de Oliveira, na apresentação de sua obra. "Carola Saavedra e Tatiana Salem Levy fazem parte da primeira edição nacional da revista britânica 'Granta', lançada este mês, que aponta os 20 melhores jovens escritores brasileiros", destaca Izaura Rocha.
Com a proposta de trazer a reflexão sobre essa literatura para o contexto da cidade, os encontros terão a participação especial, a cada semana, de um escritor local. Carolina Barreto, Darlan Lula, Anderson Pires, Edimilson de Almeida Pereira, André de Freitas Sobrinho, Prisca Agustoni, Alexandre Faria e Laura Assis estão entre os convidados. Santiago Nazarian e Cecília Giannetti farão o lançamento nacional de suas novas obras durante o evento, enquanto os outros autores autografarão obras recentes.
Atento à formação de novos leitores-escritores, o projeto oferece, às terças, de 18 de setembro a 23 de outubro, duas oficinas simultâneas de criação literária, das 19h às 21h, uma promovida na comunidade do Bairro Dom Bosco, cujos participantes já foram selecionados, e outra, no espaço da livraria, aberta a inscrições para o público em geral. "Os participantes poderão, assim, descobrir caminhos para interagir com a escrita, sobretudo ao reconhecer a linguagem fora de seu uso cotidiano, qualificando-se como leitores", afirma Alexandre Faria, escritor e coordenador das oficinas.


AVE, PALAVRA

Encontro com Luiz Ruffato e Iacyr Anderson Freitas

Sábado, às 15h, na livraria A Terceira Margem
(Galeria Pio X loja 127). 3216-7320

FONTE: Por Renata Delage. http://www.tribunademinas.com.br/cultura/nova-gerac-o-debate-literatura-contemporanea-1.1134528. Acesso: 04/08/12 Esta postagem não tem fins comerciais, e sim de divulgação.