Edição nº 2, dezembro de 2011

Os galos da minha rua

                   I
Os galos que rondam
a minha rua
à luz trêmula do luar

não ciscam gravetos do chão
nem dizem cocoricó

um bando chega
outro foge

às vezes duelam
na curva das esquinas

quem é o dono do terreiro
qual grita mais alto
o maior

                 II
Quando erguem o aço frio
da ponta de seus bicos
noite adentro
tudo cessa de repente

miados no telhado
a estrela cadente
ave-marias à beira da cama

E a monotonia estúpida
da cantiga entoada
atravessa janelas
ameaça por baixo das portas

                III
As mãos que os fazem
expelir fogo
assustando os cupidos

há pouco
brincavam de pega-pega
pipas nos fios elétricos
rodar pião

há muito
carregam a morte e a vida agarradas
à brutal cicatriz branca

do pó

Reginaldo Costa Alburqueque: 47 anos e campo-grandense-MS de coração. Autor do livro Sonetos no azul da tarde.
Contato: reginaldoalbuquerque@uol.com.br

Rei de Nada
De tudo
foste capaz
conquanto fosse absurdo
Sempre pudeste mais
E de todo o teu mundo,
foste rei ineficaz
Prometendo a teu súdito
fantasiosa paz

Fui eu, súdita tua
Fui inteira, um tanto louca
e mesmo nua
quando envolta
por teus braços
vestia-me de tuas loucuras
de teus espasmos
Coisas cruas...
Típicas do teu reinado

Revoltas tramei nove
Norte a Sul
Mas ainda me envolves
Embora, mal saibas, tu
de futuro golpe...

Eis que derrubará teu império
Sério...
Hoje ainda reinas
coração meu
Amanhã, tu beiras
ser apenas museu

Ludmila Abreu: É modelo e estudante de direito, apaixonada por poesias e samba. Escreve e compõe desde os 12 anos.
Contato: ludmilla_abreu@hotmail.com


NOVAS DIMENSÕES
                                                    
Dispenso flores,
missa também;
vou de mãos vazias,
assim como cheguei:
sem rumores, sem ninguém.
Lamentos? De jeito algum,
Dores? Todas suportadas;
apenas fui mais um
entre imprevisíveis jornadas.
Compensações? Há algumas:
fora do espaço,
do tempo liberto,
caminho entre plumas
em iluminado deserto.
O resto, não cabe escolha;
dobra-se a folha,
são novas dimensões.
É itinerário da humanidade:
na aritmética da eternidade,
na geometria das gerações.
Luiz Gondim: É presidente da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes e vice-presidente da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.