segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Que tal alguns desafios para 2013?


Por Raphael Reis (Mestrando em Educação pela UFJF)


É comum mencionarmos que o Brasil não é um país de leitores. Isso é uma afirmativa verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Falsa, porque a leitura, juntamente com as novas tecnologias (celular, facebook e computador, principalmente) vem aumentando tanto a leitura como a escrita. Porém, por outro lado, sabemos que não é este tipo de leitura que desejamos. Desejamos que as pessoas possam ampliar seus horizontes de leitura, ampliação esta que perpassa pela leitura de livros e de seus vários gêneros, de jornais e revistas (impressos ou digitais).
No Brasil, devido a dificuldades históricas como, por exemplo, a instalação de um mercado editorial e, principalmente, de uma rede de educação pública tardia, foram grandes obstáculos para uma cultura que desenvolvesse tanto a leitura como a escrita, o que fez com que, em pleno o século XXI, termos ainda um índice de 9 milhões de analfabetos absolutos! Assim o brasileiro desenvolveu uma cultura pelo audiovisual (não é a toa encontramos sucessos musicais que balbuciam algumas palavras e de novelas que dizem nada com nada com coisa alguma). Aliás, 85% da população brasileira preferem a TV como entretenimento principal (ver a Pesquisa Retratos da Leitura, 3ª edição).
Visto as reflexões acima, de maneira sucinta, mas que já foram explanadas em outras postagens em nossa coluna mensal na Revista Encontro Literário, aproveito o ensejo de um novo ciclo que começa a amanhã, no intuito também de que este seja um espaço de pensarmos em novos desafios para leitura, seja ela do ponto de vista das políticas públicas, comunitário ou pessoal. Assim, podemos pensar: o que eu posso fazer para ajudar a estimular a leitura em meu bairro, comunidade ou cidade? Eu, enquanto leitor, quais leituras posso fazer para ampliar o meu horizonte de fabulação, fantasia e conhecimento, entre outras coisas?
Por fim, reforço aqui as dicas de leitura que a Revista Encontro Literário indicou ao longo do ano de 2012 e que, sem dúvida, podem ser um bom ponto de partida e caminhada!
Feliz 2013 para todos os leitores e não leitores da Revista! Que seja um ano de muitas coisas boas!

A Dama do Cachorrinho, de Tchekhov
O Ruba’iyat, de Omar Khayyam
A Metamorfose, de Kafka
Bartleby: o escrivão, de Herman Melville
Vaga Música, de Cecília Meireles
O Cão dos Baskervilles, de Sir. Conan Doyle
Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector
Insônia, de Graciliano Ramos
O Estrangeiro, de Albert Camus
Canto Geral, de Pablo Neruda.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dica de leitura: Cem Sonetos de Amor, de Pablo Neruda

Com uma beleza intensa e crua, os Cem sonetos de amor refletem a parte mais apaixonada da obra poética de Pablo Neruda. Escrevendo-os para Matilde, sua grande paixão, o poeta chileno ofereceu à sua musa uma linguagem tão sensorial que se pode saborear cada poema, provando-o nos lábios. Elaborados para serem lidos em voz alta, uma vez que são ricos de significados e tornam a leitura encantadora, os sonetos não apenas são um “gozo da linguagem”, numa alusão ao prazer do texto a que se refere Roland Barthes, mas também remetem às muitas imagens que Neruda utilizou para retratar o seu amor pela amada. E com tal poesia a musa do poeta é retratada, que nos permite também compará-la a um rio caudaloso que inesgotavelmente alimenta a sensibilidade e o oceano criativo do poeta como se lê no soneto XVII, só para citar alguns dos incontáveis versos: "Te amo como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma." É em meio a essa "escuridão" que o amor se estende para além dos que se possa esperar dele.
Sendo, portanto, um tema literário e universal, por excelência, não importa em qual idioma o amor é descrito, se existe ou não, mas quando ele pode ser cantado com tanto enlevo e vigor, nada melhor do que ao menos mergulhar na profundidade dos 100 sonetos de Neruda, que oportunamente os dividiu em 3 períodos do dia (manhã, tarde e noite). É assim que o grande poeta andino tenta transmitir toda a essência do amor em suas múltiplas faces, ora aludindo à natureza, ora ao cotidiano intenso da mulher... 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade

Exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade

 
Inaugurada, no Rio de Janeiro, a mostra que exibe parte do acervo do Museu d’Orsay, de Paris
 
Foi inaugurada ontem (22), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, a exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade, com obras-primas do Museu d’Orsay, de Paris, que pela primeira vez exibe parte de seu acervo na América do Sul. A mostra reúne 85 obras dos mestres impressionistas, estilo de pintura que abrange o período de meados do século XIX ao início do século XX.
Realizada com apoio do Ministério da Cultura (MinC), por meio da Lei Rouanet, a exposição atraiu 320 mil pessoas em São Paulo, com longas filas e espera de quatro a cinco horas. No Rio, onde o espaço do CCBB é mais amplo do que na capital paulista, a expectativa é de um público bem maior, principalmente no final do ano, quando a cidade recebe milhares de turistas para o Réveillon. A mostra ficará aberta de hoje (23/10) até 13 de janeiro de 2013 e a entrada é franca.
Participaram da cerimônia de abertura o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do MinC, Henilton Menezes; o presidente do Museu d ‘Orsay, Guy Cogeval; o diretor-geral do Instituto de Cultura da Fundação Mapfre, Pablo Jiménez Burillo; o vice-presidente de governo do Banco do Brasil, César Borges; e o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Também estiveram presentes a secretária de Cultura do Estado, Adriana Rattes; o vice-prefeito do Rio, Carlos Alberto Muniz; o cônsul da França no Rio, Jean-Claude Moyret; a coordenadora da exposição, Maria Ignez Mantovani; o chefe da Representação Regional do MinC, Marcelo Velloso; e as atrizes Fernanda Montenegro e Beth Goulart (apresentadora da cerimônia).

A exposição
A mostra reúne 85 obras dos mestres Claude Monet, Édouard Manet, Auguste Renoir, Paul Gauguin, Edgard Degas, Toulouse-Lautrec, Camille Pissaro, Vincent Van Gogh e Paul Cézanne, entre outros. A coordenadora da exposição, Maria Ignez Mantovani, estava feliz com o resultado do trabalho: “É uma coisa linda que o país tenha condições de receber um projeto desta excelência, com esta qualidade e amplo acesso popular”. Além do apoio do MinC, o evento conta com o patrocínio do Banco do Brasil e da seguradora Mapfre.



O impressionismo, que rompeu com o padrão realista na pintura, surgiu em meados do século XIX. Nesta época, a nova Paris, reformada segundo plano do Barão Von Haussmann, com amplos boulevares e espaços públicos, era o centro da vida cultural europeia. O novo espaço urbano atraiu a atenção dos pintores que nele encontraram diversos temas de inspiração, dando ênfase à luz e ao movimento.
A exposição se divide em vários módulos, que refletem este clima: Paris, cidade moderna; A vida parisiense e seus atores; Paris é uma festa; Fugir da cidade (que destaca a vida no campo nos arredores); A vida silenciosa (com telas intimistas, algumas com inspiração japonesa, egípcia ou medieval); e Convite à viagem ( com obras de Gauguin e seus discípulos, inspiradas na Bretanha) e, finalmente, Convite à viagem – O ateliê do Sul (que retrata a região do Sul da França).
O quadro central da exposição é ‘Tocador de Pífano’, de Édouard Manet. Além dele o espectador também poderá apreciar obras-primas como o ‘Lago das Ninfeias–Harmonia Verde’, de Monet; ‘O Banho’, de Alfred Stevens; ‘Jeunes filles au piano’, de Renoir; ‘Dançarinas subindo uma escada’, de Edgard Degas; ‘Colheita Dourada ou As medas amarelas’, de Gauguin; ‘Rochedo perto das grutas acima de Château Noir’, de Cézanne; e ‘La salle de danse à Arles’, de Van Gogh. A lista é longa e o visitante precisa de tempo para apreciar com calma as obras.
O museu d’Orsay é um dos mais importantes da França e seu acervo chega a 154 mil obras. Já o Brasil foi colocado pela publicação americana The Art Newspaper no ranking de países com as exposições mais visitadas do mundo em 2011. O país emplacou três na lista das dez mostras mais procuradas naquele ano. A primeira do ranking foi O Mundo Mágico de Escher, que atraiu mais de 570 mil pessoas ao CCBB do Rio de Janeiro. A expectativa é de que os impressionistas franceses ultrapassem esta marca nesta temporada.
(Texto: Heloisa Oliveira, Representação Regional RJ/ES/MinC)
(Fotos: Raphael Reis)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O marinheiro que perdeu as graças do mar: novela e canção sobre o desconforto do estar no mundo


"Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse  grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evitá-lo"
(Ernest Hemingway) [1]



Atrasado, eu procurava um tema para riscar a coluna deste mês sem acertar com o que poderia escrever até que o acaso, na verdade quatro ou cinco posts de amigos no Facebook, me lembraram de uma novela do escritor japonês Yukio Mishima: O marinheiro que perdeu as graças do mar. Diziam os posts, que estou traduzindo: "nenhum mar calmo fez de um marinheiro um especialista".

E então me decidi, já que Mishima sempre cruzou meu caminho de modo inesperado, não planejado, através de livros que escolhi ao acaso nas prateleiras das bibliotecas, atraído pelos títulos ou pelas capas. Tudo começou em 2009, creio, quando li a obra já mencionada.

Essa novela, escrita na maturidade do autor, tem uma pequena extensão de páginas (155 no total) e se divide em duas partes: Verão e Inverno. No correr dessas duas estações somos apresentados a um complicado relacionamento familiar: Noboru, jovem de 13 anos, órfão de pai, enfrenta a mudança na vida de sua mãe quando ela decide viver uma relação com o Segundo Piloto Tsukazaki - o marinheiro que dá título à novela. Somado a isso, o adolescente constrói uma imagem superestimada de si mesmo no seio de um grupo secreto.

Mishima tece descrições sutis e singelas (mas, nem por isso, destituídas de força) e vai conduzindo os personagens de maneira sábia e sóbria do pré-clímax ao clímax e vice-versa, dando à narrativa uma movimentação que jamais culmina numa cena afirmativa. Parece que o livro foi escrito sob o signo da negação e os poucos personagens se esbatem nas redes dos desenganos e ilusões humanos. Terra e mar se contrapõem na figura do personagem Tsukazaki. Assim o descreve o autor, nas páginas iniciais: "Embora devesse ser aproximadamente da mesma idade que a mãe de Noboru, seu corpo parecia mais jovem e mais firme do que o de um homem da terra: ele poderia ter sido fundido na matriz do mar"[2].

No entanto, se Ryuji Tsukazaki teve seu corpo forjado pelo mar isso se fez a contrapelo, de modo imperioso, pois, ao contrário dos outros homens, ele fora levado à profissão "por uma antipatia pela terra" e não por gostar do mar. Diz ainda o texto: "Com o tempo, porém, ele se foi tornando indiferente à atração de terras exóticas. Viu-se naquela estranha situação enfrentada por todos os marinheiros: essencialmente, não pertencia à terra, nem ao mar. Um homem que odeia a terra deveria morar sempre na praia. A alienação e as prolongadas viagens marítimas o obrigariam a sonhar outra vez com a terra, atormentando-o com o absurdo de desejar alguma coisa que detesta".

Apesar da novela focalizar principalmente os conflitos do jovem Noboru, parece que ao se envolver com a mãe do rapaz o marinheiro rompeu com sua "estranha situação", criando um motivo para estar em terra talvez por mais tempo do que gostaria e, ao mesmo tempo, se envolve em um ambiente familiar tenso no qual ele nunca consegue romper a condição de ser um estranho. Por tudo isso, pode ser que ao final da leitura estejamos predispostos a aceitar (in)tranquilamente que a glória é amarga e que Tsukazaki é um “traidor”, razão pela qual teria perdido as graças do mar. Ou será que ele é um traído?

Deixo as questões àqueles que se animarem a ler a obra (e sintam-se à vontade para fazer comentários!). Passo agora a falar das tais "outras manifestações" a que o título da coluna faz referência. De modo similar descobri, por acaso, talvez procurando mais informações sobre a própria novela de Mishima, uma música que ostenta o mesmo nome da obra de que vim tratando até aqui: O marinheiro que perdeu as graças do mar. Trata-se da 6ª faixa do LP Nenhum de nós, o primeiro lançado pela banda gaúcha homônima nos idos de 1987.

Não entendo muito de música e espero que tenham isso em conta no momento de acusar minha análise de superficial ou mesmo inadequada ou impertinente, apesar de curta. Eu apenas achei interessante a coincidência do título da canção com o do livro e me parece pouco provável que ela pudesse ser gratuita. Essa música se assenta sobre uma melodia simples que soa repetitiva pela marcação que escutamos, ao longe, feita por um instrumento de percussão. A sensação que eu tenho, ao escutar, é que estamos justamente frente a esse impasse colocado pela novela. Sem mais, deixo com vocês a canção seguida de sua letra. Espero que gostem. Deixo também o site da banda para quem queira conhecer mais: http://www.nenhumdenos.com.br/



O marinheiro que perdeu as graças do mar
Composição: Thedy Corrêa, Sady Homrich, Carlos Stein

As ruas sempre vão ficar no mesmo lugar
Isso fez meus dias sempre iguais, sempre iguais
A imagem na janela é sempre a mesma
Impossível viver dessa maneira
Na Terra,
Esperando as lágrimas correrem de novo
Na Terra
Esperando
As lágrimas
As ondas nunca vão ficar no mesmo lugar
Tudo que eu posso ouvir é minha própria voz
O mar refugia horizontes vazios
Nele passaria a vida inteira
Esperando
As luzes do porto
Desejando o que mais odeio

Notas:

[1] Hemingway, Ernest. O velho e o mar. Trad. de Fernando de Castro Ferro. 46ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000)

[2] Todos os trechos da novela de Yukio Mishima aqui citados foram lidos em: Mishima, Yukio. O marinheiro que perdeu as graças do mar. Trad. de Waltensir Dutra. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

Pós-escritos:

Peço desculpas aos leitores pelo atraso e relativa inconstância da minha "coluna". Em geral as firulas vem no início do texto, mas como desconfio que isso já pode estar cansativo trouxe para o final. O ideal seria poder excluí-las. Quem sabe um dia?

Aos agraciados com a publicação de poemas no Edital 04/2012, informo que os livros e certificados de Menção Honrosa serão enviados até o dia 15/12/2012. Anteriormente eu informei que mandaria até hoje, 30 de novembro, mas só ontem a transportadora entregou os exemplares e prefiro não fazer as coisas correndo.

sábado, 10 de novembro de 2012

Dica de leitura: O Estrangeiro, de Albert Camus

Publicado em 1942, O Estrangeiro, de Albert Camus é considerado pela crítica a grande obra do escritor franco-argelino, o que certamente contribuiu para que ele ganhasse o Prêmio Nobel de Literatura em 1957. Profundamente marcada por um tom existencialista e escrita num contexto do pós-guerra, quando o Existencialismo estava em voga na Europa, sendo pensado sobretudo por filósofos como Heidegger Merleau-Ponty e Sartre, a referida obra foi vista por esse último filósofo como uma emblemática ilustração da existência humana.
Desconcertante e “estranho”, o romance é a trajetória de um homem que viveu a vida de acordo com o seu pensamento e sensibilidade, trazendo à tona o absurdo de existir. É assim que o personagem Meursault narra em primeira pessoa uma história que é dividida em dois momentos: a morte de sua mãe e o seu julgamento enquanto estava na prisão. Aqui, ele é julgado não pelo assassinato de um árabe após uma briga, mas por ter ido contra as regras da sociedade – não chorou pela morte da mãe e ainda se divertiu no dia seguinte. Nota-se, portanto, que em meio a uma atitude niilista e indiferente ao mundo, O Estrangeiro faz uma crítica mordaz à sociedade, à medida que expõe friamente a notícia da morte da mãe: “Hoje minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. [...] Isto não quer dizer nada. [...]” A indiferença do personagem diante do ocorrido ilustra bem o que defendia Sartre, ou seja, a existência está revestida pelo absurdo e nada possui um sentido prévio. Já no dia do julgamento, na segunda parte, Meursault se incomoda tanto com a defesa quanto com a promotoria, que distorce o foco do julgamento e tenta padronizar um sentido para as ações do personagem:

Quanto a mim, sentia-me atordoado pelo calor e pelo espanto. O presidente tossiu um pouco e, em voz não muito alta, perguntou-me se eu queria acrescentar alguma coisa. Levantei-me e, como tinha vontade de falar, disse, aliás um pouco ao acaso, que não tinha tido intenção de matar o Árabe. O presidente respondeu que era uma afirmação, que até aqui não percebia lá muito bem o meu sistema de defesa e que gostaria, antes de ouvir o meu advogado, que eu especificasse os motivos que inspiraram o meu ato. Redargüi rapidamente, misturando um pouco as palavras e consciente do ridículo, que fora por causa do sol. Houve risos na sala. O meu advogado encolheu os ombros e, logo a seguir, deram-Lhe a palavra. Mas ele declarou que era tarde, que precisava de muito tempo e que pedia o adiamento até logo à tarde. [...]

Daí se vê que o personagem não tem nenhuma necessidade de mentir, ele apenas se limita a falar o que pensa, indiferentemente do que lhe possa acontecer. Não nenhuma resistência ou qualquer tentativa de querer se livrar de alguma culpa, como seria de se esperar, pois o mais importante Meursault é indignar-se com a imposição de verdades e de sentidos impostos pelo outro, assumindo, assim, uma atitude cética diante da realidade e de qualquer imposição ideológica.
No mais, fica esta grande sugestão de leitura – uma das obras mais instigantes e perturbadoras, dentre aquelas de teor existencialista...

sábado, 3 de novembro de 2012

O Brasil pode ser um país de leitores?

        
           A postagem referente à coluna História e Sociologia da Leitura deste mês (novembro), é uma resenha da obra do antropólogo Felipe Lindoso, cujo título é: O Brasil por ser um país de leitores? Política para a cultura política para o livro, editada pela Summus, em 2004.
 
             Felipe Lindoso é graduado em antropologia pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos, de Lima (Peru) e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional). É jornalista e foi sócio-fundador e diretor da Editora Marco Zero, de 1980 a 1998. Foi assessor da Câmara Brasileira do Livro (CBL), ocupando diferentes cargos, e consultor do Cerlalc.

O título do livro “O Brasil pode ser um país de leitores?” revela por si só uma questão intrigante e uma problemática atual.

A obra de Felipe Lindoso está estruturada em 3 seções, a saber: Política da Cultura, O Livro e a Política Cultural e Globalização e Cultura.

Na primeira seção faz uma crítica inicial à formulação genérica e muito distante dos artigos 215 e 216, da Constituição Federal de 1988, destinados à cultura. Segundo Lindoso, o segmento cultural que absorve mais gastos dentro do Ministério da Cultura (MinC) é o patrimônio, e que a política de renúncia de impostos que o Estado deixa de arrecadar como acontece, por exemplo, com a Lei Rouanet (criada em 1991) beneficia projetos previamente aprovados e sem um planejamento de investimento cultural. Ainda, neste sentido, sua crítica estende-se aos muitos projetos que não permitem o acesso ao grande público.[1]

 

Ou seja, a política cultural de fato vigente, por um lado, repousa nas aplicações na preservação do patrimônio histórico e, por outro, destina-se quase exclusivamente ao financiamento de eventos e ao dinheiro diretamente absorvido pelos artistas e produtores culturais. Quase nada se destina a permitir o acesso público aos “bens culturais” gerados com os recursos públicos. (LINDOSO, 2004, p.24).

 

Após fazer esse diagnóstico da atualidade, tece reflexões sobre o contexto histórico brasileiro para entender como foram tratadas as questões culturais, especificamente a partir do período joanino (1808-1822), já que antes, isto é, 3 séculos, o Brasil não tinha nada neste sentido – não tínhamos imprensa, nem universidades.

 É no período joanino que o Brasil começa a ter uma “política de cultura”, mesmo que restrita de vários pontos de vista: geográfico (somente no Rio de Janeiro), de público (acessível à elite) e de financiamento (a prática do mecenato para uma quantidade de artistas reduzidos).

Da passagem do Império para a República Velha, a grande modificação seria a desvinculação do patronato elitista, estabelecido no Império com a expansão do sistema educacional, ou seja, a produção artística começa a ganhar autonomia (surgimento da música popular e a formação de uma indústria editorial).

Na segunda seção do livro, intitulada O Livro e a Política Cultural, Lindoso trata da trajetória da indústria editorial no Brasil, a qual até 1808 não existia, por haver proibição à colônia de estabelecer qualquer tipo de imprensa. Porém, com Dom João VI, houve uma iniciativa de implementação; embora muito restrita, já que era uma imprensa régia, usada somente para documentos oficiais. Somente em meados do século XIX é que vamos ter as primeiras casas editoriais, tais como: Laemmert e a Garnier. No entanto essas casas editoriais mandavam imprimir em Paris e Portugal, porque as obras saiam mais barato e de melhor qualidade. Um ponto de destaque nesta 2ª seção é a questão da importância do livro didático na formação do mundo editorial, pois o Governo e, principalmente, num primeiro momento, as famílias, passam a comprar devido o começo da sistematização do ensino público, laico e destinado às camadas populares.

Lindoso (2004, 92) comenta que

 

 [...] a produção de livros didáticos foi, desde o início do século, o grande motor para a consolidação de grandes empresas editoriais. Estas se beneficiavam diretamente dos investimentos do país na educação, com o aumento da rede física das escolas e do número de estudantes. Entretanto, a participação direta dos governos (federal, estadual e municipal) na aquisição de livros era relativamente pequena. As editoras vendiam para os pais dos alunos, por meio das livrarias.

           

Neste sentido, é importante perceber que o livro didático será o principal meio de leitura e acesso às informações a partir desse momento. Para se der uma idéia, em 1996, com o Programa Nacional do Livro Didático, o Ministério da Educação tornou-se o maior comprador de livros do país e do mundo, na época dos dois primeiros governos de FHC (1995-2001), totalizando a compra de 1 bilhão de exemplares.

            Na terceira e última seção do livro, Globalização e Cultura, o autor mostra que o livro foi o primeiro objeto cultural de globalização, iniciado com a Era Gutenberg (1445), pois permitiu maior circularidade das produções, visto que diminuiu o preço da produção e rompeu com fronteiras geográficas. Nesta parte aponta a preocupação com os conglomerados editoriais, questionando a não abertura para edição de livros de autores novos, bem como o foco de livros de best-seller e didáticos, por terem um mercado mais consolidado e de fácil giro. Também são discutidos os direitos autorais, os quais produzem divisas (nos EUA é a segunda maior divisa, perdendo somente para a de armamento) e de maneira sucinta, faz algumas reflexões sobre o livro eletrônico.

            Feita essa estrutura dorsal do livro de Lindoso, perguntamos, afinal, como ele aponta uma possível saída para o Brasil ser um país de leitores? Esse caminho seria principalmente o investimento em boas bibliotecas públicas e uma política de Estado para a leitura e o livro.

No que se refere às bibliotecas públicas, o autor aponta que

 

uma política de bibliotecas públicas é, em primeiro lugar, uma política de inclusão e de renda. Ao fornecer o acesso aos livros, criam-se dois processos de geração de renda. O primeiro por fazer mover a engrenagem de produção da indústria editorial é matemática e economês. Mas, o mais importante é o segundo: a informação disseminada gera mais renda, mais aquisição não apenas de livros, como também de informação e formação geral. (LINDOSO, 2004, 136).

 

            No entanto, nos parece que a formação de um público leitor não perpassa somente por esse ponto, apesar de reconhecermos que ele é imprescindível. No 2º mandato de FHC houve um projeto dentro do MinC que queria instalar uma biblioteca em cada município, o que quase foi concretizado, porém não há um diagnóstico preciso sobre o funcionamento destas bibliotecas nem se seus acervos são atualizados regularmente. Ainda, pesquisas recentes como, por exemplo, Retratos da Leitura no Brasil (2012) mostra que somente 1 de cada 10 brasileiros freqüentam uma biblioteca.

            Já a necessidade de política de Estado para a questão de uma política cultural do livro, Lindoso tece uma crítica consistente na separação entre o MEC e o MinC, na época do primeiro governo civil (Sarney), após a redemocratização, qual seja, “o MEC ficou com o ‘sério’, o que significa resolver e cuidar das questões importantes da educação, inclusive o livro didático, enquanto o Minc ficou com o simbólico até hoje, com este se confundindo”. (LINDOSO, 2004, 176).

            Para piorar a situação, no governo Collor (1990-1992) houve o fechamento do Instituto Nacional do Livro (INL), criado em 1937, no governo Vargas, cujo cuidava dos livros didáticos até o começo da ditadura militar e das políticas do livro.

No governo Collor, o INL foi extinto e criou-se o Departamento Nacional do Livro, como uma diretoria da Biblioteca Nacional (BN), invés de termos um órgão dentro do MinC, com essa responsabilidade, passa-se para a Biblioteca Nacional, a qual já tem outras preocupações[2], o que torna preocupante quando se quer tratar de uma política de Estado para a leitura.

Em resumo, Lindoso aponta para duas ações importantes para o Brasil se tornar um país de leitores: acesso ao livro através de boas bibliotecas públicas e uma política de Estado para leitura, juntando novamente o MEC e o MinC nas ações, como uma secretaria desvinculada da BN, para que as políticas públicas do livro e leitura ganhem mais seriedade e continuidade.
Enfim, postular favoravelmente, no intuito de possibilitar o acesso ao livro com a instalação de boas bibliotecas públicas, além de uma política de Estado, para dar continuidade às políticas, é louvável. Por outro lado, é preciso investir também, a nosso ver, na formação dos leitores e de mediadores da leitura, para que possamos obter conquistas importantes rumo a um país de leitores.


[1] Um exemplo seria o cinema, o qual produz filmes que nunca foram exibidos nem conhecidos por um grande público.
[2] São responsabilidades e limites institucionais da BN: coleções para serem catalogadas; falta de estrutura institucional para ser um órgão responsável por uma política pública para o livro, pois é um diretor e não um secretário do Ministério; depositária legal de toda a bibliografia brasileira; centro de pesquisa; não tem condições para conduzir uma política nacional do livro, pois dificilmente um governante de estado vai ao Rio de Janeiro tratar com um diretor assuntos de política pública em leitura; acentua uma separação esquizofrênica entre educação e cultura; e é difícil para a BN gerenciar uma dimensão geográfica como a do porte do Brasil e mais de 6.000 bibliotecas municipais. (Cf. LINDOSO, 2004, 181)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Resultado do Concurso Literário do Edital 04/2012 - Gênero Poesia


Prezados leitores,

é com prazer que trazemos ao conhecimento do público os textos escolhidos no certame do Edital 04/2012 organizado pela Revista Encontro Literário. Como estava previsto no edital, foram selecionados 05 (cinco) poesias para serem publicadas na página da revista. Esses textos serão exibidos em postagens separadas, logo abaixo desta. Estão dispostos em ordem alfabética segundo seus títulos, ou seja, a ordem em que são apresentados não corresponde a uma classificação.

Agradecemos a todos os participantes e aos leitores da Revista. Esperamos que vocês possam continuar participando dos nossos editais, além de acompanhar as postagens que são feitas mensalmente por nossos editores.

Informamos aos autores dos textos selecionados que o envio dos certificados de Menção Honrosa e do livro indicado no edital como premiação será feito até o dia 30/11/2012.

Relação de Poesias Selecionadas

Amor em matemática, de Amelia Luz
Animais de rua, de Adriano Vinicio da Silva do Carmo
Pelas derradeiras horas de Nava, de Matheus Vital O. Mendes
Soneto torto, de Everardo de Paiva Andrade
Vidas transitórias, de Klaas Kleber

Poesia selecionada no Edital 04/2012 - "Amor em matemática"

Amor em matemática

por Amélia Luz *



Minha vida é uma equação
Sem fórmula, sem solução.
Relaciono medidas
Calculo áreas,Sou mesmo um polígono torto...
Componho um triângulo amoroso, doloroso,
Somo problemas inconsequentes,
Subtraio prazeres incertos
Multiplico questionamentos
Dividindo meus sentimentos...
Sou um teorema estranho,
Inexato, sem explicação,
Coração bigeminado
Caminho desgastado
No perímetro da vida.
Sou Regra de Três
Ou jogo de xadrez
Num xeque-mate
Que não me permite divisibilidade!
Emoções surradas, na teima
Na lida, na espera!
E a segunda milha?
Com quem trilhar? Haverá?
Estrangulada a aorta martela,
Matematicamente batendo a vida,
Num compasso de alternâncias...
Sangue vivo no vai e vem
Martirizando a minha mente,
Injustamente!
Asfixia! Na representação gráfica, a asfixia...
O sangue é tóxico, a vida é vã,
Sem poesias, alegrias ou metáforas...
Temperamental, maníaca,
Nada sabia, entretanto,
Que na matemática da vida
Não há cálculo, nem médias,
Nem sequer regras rígidas.
Não há ciências exatas nas operações...
Escondido, na palma da mão
Eu tenho em segredo
O quociente da situação.
Transformo investimentos afetivos
Com altas taxas de juros
Em saldo real, positivo,
Significando o meu lenitivo
De continuar solta, em abstração,
Na matemática fria da minha emoção.


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* Amélia Luz nasceu em Pirapetinga/MG, onde mora. Escreve crônicas, contos e poesias com premiações em vários estados do Brasil e também em Portugal, Espanha, França e Itália. É membro de diversas associações literárias contribuindo com o seu trabalho em favor da divulgação da Língua Portuguesa. Formada em pedagogia – Administração Escolar e Magistério – Orientação Educacional – Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa – Pós-graduada em Planejamento Educacional e Psicopedagogia na Escola, faz da palavra a sua companheira na oficina de versos onde trabalha todo dia. Contato: amelialuzz30@gmail.com

Poesia selecionada no Edital 04/12 - "Animais de rua"

Animais de rua

por Adriano Vinício da Silva do Carmo* 


Animais de rua,
Que triste caso
Não é fácil
Viver ao relento,
Ao asco

Animais de rua,
Filhote perdido
Não tem ninguém
Vive indo
Escondido

Animais de rua,
Sem carinho...
Não é simples
Sentir-se
Sozinho

Animais de rua,
Sempre aqui
E não na lua!

Animais de lua,
Que triste espaço
Só vejo o cosmo
Soprar o vento
Tácito

Animais de lua,
Filho ferido
Da Gaia Mãe
Vives ressentido
Em ser...

Animais de lua

Animais de lua
Na Terra!

Excluídos
De si mesmos,
De sua gente!

Viver afastado
Ser animal e
Ser gente

Ser de rua e
Ser da lua

Ser bicho e
Ser gente.

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* Adriano Vinício possui título de bacharel em Comunicação Social e atualmente é mestrando em Comunicação pela UFJF, desenvolvendo pesquisas nas interfaces Comunicação, Educação e Tecnologia. Criado em Iapu (leste de Minas Gerais), vive em Juiz de Fora desde 2006. Possui interesses artísticos ligados à literatura, poesia e ficção científica (em especial a futurista). Contato: adrianovinicio@gmail.com

Poesia selecionada no Edital 04/2012 - "Pelas derradeiras horas de Nava"


Pelas derradeiras horas de Nava

por Matheus Vital de Oliveira Mendes *
                         
                                 ´´A vida é um romance sem enredo.``
                                                               Pedro Nava

Sentado à calçada, Nava se envulta
Por nove travestis e seis prostitutas.
Sentado na calçada, Nava se sepulta
Com um calibre 32, apoiado na nuca,
Dirigindo-se ao seu venerável undiscovered country.

Sentado à calçada, Nava matutava
Talvez exasperado, ou passivo.
Sentado na calçada Nava recusava,
Qualquer convite venial de cópula.

- Mas poderia ser amor, senhor,
Emprestado por dinheiro?
- Mas é cópula, pois sou indelevelmente médico,
Recostado sobre alcunha de escritor.

Pedro Nava, sentado na calçada,
Na rua da Glória, perto de casa,
Despedia toda dor. E escrevia
Primeiras palavras de um novo enredo,
A ser escrito pelos manejantes
                 [De sua memória,
Que o enredo da vida não é nadinha nosso.

                                     28/08/2012

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* Matheus Vital de Oliveira Mendes nasceu em 1993 e estudou a maior parte da vida na Escola Municipal Cosette de Alencar, passando posteriormente ao Colégio Stella Matutina, ambos em Juiz de Fora. Hoje frequenta o Bacharelado em Interdisciplinar em Humanidades da UFJF. Em 2011 foi selecionado como um dos cinquenta autores a serem publicados pela edição do segundo concurso de poesia Amigos do Livro/ Flipoços, prêmio literário paralelo ao Festival Nacional do Livro de Poços de Caldas/MG. Contato: matheusvitalomendes@gmail.com

Poesia selecionada no Edital 04/2012 - "Soneto torto"

Soneto torto

por Everardo Paiva de Andrade *


dê-me uma tese em 2 v. de mil p.
e o vento forte do Isaac à beira-mar
dê-me uma dúzia de copos vazios
e essa sede de alastrar incêndios

dê-me a divina benção sobre o lucro
e a roleta de um banco oficial
dê-me o canto d’Os cantos de Pound
e toda ira do poeta contra a usura

dê-me a aspereza das tardes cruas
a nota de uma trova em mil palavras
dê-me a própria dor por companheira

e a esperança bem no vidro da janela
dê-me o tempo perdido, a lembrança
e o retorno é o que vai neste soneto


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* Everardo de Paiva Andrade assim se descreve: "Nasci em Itaperuna, cidade do extremo noroeste fluminense. Fui uma criança sorridente e de certo modo ainda me considero uma pessoa feliz. Acostumei-me a ser sempre o mais novo da turma e agora, cada vez mais, me sinto o mais jovem dos velhos. Fui estudante de História, o que me deu uma profissão e uma angústia, porque não pude fazer o mundo que imaginava impossível. Integro (se é que ainda me querem por lá) as academias itaperunense e campista de letras, essas belas experiências de vanguarda na retaguarda local. Publiquei dois livros de poesia, um no início da década de 90, outro na de 2000, e de novo já se passaram dez anos... Retornei a Niterói e vivo hoje onde e como escolhi, embora aquela voz persistente insista aos meus ouvidos que não cumpri integralmente uma promessa. Sou professor na Faculdade de Educação de uma universidade pública, lidando com jovens estudantes de História, e gosto do que faço. Não pretendo regressar a Itaperuna quando concluir minha desaprendizagem. Está bom assim!" Contato: everardo_andrade@uol.com.br

Poesia selecionada no Edital 04/2012 - "Vidas transitórias"


Vidas transitórias


por Klaas Kleber *

Chegará o dia em que meus olhos
ofuscados pelo nevoeiro da morte
já não perceberão pela vista
o lacrimar dos ausentes
aguardando o exalar
do meu último suspiro

Chegará o dia em que meu rosto
regelado pelo sopro da morte
já não perceberá pela tez
as mãos cálidas dos ausentes
aguardando a despedida
da minha última existência

Chegará o dia em que minha memória
viverá nas lembranças fugazes
na efemeridade dos sonhos
dos ausentes mortais
aguardando o seu tempo
que também há de cessar

E quando esse momento chegar
eu terei desvanescido
para a eternidade

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* Klaas Kleber, nome artístico de Kleber José dos Santos, é natural de São João del Rei, Minas Gerais/Brasil. É ator, diretor, professor e arte-educador e tem os títulos de Licenciado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP/MG; e Mestre em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa – ESTC (Artes Performativas – Teatro do Movimento). 
Sempre vinculado a projetos de grande importância artística e destaque social vem realizando, no decorrer de sua carreira, um efetivo trabalho como encenador, formador e preparador de atores. 
Entre outros projetos executados por Klaas Kleber destacam-se os cursos de Capacitação – Teatro Educação (direcionado aos professores do ensino regular); Festivais Estudantis de Teatro; Mostras de Cênas Curtas; e projetos de caráter artístico-social – Teatro na Comunidade. Autor do livro: Corporeidade e fisicidade: o treinamento do clown enquanto instrumental técnico e artístico na formação do ator. Editora Chiado, Lisboa, Portugal, 2010. Contato: kkarlequim@bol.com.br


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Coletânea Quinze Contos Mais

Caríssimo(a) Leitor(a),
         Com   grande   alegria  trago-lhe  o  primeiro   volume  da  coletânea  15 Contos+. Aqui você encontra quatorze contos de vários autores, um conto meu e o prefácio de José Cláudio Adão. O projeto 15 Contos+ é uma iniciativa sem fins lucrativos que propõe destacar, a cada ano, textos de autores independentes que publicam na Internet. Ao fazer isso, esperamos tornar-nos boa referência para quem gosta do gênero conto ou se dedica à arte de contar, divulgando bons trabalhos de autores brasileiros, amadores ou profissionais, ainda pouco conhecidos do público leitor em geral.
         Como toda mãe que traz à luz um filho muito desejado, com imensa alegria vi este projeto crescer, o que só foi possível graças à colaboração de todos os colegas que prontamente aceitaram meu convite para participar do primeiro volume e gentilmente cederam-me seus contos, autorizando-me a publicá-los e distribuí-los sem ônus. A esses colegas quinze mil vezes “obrigada”, quinze mil vezes quinze, mais dez! Quanto à organização deste volume, dispusemos os contos por autor, em ordem alfabética, e ao final de cada um, informações adicionais. No tocante à nova ortografia, conservei a opção de cada autor(a). Assim sendo, pode-se encontrar ocorrências de ‘ideia’ ou ‘idéia’ ou casos semelhantes nos diversos textos e não creio que tal escolha possa confundir o leitor e comprometer a qualidade dos textos. No mais, desejo-lhe boa leitura e de já convido-lhe a acompanhar as publicações do projeto e conferir os próximos volumes.
Um abraço fraterno,
Helena Frenzel
Autora e Editora.
Para baixar (versão PDF ou Ebook) a presente obra, acessar http://quinzecontosmais.blogspot.com.br/







domingo, 30 de setembro de 2012

Uma pausa para a reflexão política...

Caríssimo (a) leitor (a),

Neste mês de setembro preferi substituir a minha postagem mensal para dar espaço para uma reflexão política, já que estamos há 7 dias das eleições, as quais são importantes não somente numa data específica, mas sim em todos os nossos dias, já que fazemos política no nosso cotidiano. E para isso, disponibilizo o texto do amigo e Cientista Político, Vinícius Werneck, texto este que assino embaixo. Como eu digo: o voto é individual, mas a consequencia é coletiva. Vamos pensar nisso...

A Negação da Política, por Vinicius Werneck1


Muita coisa aconteceu entre a famosa frase de Aristóteles configurando o homem como um animal político (politikon zoon) e os recorrentes estudos científicos que tentam explicar a descrença generalizada com relação à política. Em muitos contextos, conversar sobre política proporciona interessantes contrações faciais nos ouvintes, sutilmente desaprovando a emergência de tão desagradável tópico.
Ter um filho político tornou-se algo que algumas famílias procurariam esconder. Nas recentes pesquisas acadêmicas têm-se notado um fenômeno interessante: além dos clássicos personagens frequentemente encarnados pelos candidatos - o gerente, o pai de família, o zeloso, o self-made man -, criou-se a figura do técnico. A característica mais notável dessa persona encontra-se no fato que ele se considera livre de qualquer politicidade. O candidato escolhe para si a imagem da frieza técnica, de alguém que encontra um problema e sabe o que fazer para consertá-lo. Chega ao extremo de dizer que não é político nem pretende sê-lo, como se a política fosse o lugar que deve ser negado.
Negar o reino da política não é uma postura sem prejuízos: ela favorece uma lógica perversa, que, por vezes, afasta da participação aqueles realmente interessados no bem comum. Cada cidadão que abdica da participação política por considera-la improdutiva ou mesmo negativa, certamente está tornando mais fácil o caminho para aqueles que se aventuram na política institucional para favorecimento próprio.
Participamos da política diariamente, sem percebermos. Estamos atuando politicamente quando nos relacionamos com os vizinhos, quando decidimos saber ou não o nome do porteiro, quando enviamos um telegrama a uma família conhecida que acabou de enterrar um dos parentes. Somos políticos quando precisamos resolver como organizar o almoço de arrecadação de fundos de uma igreja - ou quando queremos justamente impedir que alguém se case na igreja. Somos políticos quando conversamos em família para decidir onde serão passadas as próximas férias - e também o somos quando decidimos unilateralmente e notificamos os demais familiares.
Política, não sem motivo, vem da raiz polis, que significava cidade na antiga grécia. Foi após a formação das cidades - à época unidades com grande autonomia - que surgiu também o conceito polites (cidadão). As palavras inglesas politics, policy e police têm todas a mesma origem grega no termo polis. A língua portuguesa traduz politics e policy em apenas uma palavra: política. Quando dizemos “qual a política do condomínio em relação a animais?” estamos nos referindo a policy (também usado na expressão “políticas públicas”). Quando falamos sobre política como a ciência de governar (Aristóteles), ou mesmo em um sentido mais amplo, que envolva as atitudes cotidianas dos cidadãos comuns, estamos utilizando o conceito politics. Police, contemporaneamente traduzido como polícia, foi, durante um tempo, intercambeável com o termo policy. Manter a ordem era afinal, uma política pública, e essa política (policy/police) ia para a rua tomar forma.
E o que não é a política, se não nossa prática de convivência diária na polis? Considerar-se alheio ao processo político - além de pouco produtivo para a melhoria das condições coletivas - é também uma ação política. É uma ação política, por que possui resultados coletivos, implicações amplas e é, em última instância, exercício de liberdade individual. Não é necessário que todos se obriguem a participar da política partidária, mas certamente demonizar essa ou qualquer esfera da práxis política só favorece aos espertos interessados em garantir tranquilidade financeira às custas do erário público.
Mitos como o de se autopropalar apolítico ou não-ideológico são muitas vezes favoráveis à manutenção do status quo. Gramsci citava constantemente uma frase de Marx, defendendo que “a teoria se transforma em poder material tão logo se apodera das massas”. Independente de qualquer juízo de valor sobre as teses gramscianas, é bastante consensual que conhecimento tem grandes conexões com poder. Manter a população minimamente satisfeita é uma estratégia utilizada em Roma (Panis et circenses), propagada por Maquiavel (“O Príncipe”), denunciada por Florestan Fernandes (“Sociedade de classes e subdesenvolvimento”), analisada por Robert Dahl (“Poliarquia”) ad aeternum. Isso não impediu que o século XXI fosse um espectador da mesma forma ingênua de dominação de poucos sobre uma maioria.
Perceber-se como um ser ideológico e político veste de legitimidade asbposições individuais, mesmo aquelas de afastamento voluntário da participação política institucional. Se já é difícil decidir qual filme ver no cinema, quando a outra pessoa se recusa a opinar, imagine a complexidade de cuidar de um país inteiro, ou mesmo uma cidade ou condomínio.
Churchill disse da democracia: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais.” Da mesma forma podemos dizer da política ou da ideologia: ninguém diz que a busca coletiva para o bem comum, o debate, a discussão de ideias ou a dialética são perfeitas ou sem defeito. São, talvez, as piores opções - depois de excluir todo o resto. Talvez uma alternativa ainda esteja por ser inventada. Mas, certamente, o inventor precisará da política, do debate e da dialética para convencer o resto do mundo que eles
estão de costas na caverna de Platão.
1 B.A., M.Sc and PhD. Candidate / Graduado em comunicação social, mestre em Ciência Política e doutorando na mesma área.

Fonte: http://www.jucelio.com/?q=content/nega%C3%A7%C3%A3o-da-pol%C3%ADtica-por-vinicius-werneck. Acesso: 30/09/2012