quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nota aos leitores

Nobre Leitor da Revista Encontro Literário,

     Nestes 2 anos e 6 meses de atividades, eu, como editor fundador da Revista, tive o prazer de postar dezenas de textos, no intuito de compartilhar o conhecimento que, muitas vezes, ficam restritos ou hierarquizados. Além disso, tive a honra de participar e estimular a produção de textos (contos e poesias), com o objetivo de ensejar um espaço para autores novos ou aqueles mais experimentados. Porém, infelizmente, devido a compromissos profissionais e acadêmicos, já não estou mais conseguindo me dedicar como gostaria a outras atividades extras, como a da Revista. Assim, comunico meu desligamento, temporário, da Encontro Literário e deixo a "bola" com os amigos e editores da Revista Paulo Tostes e Ailton Augusto, os quais tenho a certeza que farão de tudo para continuar as atividades da Revista com qualidade.

     Por fim, também quero comunicar que realizamos uma reunião no final do mês de julho (eu, Ailton e Paulo), na qual ficou definida a paralisação temporária da Revista, para realização de um balanço do que foi construído até o momento, reestruturação da equipe e novas ações para dinamizar os trabalhos, bem como sua inserção nas redes sociais. Isso tudo para trazer a melhor informação de forma democrática !

Obrigado pela participação.

Abraços,

Raphael Reis

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Uma tentativa de abordar uma questão complexa

Uma tentativa de abordar uma questão complexa

A única ciência que dará conta de analisar os acontecimentos atuais no Brasil, de forma mais satisfatória será a História, devido sua especificidade em relação ao tempo. Mas, para aqueles que estão vivenciando os acontecimentos há uma tendência, um esforço de fazer uma análise que consiga dar uma sistematização ao pensamento e às ações humanas, a fim de entender a realidade objetiva. Contudo, os referenciais das ciências humanas para fundamentar as análises produzidas até o momento não foram suficientes para compreender ou explicar o que está em cursus , portanto, esse texto é também uma tentativa fracassada em si.

Não pretendo levantar as perguntas repetidas à exaustão, cujas respostas ainda não temos. Tampouco quero detalhar que os conceitos usuais no campo político, tais como, esquerda, direita, partido, agenda política, negociação, classe social, organização, meios de comunicação, etc., não estão funcionando, a priori, como conceitos explicativos. Então, o que me cabe? Partir de premissas, que podem ou não serem validadas.

1 Grupos sociais (noção que aqui uso é de que a sociedade está dentro do indivíduo) estão indo às ruas, com um desejo que estava latente, isto é, expressando suas reivindicações de grupo numa coletividade de diversos grupos.

Se a premissa 1 é verdadeira, para se entender o que está acontecendo, é preciso separar as reivindicações e relacioná-las aos grupos sociais e a quais frações de classe pertencem. Além disso, é muito sábio saber que “povo” não é o povo que muitas vezes se pretende personificar e defender.

2 Os grupos se juntaram, para expressar suas reivindicações específicas, numa ilusão de que assim elas poderão ser mais facilmente atendidas, devido à visibilidade e à "união", forjada, de todos e de tudo. O meio para tal foi mais importante do que algo que talvez os una. Portanto, essas manifestações têm uma característica singular que é reunir demandas variadas num mesmo espaço reivindicatório (ruas), através de um novo espaço público (redes sociais), logo tudo isso muito difuso.

Se a premissa 2 é verdadeira, entende-se a dificuldade de negociar, pois negociar o quê, com quem e com quais grupos?

3 Se não for um modismo, ficará no ar um risco iminente, pois as maneiras tradicionais de se organizar e de se representar estão perdendo poder simbólico.

Se a premissa 3 é verdadeira, haverá uma intensificação das lutas e, por conseguinte, o campo político sofrerá modificações significativas e imprevisíveis.

4 Visto a especificidade da premissa 1 e o caráter “futurológico” da 3, não adiantará atender a uma demanda específica, pois não são pessoas ou um grupo reivindicando, e sim grupos, em suas diversas complexidades.

Como saída para o labirinto posto, caso a premissa 3 seja verdadeira, ou teremos um recrudescimento do governo ou aperfeiçoamento do jogo democrático - o meio termo não será aceito ou exequível, até mesmo porque não está em discussão a superação do sistema.

5 Por último, uma premissa que não é minha e que, tampouco, é referente ao nosso contexto, mas pode funcionar como tal. Gramsci (Caderno do Cárcere, v.3, pp. 262-263) faz a seguinte reflexão: “que uma multidão de pessoas dominadas pelos interesses imediatos ou tomadas pela paixão suscitadas pelas impressões momentâneas, transmitidas acriticamente de boca em boca, unifica-se na decisão coletiva pior, que corresponde aos mais baixos instintos bestiais".

Se a premissa 3 for total o parcialmente inválida e a premissa 5 válida, haverá uma despolitização perigosa, revelada em ações que degradam o patrimônio público, que violentam direitos conquistados e que esquecem o cursus de lutas históricas. Pior, que coisas complexas sejam tratadas ainda mais de maneira superficial, festeira.

Raphael Reis
Juiz de Fora, 22 de junho de 2013

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Uma nova agenda para as políticas públicas do livro e leitura no Brasil: o surgimeno do PNLL


UMA NOVA AGENDA PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO LIVRO E LEITURA NO
BRASIL: O PLANO NACIONAL DO LIVRO E LEITURA (PNLL)

Raphael de Oliveira Reis
Resumo: A realidade do livro e da leitura no Brasil está numa situação nada satisfatória. A última pesquisa

divulgada pelo Instituto Pró-Ler (Retratos da Leitura, 2012) aponta que o Brasil continua com um baixo índice de leitura, totalizando 4,1 livros por habitante/ano entre os entrevistados, sendo 2,1 inteiros e 2,0 em partes (IPL, Retratos da Leitura, 2012, p. 71). Esse índice, bem como outros resultados da pesquisa mostram as dificuldades de se construir um país de leitores, que encontra obstáculos históricos, socioeconômicos e educacionais. Dessa forma, o presente artigo pretende fazer uma breve contextualização do leitor, livro e leitura no Brasil e, principalmente, mostrar como o livro e a leitura ganharam espaço numa nova agenda de políticas públicas na área cultural e educacional, especificamente, no século XXI, com a proposta de consolidar uma política de Estado para o Livro e a Leitura com o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), em 2006. Assim, vamos fazer considerações sobre PNLL, o qual está estruturado em 4 eixos, a saber: 1º) democratização do acesso; 2º) fomento à leitura e à formação de mediadores; 3º) valorização da cultura e comunicação; e 4º) desenvolvimento da economia do livro. A fim de fazer uma breve contextualização do leitor, livro e leitura no Brasil, bem como a construção de um público leitor, vamos dialogar principalmente com Lindoso (2004) e com a pesquisa Retratos da Leitura de 2012, realizada pelo Instituto Pró-Ler. Para fazer considerações sobre o PNLL, estabelecemos um diálogo mais profícuo com Neto (2010), além de usarmos reflexões teóricas, tais como, Chauí (2008), Giddens (2001) e Bresser-Pereira (1995), com a finalidade de discutirmos a concepção de Estado que permeia o PNLL e a relação entre Estado e Cultura.

Palavras-Chave: Políticas Públicas do livro e leitura; Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL); Estado e Cultura.

domingo, 5 de maio de 2013

Seminário União e Indústria está com as inscrições abertas

união

Seminário União e Indústria está com as inscrições abertas

Estão abertas as inscrições para o seminário União e Indústria: uma Estrada Para o Futuro - Legado e Possibilidades, que ocorre nos dias 10 e 11 de maio, sexta e sábado (veja a programação). O evento é realizado pelo Museu Mariano Procópio e os interessados devem se inscrever, gratuitamente, pelo telefone (32) 3690-2027, de segunda a sexta-feira, no horário das 8h às 12h e das 14h às 18h. A programação integra às atividades científicas da exposição União e Indústria: uma Estrada Para o Futuro, que está sendo promovida até 18 de maio, no Espaço Cultural dos Correios, na rua Marechal Deodoro 470, Centro.

As inscrições devem ser realizadas separadamente para cada dia de seminário, sendo que, no dia 11, será feita uma visita mediada à exposição, com o curador Pedro Vasques. Para esta atividade estão sendo disponibilizadas 20 vagas. O público-alvo do seminário são estudantes e profissionais de museologia, história, turismo, artes, arquitetura, educação, fotografia e áreas afins. O evento tem como objetivo estimular reflexões, debates e possibilidades do patrimônio material e imaterial legado pela estrada inaugurada em 23 de junho de 1861, ligando Petrópolis a Juiz de Fora.

A programação do seminário, além da visita especial à exposição, conta com três conferências, que serão ministradas no dia 10 de maio, a partir das 14h, no auditório do Banco do Brasil, na rua Halfeld 770, Centro. Estas atividades ficam a cargo dos especialistas Mário Chagas, da Unirio e do Museu da República; Cláudia Storino, do Sítio Burle Marx/Ibram; Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial de Petrópolis, RJ; Maraliz de Castro Vieira Christo e Afonso Rodrigues, da Universidade Federal de Juiz de Fora; e Patrícia Falco Genovez, Universidade do Vale do Rio Doce.

Fonte: http://www.acessa.com/cultura/arquivo/noticias/2013/05/04-seminario-uniao-e-industria-esta-com-as-inscricoes-abertas/. Acesso em: 05 de maio de 2013.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Resultado do Concurso Literário do Edital 05/2013 - Gênero Conto

Prezados leitores,


é com prazer que trazemos ao conhecimento do público os textos escolhidos no certame do Edital 05/2013 organizado pela Revista Encontro Literário. Como estava previsto no edital, foram selecionados 03 (três) contos para serem publicados na página da revista. Esses textos serão exibidos em postagens separadas, logo abaixo desta. Estão dispostos em ordem alfabética segundo seus títulos, ou seja, a ordem em que são apresentados não corresponde a uma classificação.


Agradecemos a todos os participantes e aos leitores da Revista. Esperamos que vocês possam continuar participando dos nossos editais, além de acompanhar as postagens que são feitas mensalmente por nossos editores.


Informamos aos autores dos textos selecionados que o envio dos certificados de Menção Honrosa e do livro indicado no edital como premiação será feito até o dia 30/06/2013.


Relação de Contos Selecionados

Becos, de Teresa Margarida Pedrosa Cardoso
O mundo de Macbeth, de Stefane Soares Pereira
O quadro, de Ana Luiza Drummond

Conto selecionado no Edital 05/2013: "Becos"

Becos

por Teresa Margarida Pedrosa Cardoso *

Um homem caminhava pelo deserto há longos dias. Seguia de joelhos, parecendo empenhado como um pagador de promessas. Seguia concentrado na paisagem que lhe surgia à frente. Imutável. Reveladora de uma eternidade sufocadora. Seguia indiferente ao que deixava para trás, ao que o ladeava. E, porque deveria ser diferente? Afinal, o homem era um mero peão num cenário de quase-vácuo, pontuado por ornamentos supérfluos que se repetiam e reciclavam. Era um peão manipulado por um desejo forte de salvamento instantâneo, o que quer que fosse que isso significasse: vida ou morte. O homem aspirava somente a uma resolução milagrosa que o libertasse da sensação de encurralamento. Porque, apesar de se estender à sua frente uma infindável imensidão, havia muito que perdera a bússola. Havia muito que suspeitava andar em círculo; havia muito que suspeitava ter pisado vezes incontáveis as mesmas areias. Estava desorientado, e a única força que o mantinha em movimento era uma crença. A crença de que desistir de caminhar só o afastaria da concretização do milagre que o haveria de libertar.

Entretanto, a sua pele travava batalhas épicas contra insectos famintos e furiosos. Em breve, a aridez do clima faria surgir espinhos à sua superfície e, acabaria por mimetizar um cacto. E, se não encontrasse a saída, o homem e o ambiente não tardariam a fundir e a confundir-se. Porque o deserto parecia um predador, movido por um ávido desejo de engolir o homem. Era aquele silêncio que ensurdecia; era aquele calor que inabilitava o raciocínio astuto; era aquele ar denso que sufocava; era aquele vento que, por vezes, o esbofeteava com punhados de areia.

Em momentos de cansaço, lágrimas misturavam-se com sangue e medo com raiva. A sua mente ameaçava tornar-se numa arca caótica, onde a fantasia tomaria o lugar da realidade, a ânsia de uma solução imediata e a força para a procurar seriam substituídas por cobardia e fraqueza. Deixar-se abandonar, secar, morder era uma ideia recorrente, e demasiado apetecível em ensejos de desgraça. Perseverar tornou-se um gradiente crescente de flagelos. Mexer-se tornou-se uma odisseia amarga. Pensar tornou-se uma tortura. Via a vida segmentada como se a visionasse numa película de filme mudo, entre demorados piscar-de-olhos, e projectada sobre um fundo negro e enfermo. Naquelas ocasiões, parecia-lhe que o passado e o presente se enquadravam mutuamente. Num ápice, chegou ao topo da escala da auto-comiseração e ergueu a bandeira do desespero. E, veio-lhe do fundo do seu coração esquartejado, uma necessidade imperiosa de desembaraçar o mundo de si, de expurgá-lo de qualquer prova da sua existência. Se ao menos o seu coração fosse uma sombra, um vulto diáfano…

Até que…se deparou com um oásis. Foi uma réstia de água, foi a sombra fragmentada de uma palmeira mas, foi sobretudo o consolo da novidade na paisagem que lhe deu um novo impulso, que lhe ressuscitou a esperança, quase morta, num destino sensato e profícuo. E, foi então que decidiu jamais voltar a duvidar, a hesitar, a congeminar uma desistência. Ao contrário, restabeleceu-se e reergueu o seu corpo. Gritos oriundos das profundezas do seu âmago retaliaram a morte outrora anunciada. O calor da areia quente sob os pés incitou-o a correr, a saltar, a voar. Uma antiga bênção celta escapou-lhe por entre os lábios: «Que a estrada se erga para te encontrar, que o vento esteja sempre nas tuas costas, que o sol brilhe quente na tua face, que a chuva caia suavemente no teu campo, e até te encontrar de novo, que Deus te guarde na palma da Sua mão.»

E, um dia, depois de muitos dias iguais, recheados da mesma areia, do vento derrubador, de insectos sanguinários e de securas letais, encontrou a porta do mundo. Foi uma descoberta tão inesperada, que o homem se sentiu inábil e ignóbil. Sentiu-se frágil e hesitante. E, se a porta escondesse pesadelos maiores? Não, não! «Jamais voltar a duvidar, a hesitar, a congeminar uma desistência.» foram as palavras que instantaneamente assaltaram o seu cérebro confuso, tornando explícito o seu dever. Abriu a porta. Maravilhado com o cenário que se espraiava diante dos seus olhos, deu um passo. E, porque não se apercebeu do buraco profundo que o separava do cenário encantatório que o cegava, caiu.

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Teresa Margarida Pedrosa Cardoso tem 33 anos. Nasceu e vive em Portugal. Licenciada em Biologia e doutora em Bioquímica, trabalha como professora universitária. Apesar de possuir um conjunto de textos em poesia e prosa escritos, publica somente trabalhos de caráter científico. Antes da participação na Revista Encontro Literário, apenas em uma ocasião havia publicado um dos seus trabalhos de índole literária. Isto aconteceu no âmbito de uma ação promovida por um agente cultural com o objetivo de aproximar a poesia dos habitantes da sua cidade. 

Conto selecionado no Edital 05/2013: "O mundo de Macbeth"

O mundo de Macbeth

por  Stefane Soares Pereira *

Dizem que a partir de uma era denominada moderna a humanidade passou a ter consciência das barbaridades que tencionaram na vida do outro. Retomaram as tragédias gregas e as esboçaram em arte, em beleza e encantamento. O saber humanista expandiu-se também para as leis e os bárbaros subiram ao palco grego e dançaram em alegria amistosa e aspiraram à liberdade.
E muita fé religiosa e não religiosa conspirou em corações ansiosos de esperança. E essa crença persistiu em meio a artigos e pronunciamentos políticos. Até que um dia pedi que as estrelas escondessem suas chamas, e que não deixasse sua luz irradiar em meus desejos sombrios e profundos.
Era eu o presidente da Comissão dos Direitos Humanos e da Cidadania. Eu que um dia me encontrava em meio a papeis e jornais e livros que a elite jogava fora. Eu que não tinha nada comecei a lê-los e imaginar que um dia eu também estaria no jornal, eu também faria diferença no mundo. Fiz vestibular e cheguei onde queria. Nunca senti medo da minha natureza. Alçar grandes voos era o meu destino.
Casei-me e estava feliz. Ganhava muito bem, trabalha três dias da semana e amava as férias na Europa. Mas não algo me dizia que mudanças deveriam acontecer. Como uma profecia as forças do mal já prediziam, desde minha infância, minha indignidade.
Com alta idade testava os sentimentos psicopatas abusando das garotinhas lindas que estavam da puberdade, assim como das mães das mães das mães e também dos garotinhos de classe média que amam voltar tarde para casa. Procura uma explicação freudiana para além do mal. Todavia, não encontrei. Então quando virei gente resolvi fingir que era uma pessoa comum. Até que me cansei.
E então quando eu atingi a agulha da torre eu resolvi expor todo o meu veneno. Ultrapassar constituições e afirmar meus ideais publicamente. Minha aversão aos negros, aos homossexuais e, claro, também as mulheres, embora eu as amasse como minhas servas. Sempre as escolhi para poder manipulá-las e afirmar minha masculinidade.
A humilhação me alimenta. Negar as férias dos empregados, o repouso, o lazer, colocar criança para trabalhar, se for escurinha então que sustento! Punir meu próprio filho porque ele espancou um pedinte? Jamais! Há pessoas que não tem direito à vida. A legislação faz essa imposição porque sabe que não funciona na prática. E quem fomenta o cumprimento desses direitos acaba perdendo, a vida.
O capitalismo se institui e permanece não porque as pessoas querem ser solidárias. Se o fossem seríamos comunistas! Por isso sou homem das leis, assim como muitos são homens da vida, os quais podem decidir o quanto de despesas a sociedade deve produzir e o quanto de lucro deve gerar para seus usufrutos.
A cobiça nos nutre e para isso devemos nos silenciar quando somos beneficiados, silenciar quando o outro é injustiçado e sorrir para todo o todo, afinal, cada um vive por si. Assim, cheguei ao auge, mas logo o mundo me mostrou que a soberania não me pertencia, ela não me é suprema; quando os pequenos me mostraram que mesmo agindo a meu favor ininterruptamente um dia eu mesmo encontraria o meu inferno dantesco. E antes desse artifício minha esposa me trapaceou, prendendo-me em uma ilha sombria, perseguidora e tenebrosa. 

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* Stefane Soares Pereira, vive em Juiz de Fora. É mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutoranda da mesma instituição.

Conto selecionado no Edital 05/2013: "O quadro"

O quadro

por Ana Luiza Drummond *

É possível que um dia eu me apaixone pelas obras de Pollock. Isso já me aconteceu antes. Passei muito tempo odiando Borges, acusando-o de pseudoescritor, simplesmente por que não entendia bulhufas de seu Tlön. Familiarizei-me com ele após a 5ª leitura, hoje já devo estar na 15ª; daqui a um tempo o decoro, mas ainda me custa sua amplitude desgovernada. Pois é, mas enquanto isso, continuo odiando Pollock e seu estrelismo medido, contrário aos seus pingos e riscos (por mais que ele negue). É por isso que estou agindo dessa forma (gosto disso mais do que acredito e menos do que não espero?). Mantenho-me distante, do outro lado da sala, e espero pela resolução da cena. Já explico: essa é sua primeira exposição e ele está orgulhoso de si, embora demasiadamente nervoso. Não nego que talvez, no início, eu tenha tentado desencorajá-lo. Penso mesmo que cheguei a dizer que via Pollock em seus quadros, sabendo eu que sabia ele minha repulsa. Sou uma pessoa sem o gift do inglês, embora me sobre o do alemão (sempre me apeteceu esse péssimo joguinho, pois que fique!). Não tenho problema algum com a arte moderna, embora me encante a l’art pour l’art. O problema é que eu não considero nenhuma de suas obras como arte. Ele se prepara, eu o encaro. Baixa-se, então, o pano. Sua mais recente e estimada obra, que ninguém, exceto ele, havia visto, está exposta. Ponho-me diante dela e a miro, com toda minha força. Um jato de gargalhadas jorra de dentro de mim sem que eu consiga obstruí-lo. Saio em retirada molhando e contaminando a todos os presentes, que ao mesmo tempo se unem a mim naquela sensação molhada de não sei quê. Passo por uma porta entreaberta e vejo-me numa sala difusa. Ao mesmo tempo, entra a correnteza dos demais. Não consigo me controlar e temo pelo pior: sua reputação. Eu o amava. Mas então, que fazia eu? Ao me perguntar, acabei percebendo. Na verdade, eu não fazia nada. Ele é quem fazia! Não havíamos apenas mirado sua obra: estávamos dentro dela! Ele? De costas, do outro lado da porta, ia se retirando enquanto nos afogávamos. 

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* Ana Luiza Drummond nasceu em Ferros, Minas Gerais, em 1988. Atualmente cursa Bacharelado em Estudos Literários e Licenciatura em Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Ouro Preto e é professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual Cônego Braga. Publicou recentemente o conto “O pio da coã”, na antologia de contos Fantasiando, além de crônica em revistas semanais. Possui ainda artigos publicados na área da Literatura e da Educação.

domingo, 14 de abril de 2013

Quinze Contos Mais - Volume II


Talvez os leitores se lembrem que ali pelo mês de outubro/2012 fizemos uma postagem sobre a Coletânea Quinze Contos Mais. Naquela ocasião, dois editores da Encontro Literário - Raphael Reis e Ailton Augusto - tiveram trabalhos selecionados para participar da publicação.

Pois bem: agora a possibilidade de participação no Quinze Contos está aberta novamente e se você não mandou seu conto para nós da Encontro Literário ou tem outros escritos guardados, pode participar da Chamada 01-2013, que a Helena Frenzel já colocou no ar.

O prazo de envio dos trabalhos começa amanhã, 15/04, e vai até o fim do mês. Participe e boa sorte! Para mais informações, acesse: http://quinzecontosmais.blogspot.com.br/2013/02/chamada-01-2013.html

sábado, 13 de abril de 2013

Resenha de Filme: La educación prohibida


LA EDUCACIÓN prohibida. Realização integral: German Doin. [s.l.], 145 min., legendado. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-1Y9OqSJKCc. Acesso em: 21 mar. 2013.


Divulgado na internet a partir de agosto de 2012, o filme-documentário La educación prohibida apresenta algumas experiências que ousaram transgredir o modelo educativo tradicional, constituindo-se em um tentador convite à reflexão sobre a instituição escolar e as práticas educativas. Trata-se de um material particularmente indicado para professores que já atuam em sala de aula ou que ainda estão se formando e, também, para todos aqueles que desejam um futuro livre para seus filhos, sobrinhos, primos e conhecidos.
Aliás, um futuro sem embaraços parece ser a preocupação dos idealizadores da película, que a dedicam “às crianças e aos jovens que desejam crescer em liberdade”. A trama é composta por uma história fictícia de fundo, perpassada por recortes de entrevistas feitas com especialistas de países ibero-americanos. Nesta história de fundo, é apresentado um confronto entre docentes e alunos motivado pelo desejo destes últimos de ler um texto dito “ofensivo” numa comemoração que está por realizar-se na escola. Tal caracterização do texto se baseia nas suas fortes críticas à ausência de vínculos entre escola e vida. Para os alunos que o escreveram, a educação que prepara para a vida está proibida.
Partindo dessa situação, enfoca-se o status da instituição escolar. Embora a educação seja um tema importante, que mobiliza debates e investimentos os mais variados, existe uma uniformidade de práticas (apesar da multiplicidade de escolas existentes) que se orienta, quase que exclusivamente, para a formação de trabalhadores, relegando a formação do ser humano a segundo plano. Isso explicaria por que, nas palavras de Carlos Alberto Jiménez Vélez, neuro-pedagogo colombiano, as escolas e colégios latino-americanos não são mais que “espaços de tédio e aborrecimento”.
No entanto, a escola que conhecemos não existe “desde sempre” e o filme faz uma breve digressão histórica para explicar o surgimento do conceito de educação pública, gratuita e obrigatória no final do século XVIII na Prússia. Além disso, é explicitada a conveniência do modelo educativo atual para as sociedades industriais, que fizeram da escola um espaço de reprodução simbólica serializada; uma grande linha de produção. Diante deste quadro, o chileno Rafael González Heck destaca o mote do filme: “Toda educação que busque algo diferente tem que ser proibida”.
Feita esta introdução, o documentário dirige sua atenção para a diferença que se estabelece entre a escola (estes “espaços de tédio”) e a educação ou, melhor dito, o processo de aprendizado. Expõe-se o fato de que as crianças são predispostas a aprender, sendo desnecessária e até nociva a intervenção dos adultos através do processo educativo que nós conhecemos. Um dos entrevistados, o espanhol Juan Pere, explica que focalizar os objetivos educacionais (aprender a escrever o próprio nome, por exemplo) desvia nossa atenção e “deixamos de enxergar a criança para tentar adaptá-la aos objetivos impostos”.
O filme trata ainda de outros temas, como a tendência da escola a homogeneizar os alunos, desrespeitando o ritmo da criança. Para resumir, citamos a assertiva do pediatra espanhol Carlos González: “tudo o que a criança faz está inadequado, se espera que ela seja uma criança protótipo”.
Outro dos temas tratados que nos importa destacar é a questão da mudança de paradigma do professor. Para fomentar o pensamento sobre o papel do docente, colocam-se algumas perguntas cujas respostas são, obrigatoriamente, muito pessoais. Por exemplo: o que sinto quando estou educando?
Após um cortejo de situações que impõem a necessidade de refletir sobre o modelo educativo em voga, o filme termina com a leitura do texto sobre a educação proibida, aquela que não se escreve em nenhum caderno. Este texto, que veio sendo debatido na história de fundo, faz mais que defender a educação que ficou de fora das escolas, ele nos acusa: “Acreditamos que a educação está proibida não por culpa dos familiares, não por culpa das crianças, nem por culpa dos docentes. Todos proibimos a educação”.
A título de conclusão, podemos dizer que, se ainda não podemos prescindir da escola, o filme nos leva a desejar que possamos ao menos prescindir dos males da escolarização excessiva. É esse o compromisso que nos vemos em posição de assumir após assistir La educación prohibida.

Pós-escrito: Se faltam a este texto as "marcas autorais" que permitiriam irmaná-lo às demais colunas que escrevo para a Revista Encontro Literário é porque, originalmente, ele foi escrito como avaliação para uma das disciplinas que cursei na UFJF no último período. Aproveito o ensejo desta explicação para colocar o trailer oficial do filme acima resenhado:


domingo, 7 de abril de 2013

Releituras


Por Renata Delage
Os livros guardados nas prateleiras de Maria Lúcia Ribeiro, vez ou outra, tornam a repousar em sua cabeceira. Sobretudo os clássicos, que, segundo a doutora em teoria da literatura, suportam várias leituras. "A releitura é, na verdade, uma nova leitura. Você escolhe um livro para revisitar um personagem ou para ver se ainda gosta dele e, muitas vezes, descobre que parece que nunca o leu", diz. Para ela, o primeiro contato com as linhas do texto servem ao "reconhecimento do terreno", a um mapeamento da história. Mas as diversas possibilidades de sentidos, os detalhes que se escondem em cada página, só são apreendidos posteriormente. "Não que a primeira leitura não seja capaz de te levar a alguma compreensão. Mas os sentidos mais amplos de tal obra vão sendo construídos sobre os sentidos iniciais", avalia.
"Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, é um dos clássicos que está sendo revisto pela pesquisadora, assim como os escritos de Rubem Fonseca e Clarice Lispector. "Depois de alguns anos, estou amando lê-los mais uma vez", enfatiza Maria Lúcia, que diz dedicar boa parte de seu tempo à tarefa.
O hábito de reler livros e rever filmes - comum a muitas pessoas - despertou a curiosidade da professora Cristel Antonia Russell, da Amercian University, dos Estados Unidos. Com base na pesquisa publicada no "Journal of Consumer Research", que contou com entrevistas de pessoas de várias faixas etárias, a especialista identificou as razões para o que chamou de "reconsumo" de obras, bem como os benefícios da prática.
Segundo Cristel, o hábito pode estar vinculado à necessidade de encontrar camadas de significado mais profundas. O "reconsumo", mais que uma tentativa de reviver o passado, é uma busca que pode levar a grandes descobertas pessoais. O mercado se esforça para lançar histórias sempre frescas, mas, segundo constatou a PhD em marketing, deveria voltar seu olhar às velhas experiências, que são também aptas a abrir novas perspectivas.

A releitura de uma obra preferida permite o confronto entre as interpretações do material em distintas fases da vida. O estudo de Cristel cita como exemplo a história de um dos participantes, um pastor evangélico, que releu a Bíblia inúmeras vezes ao longo da vida. O pastor constatou que, de acordo com sua idade, interpretava as passagens de modo diferente, um sinal de amadurecimento.
Tal contraste entre o "eu atual" e o "eu do passado" é ocasionado pelos novos olhares que só vêm com a maturidade, segundo a professora do CES, mestre em psicologia, Ana Maria Mattos de Andrade. "Além da possibilidade de poder ter uma visão mais profunda sobre o tema e seus desdobramentos, as conexões que são feitas a partir de acontecimentos da atualidade estarão mais atuantes nessas novas interpretações", acrescenta.
O tempo foi fundamental para o trabalho do poeta e professor da Faculdade de Letras da UFJF, Alexandre Faria. Os versos escritos aos 17 anos só foram publicados 25 anos depois, em 2012, em "Lágrima palhaça", que tem selo da Aquela Editora. Os originais, esquecidos em um caderno com o desenho de um circo a lápis na capa, foram submetidos, segundo o autor, a um processo de "laminação". "Fui sobrepondo camadas de silêncio, e permanecem apenas alguns sons, ou imagens ou frases", constata.
Reler os textos - e lapidá-los tantos anos após sua criação - foi para o poeta um "reencontro". "Um reencontro com alguém que tinha sido e que - felizmente - não deixei de ser." A releitura despertou questionamentos sobre o envelhecimento e, em mesma proporção, sobre o rejuvenescimento, já que tantos traços pessoais permanecem, de certa forma, intactos. Já em relação à poesia, o autor revela ter se deparado com uma transformação brutal. "Eram versos longos, cheios de rimas", conta. "Foi um desafio rever o moleque de antigamente."
Em seu processo de criação, o poeta destaca a releitura constante, essencial ao fechamento do trabalho, mas não cultiva o hábito de rever sua obra após a publicação. "Acredito que depois de publicado meu trabalho alcança uma cristalização." O mesmo não acontece, conforme ele, com outras obras literárias, cujo processo de descobertas permanece em aberto. "Machado de Assis, por exemplo, é um dos autores que sempre releio", diz.
Outros motivos são apontados para explicar o recorrente hábito de revisitar obras literárias ou cinematográficas com frequência. Pesquisas apontam que indivíduos "consomem" o mesmo produto porque o cérebro já sabe a recompensa conquistada a partir desse contato, como a satisfação, o relaxamento e a alegria. "Muitas vezes as obras de arte se relacionam a momentos marcantes, são pontes que nos levam às sensações de determinada época da vida", ressalta a psicóloga Ana Maria. "A arte tem muito a ver com a contemplação, processo que pode levar tempo e ser repetitivo", acrescenta.
A repetição aparece como um método de estudo e memorização, que culmina em aprendizagem, outro caminho que nem sempre é consciente. "Nisso a criança é muito sábia", pontua Maria Lúcia Ribeiro. "Quando ela escuta o disquinho de músicas dela ou assiste a um DVD de um desenho animado, não dá muita bola da primeira vez. Mas ela repete, repete, repete e começa a se encantar com ele, logo o sabe de cor", exemplifica. "Se você conta uma história de determinada forma e, em uma segunda vez, muda alguma coisa, ela vai te dar uma bronca. Ela insiste porque, assim, aprende. Ora, conosco não poderia ser diferente", conclui Maria Lúcia.

domingo, 24 de março de 2013

Plano Municipal de Juventude (Juiz de Fora)


Ao convidar cada cidadão e cidadã para debater e propor diretrizes sobre a juventude em Juiz de Fora, damos mais um passo para consolidar uma forma coletiva de fazer política, em que a responsabilidade é de todos. Seja através de encontros presenciais ou virtuais, convidamos a comunidade para construirmos, juntos, o melhor Plano possível para a juventude em Juiz de Fora. Participe!

Para mais informações:

www.jucelio.com/juventude

quarta-feira, 20 de março de 2013

Dica de Leitura: A Tempestade, de William Shakespeare

A obra A Tempestade é apontada como uma das últimas de Shakespeare, tendo sido escrita em 1611 e ido aos palcos pela primeira vez nesse mesmo ano. A peça está dividida em três partes e reflete bem a sagacidade do dramaturgo ao apresentar desde então aquilo que configuraria o sistema colonialista europeu...
A história apresenta então um duque de Milão, chamado Próspero, possuidor de uma grande biblioteca e estudioso da magia. Após ser usurpado do ducado por seu irmão, Antônio, com a ajuda do rei de Nápoles, Alonso, Próspero e sua filha Miranda são lançados ao mar, indo parar numa ilha. Lá, vivem apenas uma bruxa, que foi morta pela magia de Próspero, e o filho da bruxa, um monstro chamado Calibã, que se torna escravo de Próspero e aprende sua língua. A partir disso, começam os enfrentamentos e paralelos entre o habitante da ilha e o europeu, o que todo sistema colonial viria trazer à tona, dando mais vigor ainda à peça shakespereana...
Um dos pontos marcantes da comédia se dá quando, após uma viagem à África para ceder sua filha a um rei, Alonso retorna à Nápoles com o seu filho, o príncipe Fernando, Antônio (o usurpador) e outras figuras da nobreza, acabam naufragando diante de uma tempestade provocada por Próspero. Sendo levados então até à ilha onde está Próspero, desenrola-se enfim toda vingança de Próspero... Em meio a esse confronto entre os nobres italianos, a obra traz também traz o romance entre o filho do rei de Nápoles com Miranda, filha de Próspero, além de ser um texto rico em simbolismo e arquétipos que Shakespeare tão bem desenvolveu ao longo de sua obra, ao refletir a essência da criatura humana. Ou seja, perpassando o drama e a comédia, A tempestade é uma das obras-primas do dramaturgo inglês e tem como tema fundamental e preferido de Shaskespeare o poder e tudo o que os homens são capazes de fazer para tê-lo a favor de seus interesses mais sórdidos...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Seleção de Contos - Edital 05/2013



Edital 05 - 2013 (Conto)
A Revista Encontro Literário, inscrita no ISSN 2237-9401, tem como objetivo fomentar a produção literária, bem como estimular o prazer da leitura. Para isso, publicaremos dois editais: o do primeiro semestre será dedicado ao gênero Conto e o do segundo semestre ao gênero Poesia.

REGULAMENTO
Art. 1º – A Revista Encontro Literário, por meio deste edital, abre inscrições para publicação de Contos, com temática livre.
§ 1º – As inscrições são gratuitas.
§ 2º – Ao se inscreverem, todos os candidatos aceitarão automaticamente todas as cláusulas e condições estabelecidas no presente regulamento.
Art. 2º - Será considerada somente a participação de pessoas com idade de 15 anos adiante.
Das inscrições
Art. 3º – O edital é aberto a todos os interessados, desde que o texto seja escrito em língua portuguesa.
Art. 3º – As inscrições serão realizadas através do e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br no período de 1 de março a 05 de abril de 2013.
Parágrafo único – Não serão aceitos textos discriminatórios, pornográficos ou que façam apologia às drogas.
Art. 4º – Cada participante pode se inscrever com 1 (uma) produção literária. Os contos devem ser inéditos, ou seja, que ainda não tenham sido publicados em livros, jornais ou outros meios.
§ 1º – Os contos devem ser enviados em arquivo Word (preferencialmente versão 2003), para o e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br, com pseudônimo e título.
§ 2º - Em arquivo separado da obra, devem ser enviadas as seguintes informações: título da obra, pseudônimo, nome completo, endereço completo, telefone de contato e e-mail, bem como uma mini-biografia.
§ 4º - Os trabalhos devem ser digitados em editor de texto eletrônico Word (preferencialmente versão 2003), seguindo as seguintes configurações:
a) Fonte Arial ou Times Roman, tamanho 12;
b) Espaçamento entre linhas de 1,5 cm.
c) Cada conto não deve exceder o limite de 02 (duas) laudas.


Art. 5º – Serão selecionados 3 (três) contos, para publicação no site da Revista Encontro Literário, inscrito no endereço www.revistaencontroliterario.blogspot.com
§ 1º – Ao enviar as produções literárias, o participante tem a plena consciência de que autoriza a Revista Encontro Literário a publicar suas obras sem nenhuma espécie de ônus para a Revista.
Premiação
Art. 1º - Os autores que tiverem seus contos selecionados para publicação receberão como premiação:
a)    1 (um) exemplar da obra “Contos”, de Machado de Assis, e 1 (um) exemplar da obra “Contos que Machado de Assis e Jorge Luis Borges Elogiaram”, de Raphael de Oliveira Reis.
Da comissão julgadora
Art. 6º – A Comissão Julgadora é composta pelos editores e colaboradores da Revista.
Parágrafo único – A Comissão Julgadora terá autonomia no julgamento, isto é, a decisão da comissão é irrevogável.
Do resultado
Art. 7º – O resultado do Concurso será divulgado, em maio de 2013, no site www.revistaencontroliterario.blogspot.com. A publicação das obras selecionadas acontecerá no mesmo mês.
Das disposições finais
Art. 8º – Os casos omissos serão decididos pelos Editores da Revista.
Juiz de Fora, 28 de fevereiro de 2012.
Editores
Aílton Augusto
Paulo Tostes
Raphael Reis

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Borges: a leitura no limite e o olhar sugestionado

A coluna deste mês surge por influência da indicação de leitura feita aqui nesta mesma Revista. Tratarei de esboçar algumas linhas a respeito do modo como Borges leva a leitura, tal qual a conhecemos, ao limite. E pretendo ainda mostrar como, neste processo, o autor consegue sugestionar nosso olhar, fazendo com que nós, leitores, vejamos em certas imagens/situações a realização do seu universo literário tão particular. Nenhuma das ideias é nova ou pertence exclusivamente à minha pessoa. Neste sentido, chamo especial atenção para uma conferência (em espanhol) da Dra. Alicia Poderti, intitulada "Borges en su laberinto", que nossos leitores poderão encontrar em: http://bit.ly/YqeYir

A leitura no limite

Em mais de uma ocasião Borges outorgou papel proeminente à leitura. No que tange a declarações suas repetidas à exaustão, há duas que me interessa destacar: [1] o autor disse considerar que o Paraíso seria uma espécie de biblioteca e [2] ele aludiu que as páginas lidas por um escritor seriam mais louváveis que aquelas que esse mesmo escritor já produzira. 

Além disso, o tema da leitura reponta em mais de uma obra borgeana. Para o escritor, o ato de ler, assim como a literatura, seria um ato de re-escrita e até mesmo de criação, liberado, portanto, de seguir esquemas e de prender-se exclusivamente àquilo "que o autor quis dizer". O conto Pierre Menard, autor do Quixote (presente em Ficções, de 1944) é representativo dessa particular visão do fazer literário. 

Constituído por um “arremedo” de ensaio no qual se comentam as obras que teriam sido deixadas por Pierre Menard, o texto nos apresenta a mais audaciosa das empresas deste autor fictício: a re-escrita do Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Mas tal obra é composta com as mesmas palavras de Cervantes. A diferença está no significado que tais palavras tinham no século XVII quando a obra foi publicada pela primeira vez e o significado que elas possuíam no século XX. Para o ensaísta que escreve o conto, a intenção de Menard era louvável, pois este queria “continuar sendo Pierre Menard e chegar ao Quixote através das experiências de Pierre Menard”. (BORGES, 1972, p. 52). O destaque aqui não é para o autor, e sim para o leitor, aquela pessoa capaz de ampliar uma obra para além do limite de suas páginas, acrescentando significados às palavras a partir do seu momento histórico e, mais que isso, a partir de suas próprias experiências.


Se o primeiro exemplo que dei aponta para uma concepção "libertária" da leitura, os exemplos que se seguirão apontam para uma "premonição" borgeana: a leitura que ultrapassa os limites da materialidade e se avizinha do que hoje praticamos como sujeitos inseridos em uma "sociedade da informação". 

No conto O livro de areia, apresentado pela revista como dica de leitura, somos confrontados com um livro infinito, sem começo nem fim, de contornos deslizantes como a areia. Em consonância com o ponto de vista apresentado acima, podemos supor que todo livro pode ser um livro de areia, pois cada leitor (e aí voltamos ao tema da leitura) fará um percurso próprio que não se limita ao número de páginas, um percurso que ultrapassa a materialidade da obra que tem em mãos. 

Outros dois exemplos, mais contundentes: no conto A biblioteca de Babel, também presente no já mencionado Ficções, o universo é apresentado como uma biblioteca infinita: 

"O universo (que outros chamam a Biblioteca) constitui-se de um número indefinido, e quiçá infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por varandas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente" (Borges, 1972, p. 84). 

Nesta biblioteca infinita, estão contidos todos os livros possíveis de serem escritos, sem que haja dois volumes idênticos e é impossível o conhecimento de todos eles no tempo curto da existência de um homem. 

Este conto se encerra com uma nota de rodapé que "simplifica" a questão e reduz a utilidade da vasta Biblioteca, antecipando a imagem trabalhada pelo autor no supracitado O livro de areia. Transcrevo: 

Letizia Álvarez de Toledo salientou que a vasta Biblioteca é inútil; a rigor, bastaria um só volume, de formato comum, impresso em corpo nove ou em corpo dez, composto de um número infinito de folhas infinitamente delgadas. (Cavalieri, em princípios do século XVII, disse que todo corpo sólido é justaposição de um número infinito de planos.) O manuseio desse vade mecum sedoso não seria cômodo: cada folha aparente se desdobraria em outras análogas; a inconcebível folha central não teria reverso. (Borges, 1972, p. 94) (grifo meu)

No que diz respeito à materialidade do objeto livro, nós sabemos que atualmente os textos já podem prescindir do suporte material e, habitando o espaço virtual, se deixam interceptar por links que nos direcionam sempre a novas e diferentes textualidades, como essas folhas aparentes que se desdobram em novas folhas sem reverso. Na rede, cada texto é sempre outro e sempre novo, sem começo e sem fim. Tenho a impressão de que relacionar a leitura dispersa da internet com o universo literário borgeano é um indício de como nosso olhar para o mundo foi sugestionado pela força da escrita do autor. Antes de passar para a próxima seção, deixo outra indicação de leitura, que irá esmiuçar melhor a relação de Borges com a internet e que fará isso com uma competência que me falta. Trata-se do artigo "A Biblioteca de Babel: uma metáfora para a sociedade da informação", de Johnny Virgil, disponível para leitura em: http://bit.ly/Xu6vdL

O olhar sugestionado

Em Borges y yo, texto presente no volume El hacedor, de 1960, e que é, diga-se de passagem, um falso convite à intimidade, o narrador aparente (o homem Borges, "divorciado" de sua persona de escritor) (?), assim se refere a um incômodo, causado pela convivência com sua outra parte:

Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro. (BORGES, 1997, p. 63) (grifo meu)
O que me chama a atenção nesta passagem é a alegação de que esses jogos pertencem a Borges agora. Ao transpor seus interesses "pessoais" para a literatura, colocando-os em letra de forma, o escritor estaria "roubando de si mesmo", ainda que no final do processo, pela própria repercussão de seus escritos, os jogos com o tempo e o infinito, assim como o gosto por mapas, relógios de areia e etimologias, estejam inevitavelmente associados ao seu nome. O texto já mencionado termina com uma frase que dá a justa medida da indissociação: "No sé cuál de los dos escribe esta página" (idem, p. 63).

Acredito que a força de atração que o nome de Borges exerce sobre determinados elementos de seu universo literário, fazendo com eles gravitem ao seu redor como os planetas em torno do sol, combinada com o caráter imagético de suas descrições (que pode ser comprovado por uma releitura do trecho aqui citado de A biblioteca de Babel) nos faz associar certas imagens e realidades ao seu universo literário tão particular. 

Aliás, o leitor mais atento deve ter percebido que este texto veio sendo acompanhado por algumas imagens que, à semelhança do texto borgeano, borram os limites entre o real e o fantástico. São montagens fotográficas feitas por Erik Johansson. É possível que alguns não concordem comigo, mas, desde o dia em que um amigo argentino compartilhou uma dessas imagens no Facebook e me marcou em sua publicação, não pude deixar de associar o universo visual desse artista alemão às criações de Borges, autor que, como proponho, colocou em sua literatura força suficiente para sugestionar (ou talvez subordinar) o nosso olhar, levando-nos a sempre enxergar algo de seu ao nos depararmos com imagens como estas ou com avanços tecnológicos como a internet.


Para quem tiver interesse de conhecer melhor a produção de Erik Johansson, sugiro visitar sua página pessoal: http://erikjohanssonphoto.com/. A divulgação da página responde ainda à indicação de autoria que é a condição colocada para o livre compartilhamento dessas imagens.


Obras de Borges citadas neste texto:

BORGES, Jorge Luis. Ficções. Tradução de Carlos Nejar. São Paulo: Abril Cultural, 1972

BORGES, Jorge Luis. El hacedor. Buenos Aires: Emecé, 1997


Pós-escrito: 

[1] Como qualquer outro texto publicado na Revista Encontro Literário, este também se presta a ser comentado, elogiado e criticado. Sobretudo criticado, porque não sei se fui suficientemente claro na segunda parte desta coluna, quando falo do "olhar sugestionado", que pode não passar de uma má expressão escolhida por mim para descrever o fenômeno a que faço referência.

[2] Para aqueles que sempre querem saber como o mágico tira o coelho da cartola (e tirar um pouco do encanto do espetáculo), deixo o link para um vídeo (em inglês) em que Erik Johansson explica seu processo de criação: http://youtu.be/mc0vhSseGk4

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dica de leitura: O Livro de Areia, de Jorge Luis Borges

“O número de páginas deste livro é infinito. Nenhuma é a primeira, nenhuma, a última.” (BORGES, 1999; 81)

Tendo a literatura como re-escritura, tema que contemplou amplamente em sua obra, o escritor argentino Jorge Luís Borges descreve, no Livro de Areia, uma de suas grandes “obsessões” – um livro que seja infinito. Nesse sentido, se desenrola a história de um personagem que compra um livro de um desconhecido e insistente vendedor de livros, ou Bíblias, que bate à porta de sua casa. Sem princípio nem fim, a narrativa, bem borgeana, é sempre uma nova possibilidade de leitura à medida que vai sendo lida; é como uma viagem rumo ao infinito e para lugares inimagináveis.
Eis a perturbadora impressão que “o livro” causa no personagem que o compra! Afinal, é uma leitura que nos leva, juntamente com esse personagem, ao desconhecido: “Faz alguns meses, ao entardecer, ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido (...) de traços mal conformados.” (BORGES,1999, p. 79). E ao mesmo tempo é a condição da leitura – espaço inacabado e que só se vai realizando à medida que se lê. Mas no caso do personagem central do livro de Borges, outro ponto instigante é que esse mesmo personagem não sabia ler: “Seu possuidor não sabia ler” (BORGES, 1999, p. 80).
Então, o que ele lia?
Contudo, ele “lê” fazendo-nos lê-lo, ao tentarmos decifrar o que está escrito. Percebe-se que “o livro” se confunde com nós mesmos, leitores-viajantes do infinito, quando batemos na nossa própria porta...
Ainda que breve, este pequeno texto é tão somente o convite para que possamos iniciar o contato com um dos maiores contistas e ficcionistas de todos os tempos, cosmopolita que nasceu Argentina, viveu na Europa e teve a sua obra traduzida para vários idiomas, além de ter sido nomeado, em 1955, diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Não por menos, disse certa vez: “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria”.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Escritor mineiro Luiz Ruffato vence prêmio 'Casa de las Américas' com o mais recente livro 'Domingo sem Deus'


Luiz Ruffato diz que prepara um novo livro onde abandona a temática do proletariado

Fonte: Por Mauro Morais. Acesso: http://www.tribunademinas.com.br/cultura/me-sinto-livre-para-escrever-outra-coisa-1.1225285

 Iniciada em 2005 com o romance "Mamma, son tanto felice", a pentalogia intitulada "Inferno provisório", de autoria do jornalista e escritor mineiro Luiz Ruffato chega ao fim com uma das maiores láureas da literatura feita nas Américas. O mais recente romance de Ruffato, "Domingo sem Deus", que encerra a série, ganhou, na noite da última quinta, em Havana (Cuba), o prêmio "Casa de las Américas" na categoria melhor livro brasileiro. Fundado em 1959, o prêmio é realizado pela instituição homônima, que busca promover e incentivar as artes do continente.
Produzida após o elogiado "Eles eram muitos cavalos", de 2001, que lhe rendeu os prêmios de melhor romance pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Machado de Assis pela Fundação Biblioteca Nacional, a série resulta da investigação poética do escritor sobre o proletariado brasileiro. Exercitando a linguagem fragmentária que marcou sua produção, Ruffato conclui com "Domingo sem Deus" a temática que lhe conferiu originalidade e ineditismo. "Quando decidi, em 2003, que iria escrever esses cinco volumes, eu sabia quando ia começar e quando iria parar. Não sabia delimitar o tempo, mas tinha a certeza de que terminado esse ciclo eu não queria mais trabalhar com esse tema", aponta o escritor.
Selecionado por um júri composto pelos escritores Marcelino Freire e Carola Saavedra e pela poeta, pesquisadora e produtora Suzana Vargas, "Domingo sem Deus" será traduzido para o espanhol em tiragem inicial de dez mil exemplares, consequência do prêmio que também destina US$ 3 mil ao autor. Presente na ata do júri, a justificativa afirma que a obra vencedora "apresenta diversos episódios independentes que se entrelaçam, formando o mosaico de um Brasil essencial, embora esquecido".
Natural de Cataguases e formado em Comunicação Social pela UFJF, Ruffato notabilizou-se no cenário nacional por defender a ideia do escritor como um "operário das letras", em referência direta ao universo no qual se debruçou. "Eu não escrevo para ganhar prêmios", explica, para logo concluir: "Prêmio é um acidente, é claro que é importante, mas é sempre acidental. Depende da pessoa que está lendo o seu livro naquele momento e de quem está concorrendo com você".
Apesar da identificação, tanto do público quanto da crítica especializada, de Ruffato com a temática do trabalhador, que mergulhou nesse universo até na obra "Estive em Lisboa e lembrei-me de ti" - fruto de um intercâmbio em Portugal, promovido pelo projeto editorial "Amores expressos", cujo objetivo era apresentar a literatura contemporânea nacional através de histórias de amor vividas em outras geografias -, o escritor já vislumbra outros horizontes. "Me sinto livre para escrever outra coisa", conta, atualmente ocupado com o início de uma nova obra ainda sem lançamento previsto, mas com um tema bastante diferente.
Em sua 54ª edição, o prêmio "Casa de las Américas" também contemplou outros brasileiros: Rodrigo de Souza Leão, escritor morto em 2009, recebeu menção honrosa na categoria "literatura brasileira", pela novela "Carbono pautado - memória de um auxiliar de escritório", e o mineiro Evandro Affonso Ferreira ganhou menção na mesma categoria pelo livro "O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam". O compositor e escritor Chico Buarque também se sagrou vencedor, levando o "Prêmio de narrativa José Maria Arguedas" pelo livro "Leite derramado", de 2009.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Dica de Leitura de Janeiro/2013: "As cem melhores crônicas brasileiras"

Não estranhe o leitor da revista a assinatura ao final da postagem. Por questões que fogem ao âmbito desta coluna, seu redator habitual está impedido de redigi-la e, como "o show de todo artista tem que continuar", aqui estou para substituí-lo. Espero poder fazer isso à altura.

Outro alerta: apesar da minha irregularidade na escrita da coluna pela qual sou responsável depôr em contrário, existe um planejamento mínimo para que a Revista Encontro Literário se mantenha no ar. E, de acordo com o script, a indicação de janeiro deveria contemplar alguma obra do escritor Paulo Leminski (1944-1989). 

Mea culpa

No entanto, não me vejo em condições de indicar algo de Leminski aos leitores e explicar o fato exige de mim o reconhecimento de minhas limitações (sim, limitações!). Apesar do alarde em torno do nome de Leminski e do valor dado à sua atuação em prol da poesia brasileira, abrindo caminhos novos à expressão literária em verso e prosa (poética), confesso que não o li como deveria. Talvez um ou outro poema de antologia, mas nada que me habilite para apresentar ao autor ou a uma de suas obras aqui neste espaço. 

Se resta um consolo, eu o encontro na coluna escrita pelo companheiro Raphael Reis sob os fogos que saudaram o novo ano: "Eu, enquanto leitor, quais leituras posso fazer para ampliar o meu horizonte de fabulação, fantasia e conhecimento, entre outras coisas?". Para mim já se coloca o nome de Paulo Leminski como uma resposta possível à pergunta.


Indo ao que interessa 

Uma vez que já expliquei por que sou eu quem assino a coluna desta vez e, mais que isso, por que não faço a indicação conforme o script, resta cumprir com a função principal que é indicar alguma obra que os nossos leitores possam desfrutar. Confesso tratar-se de uma indicação oportunista. 

Neste mês, tivemos duas efemérides literárias que foram o ponto de partida desta indicação: os 90 anos que teria comemorado o cronista Sérgio Porto no dia 11 e, no dia seguinte, a comemoração pelo centenário de nascimento de Rubem Braga, inventor da (moderna) crônica brasileira [1]. A Folha de São Paulo do dia 12/01/2013, sábado, dedicou uma página da Ilustrada a Rubem Braga e, na edição de domingo (13), deu a público na Ilustríssima duas crônicas suas que estão por ser lançadas em volumes comemorativos. A matéria do sábado destacava também o pouco alarde em torno do aniversário de Sérgio Porto (ou Stanislaw Ponte Preta, como ficou mais conhecido).

Indo ao que interessa, devo dizer que a leitura dessa reportagem me deixou animado com a possibilidade de indicar uma obra de um desses autores, aproveitando a oportunidade dessas datas comemorativas. Mas, tratando de evitar esquecimentos como o que foi mencionado pela Folha, terminei optando por uma antologia que tem condições de apresentar não só os dois autores assinalados, mas também outros que se dedicaram ao cultivo deste gênero tão brasileiro. As cem melhores crônicas brasileiras (Ed. Objetiva, 351 págs.), volume organizado por Joaquim Ferreira dos Santos, traz uma seleção de textos de 62 autores, de variadas gerações literárias, começando por Machado de Assis ainda no século XIX e terminando com  Carlos Heitor Cony e Antonio Prata, entre outros, nos anos 2000. Entre uma ponta e outra, textos de Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e, claro, Rubem Braga e Stanislaw Ponte Preta, além de textos de autores como Olavo Bilac e Caetano Veloso, que normalmente não associamos à crônica. Antes que eu me esqueça: um dos textos escolhidos pelo organizador do volume é a crônica Complexo de vira-latas, de Nelson Rodrigues, a qual tem rendido muita discussão desde a sua publicação à época da Copa do Mundo de 1958.

O livro está dividido em partes sequenciadas cronologicamente, sendo cada uma delas iniciada com um breve panorama da época que será enfocada e que enfeixa textos dos seguintes períodos: de 1850 a 1920, de 1920 a 1950, anos 1950, anos 1960, anos 1970, anos 1980, anos 1980, anos 1990 e anos 2000. Além disso, o volume conta com uma introdução bastante feliz na explicação não só dos critérios de seleção dos textos [2] como também da dificuldade em delimitar o que vem a ser a crônica. A respeito da delimitação do gênero, assim se pronuncia Machado de Assis no texto que abre a antologia: 

Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma diz que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Temos aí destacadas pelo menos duas características da crônica: a primeira é seu caráter "informal", que Machado justifica atribuindo-lhe uma origem banal (o bate-papo de duas vizinhas) e a segunda se refere a seu conteúdo e função - a crônica pretende tecer um comentário sobre assuntos que estão com alguma visibilidade e que são "de interesse", tudo isso matizado por uma visão pessoal.

Os textos no volume tanto confirmam quanto negam essa primeira definição e, mais que isso, a ampliam. Eis um dos motivos para se aventurar na leitura de As cem melhores crônicas brasileiras. Além disso, é oportuno destacar que, por circular preferencialmente nos jornais, a crônica se tornou "uma espécie de iniciação do brasileiro ao prazer de ler" [3]. Sendo assim, nada mais natural que iniciar o Ano Novo com a leitura de um gênero textual "iniciático". Boas leituras!

Notas:

[1] Aqui faço referência a uma crônica de Clarice Lispector intitulada Ser cronista na qual a escritora assim se expressa sobre seu ofício e patenteia o lugar de Rubem Braga no conjunto dos cronistas brasileiros: “Sei que não sou [cronista], mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Na verdade eu deveria conversar a respeito com Rubem Braga, que foi o inventor da crônica. Mas quero ver se consigo tatear sozinha no assunto e ver se chego a entender.

[2] A introdução explica também a (lamentável) ausência de Manuel Bandeira e Cecília Meireles no volume por motivos extraliterários.

[3] Segundo a antologia, esse papel iniciador da crônica começa a se delinear mais fortemente a partir dos anos de 1950. A frase citada foi tirada do texto que introduz as peças dessa década. Ainda sobre este ponto, a crônica parece ser verdadeiramente um achado da nossa cultura. O escritor argentino Rodolfo Alonso, por exemplo, diz que a cessão de colunas jornalísticas a grandes escritores [de literatura] pode soar como um fato inimaginável em seu país e destaca ainda que, apesar de preservar a liberdade dos autores, ao colocá-los em um espaço de ampla circulação, a crônica relativiza os limites dessa liberdade e confronta "a exigência e a originalidade dos criadores com a exigência e a qualidade dos leitores". Seu texto original, em espanhol, pode ser lido aqui: http://www.cronicasdelaemigracion.com/opinion/rodolfo-alonso/revelacion-de-clarice-lispector/20130114112859047621.html