sábado, 13 de abril de 2013

Resenha de Filme: La educación prohibida


LA EDUCACIÓN prohibida. Realização integral: German Doin. [s.l.], 145 min., legendado. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-1Y9OqSJKCc. Acesso em: 21 mar. 2013.


Divulgado na internet a partir de agosto de 2012, o filme-documentário La educación prohibida apresenta algumas experiências que ousaram transgredir o modelo educativo tradicional, constituindo-se em um tentador convite à reflexão sobre a instituição escolar e as práticas educativas. Trata-se de um material particularmente indicado para professores que já atuam em sala de aula ou que ainda estão se formando e, também, para todos aqueles que desejam um futuro livre para seus filhos, sobrinhos, primos e conhecidos.
Aliás, um futuro sem embaraços parece ser a preocupação dos idealizadores da película, que a dedicam “às crianças e aos jovens que desejam crescer em liberdade”. A trama é composta por uma história fictícia de fundo, perpassada por recortes de entrevistas feitas com especialistas de países ibero-americanos. Nesta história de fundo, é apresentado um confronto entre docentes e alunos motivado pelo desejo destes últimos de ler um texto dito “ofensivo” numa comemoração que está por realizar-se na escola. Tal caracterização do texto se baseia nas suas fortes críticas à ausência de vínculos entre escola e vida. Para os alunos que o escreveram, a educação que prepara para a vida está proibida.
Partindo dessa situação, enfoca-se o status da instituição escolar. Embora a educação seja um tema importante, que mobiliza debates e investimentos os mais variados, existe uma uniformidade de práticas (apesar da multiplicidade de escolas existentes) que se orienta, quase que exclusivamente, para a formação de trabalhadores, relegando a formação do ser humano a segundo plano. Isso explicaria por que, nas palavras de Carlos Alberto Jiménez Vélez, neuro-pedagogo colombiano, as escolas e colégios latino-americanos não são mais que “espaços de tédio e aborrecimento”.
No entanto, a escola que conhecemos não existe “desde sempre” e o filme faz uma breve digressão histórica para explicar o surgimento do conceito de educação pública, gratuita e obrigatória no final do século XVIII na Prússia. Além disso, é explicitada a conveniência do modelo educativo atual para as sociedades industriais, que fizeram da escola um espaço de reprodução simbólica serializada; uma grande linha de produção. Diante deste quadro, o chileno Rafael González Heck destaca o mote do filme: “Toda educação que busque algo diferente tem que ser proibida”.
Feita esta introdução, o documentário dirige sua atenção para a diferença que se estabelece entre a escola (estes “espaços de tédio”) e a educação ou, melhor dito, o processo de aprendizado. Expõe-se o fato de que as crianças são predispostas a aprender, sendo desnecessária e até nociva a intervenção dos adultos através do processo educativo que nós conhecemos. Um dos entrevistados, o espanhol Juan Pere, explica que focalizar os objetivos educacionais (aprender a escrever o próprio nome, por exemplo) desvia nossa atenção e “deixamos de enxergar a criança para tentar adaptá-la aos objetivos impostos”.
O filme trata ainda de outros temas, como a tendência da escola a homogeneizar os alunos, desrespeitando o ritmo da criança. Para resumir, citamos a assertiva do pediatra espanhol Carlos González: “tudo o que a criança faz está inadequado, se espera que ela seja uma criança protótipo”.
Outro dos temas tratados que nos importa destacar é a questão da mudança de paradigma do professor. Para fomentar o pensamento sobre o papel do docente, colocam-se algumas perguntas cujas respostas são, obrigatoriamente, muito pessoais. Por exemplo: o que sinto quando estou educando?
Após um cortejo de situações que impõem a necessidade de refletir sobre o modelo educativo em voga, o filme termina com a leitura do texto sobre a educação proibida, aquela que não se escreve em nenhum caderno. Este texto, que veio sendo debatido na história de fundo, faz mais que defender a educação que ficou de fora das escolas, ele nos acusa: “Acreditamos que a educação está proibida não por culpa dos familiares, não por culpa das crianças, nem por culpa dos docentes. Todos proibimos a educação”.
A título de conclusão, podemos dizer que, se ainda não podemos prescindir da escola, o filme nos leva a desejar que possamos ao menos prescindir dos males da escolarização excessiva. É esse o compromisso que nos vemos em posição de assumir após assistir La educación prohibida.

Pós-escrito: Se faltam a este texto as "marcas autorais" que permitiriam irmaná-lo às demais colunas que escrevo para a Revista Encontro Literário é porque, originalmente, ele foi escrito como avaliação para uma das disciplinas que cursei na UFJF no último período. Aproveito o ensejo desta explicação para colocar o trailer oficial do filme acima resenhado:


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