quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Seleção de Contos - Edital 05/2013



Edital 05 - 2013 (Conto)
A Revista Encontro Literário, inscrita no ISSN 2237-9401, tem como objetivo fomentar a produção literária, bem como estimular o prazer da leitura. Para isso, publicaremos dois editais: o do primeiro semestre será dedicado ao gênero Conto e o do segundo semestre ao gênero Poesia.

REGULAMENTO
Art. 1º – A Revista Encontro Literário, por meio deste edital, abre inscrições para publicação de Contos, com temática livre.
§ 1º – As inscrições são gratuitas.
§ 2º – Ao se inscreverem, todos os candidatos aceitarão automaticamente todas as cláusulas e condições estabelecidas no presente regulamento.
Art. 2º - Será considerada somente a participação de pessoas com idade de 15 anos adiante.
Das inscrições
Art. 3º – O edital é aberto a todos os interessados, desde que o texto seja escrito em língua portuguesa.
Art. 3º – As inscrições serão realizadas através do e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br no período de 1 de março a 05 de abril de 2013.
Parágrafo único – Não serão aceitos textos discriminatórios, pornográficos ou que façam apologia às drogas.
Art. 4º – Cada participante pode se inscrever com 1 (uma) produção literária. Os contos devem ser inéditos, ou seja, que ainda não tenham sido publicados em livros, jornais ou outros meios.
§ 1º – Os contos devem ser enviados em arquivo Word (preferencialmente versão 2003), para o e-mail revistaencontroliterario@yahoo.com.br, com pseudônimo e título.
§ 2º - Em arquivo separado da obra, devem ser enviadas as seguintes informações: título da obra, pseudônimo, nome completo, endereço completo, telefone de contato e e-mail, bem como uma mini-biografia.
§ 4º - Os trabalhos devem ser digitados em editor de texto eletrônico Word (preferencialmente versão 2003), seguindo as seguintes configurações:
a) Fonte Arial ou Times Roman, tamanho 12;
b) Espaçamento entre linhas de 1,5 cm.
c) Cada conto não deve exceder o limite de 02 (duas) laudas.


Art. 5º – Serão selecionados 3 (três) contos, para publicação no site da Revista Encontro Literário, inscrito no endereço www.revistaencontroliterario.blogspot.com
§ 1º – Ao enviar as produções literárias, o participante tem a plena consciência de que autoriza a Revista Encontro Literário a publicar suas obras sem nenhuma espécie de ônus para a Revista.
Premiação
Art. 1º - Os autores que tiverem seus contos selecionados para publicação receberão como premiação:
a)    1 (um) exemplar da obra “Contos”, de Machado de Assis, e 1 (um) exemplar da obra “Contos que Machado de Assis e Jorge Luis Borges Elogiaram”, de Raphael de Oliveira Reis.
Da comissão julgadora
Art. 6º – A Comissão Julgadora é composta pelos editores e colaboradores da Revista.
Parágrafo único – A Comissão Julgadora terá autonomia no julgamento, isto é, a decisão da comissão é irrevogável.
Do resultado
Art. 7º – O resultado do Concurso será divulgado, em maio de 2013, no site www.revistaencontroliterario.blogspot.com. A publicação das obras selecionadas acontecerá no mesmo mês.
Das disposições finais
Art. 8º – Os casos omissos serão decididos pelos Editores da Revista.
Juiz de Fora, 28 de fevereiro de 2012.
Editores
Aílton Augusto
Paulo Tostes
Raphael Reis

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Borges: a leitura no limite e o olhar sugestionado

A coluna deste mês surge por influência da indicação de leitura feita aqui nesta mesma Revista. Tratarei de esboçar algumas linhas a respeito do modo como Borges leva a leitura, tal qual a conhecemos, ao limite. E pretendo ainda mostrar como, neste processo, o autor consegue sugestionar nosso olhar, fazendo com que nós, leitores, vejamos em certas imagens/situações a realização do seu universo literário tão particular. Nenhuma das ideias é nova ou pertence exclusivamente à minha pessoa. Neste sentido, chamo especial atenção para uma conferência (em espanhol) da Dra. Alicia Poderti, intitulada "Borges en su laberinto", que nossos leitores poderão encontrar em: http://bit.ly/YqeYir

A leitura no limite

Em mais de uma ocasião Borges outorgou papel proeminente à leitura. No que tange a declarações suas repetidas à exaustão, há duas que me interessa destacar: [1] o autor disse considerar que o Paraíso seria uma espécie de biblioteca e [2] ele aludiu que as páginas lidas por um escritor seriam mais louváveis que aquelas que esse mesmo escritor já produzira. 

Além disso, o tema da leitura reponta em mais de uma obra borgeana. Para o escritor, o ato de ler, assim como a literatura, seria um ato de re-escrita e até mesmo de criação, liberado, portanto, de seguir esquemas e de prender-se exclusivamente àquilo "que o autor quis dizer". O conto Pierre Menard, autor do Quixote (presente em Ficções, de 1944) é representativo dessa particular visão do fazer literário. 

Constituído por um “arremedo” de ensaio no qual se comentam as obras que teriam sido deixadas por Pierre Menard, o texto nos apresenta a mais audaciosa das empresas deste autor fictício: a re-escrita do Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Mas tal obra é composta com as mesmas palavras de Cervantes. A diferença está no significado que tais palavras tinham no século XVII quando a obra foi publicada pela primeira vez e o significado que elas possuíam no século XX. Para o ensaísta que escreve o conto, a intenção de Menard era louvável, pois este queria “continuar sendo Pierre Menard e chegar ao Quixote através das experiências de Pierre Menard”. (BORGES, 1972, p. 52). O destaque aqui não é para o autor, e sim para o leitor, aquela pessoa capaz de ampliar uma obra para além do limite de suas páginas, acrescentando significados às palavras a partir do seu momento histórico e, mais que isso, a partir de suas próprias experiências.


Se o primeiro exemplo que dei aponta para uma concepção "libertária" da leitura, os exemplos que se seguirão apontam para uma "premonição" borgeana: a leitura que ultrapassa os limites da materialidade e se avizinha do que hoje praticamos como sujeitos inseridos em uma "sociedade da informação". 

No conto O livro de areia, apresentado pela revista como dica de leitura, somos confrontados com um livro infinito, sem começo nem fim, de contornos deslizantes como a areia. Em consonância com o ponto de vista apresentado acima, podemos supor que todo livro pode ser um livro de areia, pois cada leitor (e aí voltamos ao tema da leitura) fará um percurso próprio que não se limita ao número de páginas, um percurso que ultrapassa a materialidade da obra que tem em mãos. 

Outros dois exemplos, mais contundentes: no conto A biblioteca de Babel, também presente no já mencionado Ficções, o universo é apresentado como uma biblioteca infinita: 

"O universo (que outros chamam a Biblioteca) constitui-se de um número indefinido, e quiçá infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por varandas baixíssimas. De qualquer hexágono, vêem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente" (Borges, 1972, p. 84). 

Nesta biblioteca infinita, estão contidos todos os livros possíveis de serem escritos, sem que haja dois volumes idênticos e é impossível o conhecimento de todos eles no tempo curto da existência de um homem. 

Este conto se encerra com uma nota de rodapé que "simplifica" a questão e reduz a utilidade da vasta Biblioteca, antecipando a imagem trabalhada pelo autor no supracitado O livro de areia. Transcrevo: 

Letizia Álvarez de Toledo salientou que a vasta Biblioteca é inútil; a rigor, bastaria um só volume, de formato comum, impresso em corpo nove ou em corpo dez, composto de um número infinito de folhas infinitamente delgadas. (Cavalieri, em princípios do século XVII, disse que todo corpo sólido é justaposição de um número infinito de planos.) O manuseio desse vade mecum sedoso não seria cômodo: cada folha aparente se desdobraria em outras análogas; a inconcebível folha central não teria reverso. (Borges, 1972, p. 94) (grifo meu)

No que diz respeito à materialidade do objeto livro, nós sabemos que atualmente os textos já podem prescindir do suporte material e, habitando o espaço virtual, se deixam interceptar por links que nos direcionam sempre a novas e diferentes textualidades, como essas folhas aparentes que se desdobram em novas folhas sem reverso. Na rede, cada texto é sempre outro e sempre novo, sem começo e sem fim. Tenho a impressão de que relacionar a leitura dispersa da internet com o universo literário borgeano é um indício de como nosso olhar para o mundo foi sugestionado pela força da escrita do autor. Antes de passar para a próxima seção, deixo outra indicação de leitura, que irá esmiuçar melhor a relação de Borges com a internet e que fará isso com uma competência que me falta. Trata-se do artigo "A Biblioteca de Babel: uma metáfora para a sociedade da informação", de Johnny Virgil, disponível para leitura em: http://bit.ly/Xu6vdL

O olhar sugestionado

Em Borges y yo, texto presente no volume El hacedor, de 1960, e que é, diga-se de passagem, um falso convite à intimidade, o narrador aparente (o homem Borges, "divorciado" de sua persona de escritor) (?), assim se refere a um incômodo, causado pela convivência com sua outra parte:

Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro. (BORGES, 1997, p. 63) (grifo meu)
O que me chama a atenção nesta passagem é a alegação de que esses jogos pertencem a Borges agora. Ao transpor seus interesses "pessoais" para a literatura, colocando-os em letra de forma, o escritor estaria "roubando de si mesmo", ainda que no final do processo, pela própria repercussão de seus escritos, os jogos com o tempo e o infinito, assim como o gosto por mapas, relógios de areia e etimologias, estejam inevitavelmente associados ao seu nome. O texto já mencionado termina com uma frase que dá a justa medida da indissociação: "No sé cuál de los dos escribe esta página" (idem, p. 63).

Acredito que a força de atração que o nome de Borges exerce sobre determinados elementos de seu universo literário, fazendo com eles gravitem ao seu redor como os planetas em torno do sol, combinada com o caráter imagético de suas descrições (que pode ser comprovado por uma releitura do trecho aqui citado de A biblioteca de Babel) nos faz associar certas imagens e realidades ao seu universo literário tão particular. 

Aliás, o leitor mais atento deve ter percebido que este texto veio sendo acompanhado por algumas imagens que, à semelhança do texto borgeano, borram os limites entre o real e o fantástico. São montagens fotográficas feitas por Erik Johansson. É possível que alguns não concordem comigo, mas, desde o dia em que um amigo argentino compartilhou uma dessas imagens no Facebook e me marcou em sua publicação, não pude deixar de associar o universo visual desse artista alemão às criações de Borges, autor que, como proponho, colocou em sua literatura força suficiente para sugestionar (ou talvez subordinar) o nosso olhar, levando-nos a sempre enxergar algo de seu ao nos depararmos com imagens como estas ou com avanços tecnológicos como a internet.


Para quem tiver interesse de conhecer melhor a produção de Erik Johansson, sugiro visitar sua página pessoal: http://erikjohanssonphoto.com/. A divulgação da página responde ainda à indicação de autoria que é a condição colocada para o livre compartilhamento dessas imagens.


Obras de Borges citadas neste texto:

BORGES, Jorge Luis. Ficções. Tradução de Carlos Nejar. São Paulo: Abril Cultural, 1972

BORGES, Jorge Luis. El hacedor. Buenos Aires: Emecé, 1997


Pós-escrito: 

[1] Como qualquer outro texto publicado na Revista Encontro Literário, este também se presta a ser comentado, elogiado e criticado. Sobretudo criticado, porque não sei se fui suficientemente claro na segunda parte desta coluna, quando falo do "olhar sugestionado", que pode não passar de uma má expressão escolhida por mim para descrever o fenômeno a que faço referência.

[2] Para aqueles que sempre querem saber como o mágico tira o coelho da cartola (e tirar um pouco do encanto do espetáculo), deixo o link para um vídeo (em inglês) em que Erik Johansson explica seu processo de criação: http://youtu.be/mc0vhSseGk4

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dica de leitura: O Livro de Areia, de Jorge Luis Borges

“O número de páginas deste livro é infinito. Nenhuma é a primeira, nenhuma, a última.” (BORGES, 1999; 81)

Tendo a literatura como re-escritura, tema que contemplou amplamente em sua obra, o escritor argentino Jorge Luís Borges descreve, no Livro de Areia, uma de suas grandes “obsessões” – um livro que seja infinito. Nesse sentido, se desenrola a história de um personagem que compra um livro de um desconhecido e insistente vendedor de livros, ou Bíblias, que bate à porta de sua casa. Sem princípio nem fim, a narrativa, bem borgeana, é sempre uma nova possibilidade de leitura à medida que vai sendo lida; é como uma viagem rumo ao infinito e para lugares inimagináveis.
Eis a perturbadora impressão que “o livro” causa no personagem que o compra! Afinal, é uma leitura que nos leva, juntamente com esse personagem, ao desconhecido: “Faz alguns meses, ao entardecer, ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido (...) de traços mal conformados.” (BORGES,1999, p. 79). E ao mesmo tempo é a condição da leitura – espaço inacabado e que só se vai realizando à medida que se lê. Mas no caso do personagem central do livro de Borges, outro ponto instigante é que esse mesmo personagem não sabia ler: “Seu possuidor não sabia ler” (BORGES, 1999, p. 80).
Então, o que ele lia?
Contudo, ele “lê” fazendo-nos lê-lo, ao tentarmos decifrar o que está escrito. Percebe-se que “o livro” se confunde com nós mesmos, leitores-viajantes do infinito, quando batemos na nossa própria porta...
Ainda que breve, este pequeno texto é tão somente o convite para que possamos iniciar o contato com um dos maiores contistas e ficcionistas de todos os tempos, cosmopolita que nasceu Argentina, viveu na Europa e teve a sua obra traduzida para vários idiomas, além de ter sido nomeado, em 1955, diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Não por menos, disse certa vez: “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria”.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Escritor mineiro Luiz Ruffato vence prêmio 'Casa de las Américas' com o mais recente livro 'Domingo sem Deus'


Luiz Ruffato diz que prepara um novo livro onde abandona a temática do proletariado

Fonte: Por Mauro Morais. Acesso: http://www.tribunademinas.com.br/cultura/me-sinto-livre-para-escrever-outra-coisa-1.1225285

 Iniciada em 2005 com o romance "Mamma, son tanto felice", a pentalogia intitulada "Inferno provisório", de autoria do jornalista e escritor mineiro Luiz Ruffato chega ao fim com uma das maiores láureas da literatura feita nas Américas. O mais recente romance de Ruffato, "Domingo sem Deus", que encerra a série, ganhou, na noite da última quinta, em Havana (Cuba), o prêmio "Casa de las Américas" na categoria melhor livro brasileiro. Fundado em 1959, o prêmio é realizado pela instituição homônima, que busca promover e incentivar as artes do continente.
Produzida após o elogiado "Eles eram muitos cavalos", de 2001, que lhe rendeu os prêmios de melhor romance pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Machado de Assis pela Fundação Biblioteca Nacional, a série resulta da investigação poética do escritor sobre o proletariado brasileiro. Exercitando a linguagem fragmentária que marcou sua produção, Ruffato conclui com "Domingo sem Deus" a temática que lhe conferiu originalidade e ineditismo. "Quando decidi, em 2003, que iria escrever esses cinco volumes, eu sabia quando ia começar e quando iria parar. Não sabia delimitar o tempo, mas tinha a certeza de que terminado esse ciclo eu não queria mais trabalhar com esse tema", aponta o escritor.
Selecionado por um júri composto pelos escritores Marcelino Freire e Carola Saavedra e pela poeta, pesquisadora e produtora Suzana Vargas, "Domingo sem Deus" será traduzido para o espanhol em tiragem inicial de dez mil exemplares, consequência do prêmio que também destina US$ 3 mil ao autor. Presente na ata do júri, a justificativa afirma que a obra vencedora "apresenta diversos episódios independentes que se entrelaçam, formando o mosaico de um Brasil essencial, embora esquecido".
Natural de Cataguases e formado em Comunicação Social pela UFJF, Ruffato notabilizou-se no cenário nacional por defender a ideia do escritor como um "operário das letras", em referência direta ao universo no qual se debruçou. "Eu não escrevo para ganhar prêmios", explica, para logo concluir: "Prêmio é um acidente, é claro que é importante, mas é sempre acidental. Depende da pessoa que está lendo o seu livro naquele momento e de quem está concorrendo com você".
Apesar da identificação, tanto do público quanto da crítica especializada, de Ruffato com a temática do trabalhador, que mergulhou nesse universo até na obra "Estive em Lisboa e lembrei-me de ti" - fruto de um intercâmbio em Portugal, promovido pelo projeto editorial "Amores expressos", cujo objetivo era apresentar a literatura contemporânea nacional através de histórias de amor vividas em outras geografias -, o escritor já vislumbra outros horizontes. "Me sinto livre para escrever outra coisa", conta, atualmente ocupado com o início de uma nova obra ainda sem lançamento previsto, mas com um tema bastante diferente.
Em sua 54ª edição, o prêmio "Casa de las Américas" também contemplou outros brasileiros: Rodrigo de Souza Leão, escritor morto em 2009, recebeu menção honrosa na categoria "literatura brasileira", pela novela "Carbono pautado - memória de um auxiliar de escritório", e o mineiro Evandro Affonso Ferreira ganhou menção na mesma categoria pelo livro "O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam". O compositor e escritor Chico Buarque também se sagrou vencedor, levando o "Prêmio de narrativa José Maria Arguedas" pelo livro "Leite derramado", de 2009.