A Bíblia do Diabo: sua história
Desde que eu comecei a me interessar em
pesquisar a tríade “Leitor-Livro-Leitura”, especificamente as práticas sociais
da leitura e as políticas públicas do livro e leitura, um tema referente ao livro
me chamou muita atenção: o Códex Gigas, ou melhor, A Bíblia do Diabo. Com um
nome tão impactante como este, por apresentar uma oposição, o fascínio não
poderia ser diferente.
Comecei, então, a buscar possíveis fontes
sobre o Códex Gigas, visto que o único material que eu tinha até o momento era
um documentário da National Geographic (Cf. http://www.youtube.com/watch?v=waNmAOpOclc). Contudo, a minha pesquisa, por
enquanto, não foi bem sucedida, pois só encontrei duas referências em idiomas
que eu não domino, a saber: Bártl,
S., Kostelecký, J. Ďáblova bible.
Tajemství největší knihy světa, Paseka, 1993 e J. Belsheim, Die
Apostelgeschichte und die Offenbarung Johannis in einer alten lateinischen
Übersetzung aus dem 'Gigas librorum' auf der königlichen Bibliothek zu
Stockholm (Christiana, 1879).
Como as dificuldades e ausência de informações mais
sistematizadas são também resultados e dados importantes, percebemos que a
historiografia ainda não se interessou por tal manuscrito, já que não
encontramos trabalhos acadêmicos a respeito. Enfim, a história de manuscritos e livros
nos parecem não despertar tanto interesse aos pesquisadores.
Assim, já aponto ao nobre leitor de nossa revista que
este artigo não oferece uma informação sistematizada, confiável a nível de ser
explorado como gostaríamos que fosse. Por outro lado, o nosso intento é
divulgar a história de tal manuscrito, através da lenda que circunda o Códex Gigas,
até os dias de hoje, bem como refletir sobre alguns aspectos.
A Bíblia do Diabo, em seu formato nada tradicional, sendo o maior livro do mundo, tem
90 centímetros de altura, 50 de largura e 22 de espessura; é oconstituído por
310 páginas e pesa nada mais nada menos que 75 quilos.O seu conteúdo é preenchido
por uma cópia da vulgata, histórias antigas, ladainhas de encantamento e
receitas de curas medicinais e a infame iluminura de um diabo, na página 210.
A Bíblia do Diabo foi criada no ano de 1230, na Idade
Média, e teria sido obra de um monge beneditino da região de Podlazice, o qual
teria vendido sua alma ao diabo, no intuito de terminar sua penitência, por ter
cometido um grande pecado. Caso não terminasse seria emparedado vivo.
O monge, cujo nome não sabemos, bem como não há a
identificação de qual seria o grande pecado, prometeu o impossível: glorificar
o monastério com o maior e mais glorioso livro do mundo, o qual conteria toda a
sabedoria do mundo, em um único dia. Porém, essa tarefa logo se mostrou
impossível. Então, evocou as forças malignas para ajudá-lo com a contrapartida
de dar sua alma em troca. Assim o monge livrou-se do castigo.
É notório que o começo dessa lenda já nos revela um
paradoxo: ao vender sua alma para garantir a existência terrena, o monge
perderia sua vida mais sagrada, a eterna, sendo essa uma das grandes
preocupações dos homens medievais, principalmente tratando-se de um religioso. Mas,
continuemos nos rastros da lenda, pois há alguns pontos instigantes.
O mosteiro beneditino de Podlazice entrou em crise
financeira, tendo que vender sua preciosidade. O mosteiro cisterciense de
Sedlec o comprou, como objeto de grande prestígio. No entanto, este monastério
também passou por uma profunda crise financeira.
De 1477 a 1593 ficou
sob os cuidados da biblioteca de um monastério de Brumov, até ser levado para
Praga, pelo Rei Rodolfo II, que era fascinado pela história do códex e há muito
o cobiçava. Rodolfo passa a ter uma obsessão pelo manuscrito. Segundo os
relatos, todo o dia ficava horas e horas trancafiado em sua biblioteca, lendo-o.
Tornou-se antissocial, não se casou, não teve herdeiros, repetia fórmulas em
latim de exorcismo ao andar por seu castelo, enfim, ficou transtornado. Seu
país foi assolado pela peste, seu governo caiu, em 1648 e, por fim, foi
saqueado pelas tropas suecas, a qual levou o códex como um de seus troféus.
Na Suécia, na cidade
de Estocolmo, nasce uma garotinha de nome Cristina, filha do Rei Gustavo II, a
qual fora criada pelo pai como se fosse um menino. Cristina toma o trono mais
tarde como um rei e, não como uma rainha. Uma de suas medidas foi transferir o
códex para a biblioteca de seu castelo. Anos mais tarde se converteu ao
catolicismo e foi embora de Estocolmo. Renuncia ao trono e consigo leva todas
as edições da bíblia que havia em seu castelo, menos o códex gigas. Em 1697 há um catastrófico incêndio no castelo e o
único livro a sobreviver foi A Bíblia do Diabo...
Conforme alguns
estudiosos é certo que o manuscrito, o único a conter um diabo desenhado em uma
de suas páginas, foi escrito por uma só pessoa, pois há uma inalterância da
caligrafia ao longo do livro e uma única tinta usada, extraída de insetos. Conforme
alguns cálculos, ele deve ter levado de 20 a 25 anos, para que pudesse ser
completado e que fora, provavelmente, uma tarefa de penitência.
O grande mistério que
envolve tal livro, é por este conter o desenho de um diabo numa folha inteira, é
resolvido num passar de folhas, já que do outro lado há um majestoso Reino do
Céu, que revela a luta continua entre o bem e o mal.
E você, nobre leitor,
acha que o Códex Gigas pode ter influenciado nos acontecimentos mencionados? Gostaria
de tê-lo em sua casa?
Para mim fica o
sentimento do maravilhoso, de saber que tal manuscrito influenciou as crenças e
comportamentos de sociedades ao longo destes 800 anos, além de despertar grande interesse àqueles que conhecem sua lenda. E hoje, o livro está
exposto na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo, para visitação.
[1] É Mestrando em Educação (UFJF), Especialista em Políticas Públicas
(UFJF) e Graduado em História (UFJF). Trabalha como Professor de Suporte
Acadêmico no Caed-UFJF, Professor de Ciências Humanas no Projovem, Editor na Revista Encontro Literário, Assessor Político (é Jucelio 40 013 para vereador em Juiz de Fora)
e Consultor na área de Formação do Leitor e Formação Política.
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