quinta-feira, 26 de abril de 2012


Embora o conto "Bartleby, o Escrivão", não tenha tido muita repercussão na época em que foi publicado, tornou-se um dos contos mais instigantes da literatura universal. E para entender o alcance da narrativa, vale destacar o contexto em que foi produzida. Considerado o precursor do absurdo na literatura, Herman Melville aborda temas genuinamente marcados por um tom existencialista, como se encontra, por exemplo, na obra de Kafka, especialmente em O processo e Um artista da fome. O próprio Albert Camus cita Herman explicitamente como uma grande influência em uma carta pessoal escrita a Liselotte Dieckmann e publicada na French Review, em 1998.
Nesse sentido, o escritor espanhol Enrique Vila-Matas escreveu o premiado romance "Bartleby & Co.", criando um catálogo de muitos "Bartlebys" na literatura, ou seja, escritores que empreendem “a escrita do não". Não apenas na literatura, mas no pensamento político moderno, escritores como Michael Hardt deram exemplos baseados em Bartleby, refletindo a perspectiva revolucionária na luta contra o imperialismo econômico. Não por menos, o conto continua atualíssimo em sua dimensão estética e sociológica, firmada na atitude do protagonista e de seu afastamento de um mundo alienante e hostil. Prova disso foi a sua adaptação recente para o para o teatro (março de 2007), realizada por Alexander Gelman e Company of Organic Theater Company, em Chicago, Illinois.
No Brasil, o conto “Os Diamantes chegaram”, de Luis F. Veríssimo, também possui uma grande semelhança com a história de Bartleby, ao retratar a vida de Ubiratan S., um funcionário público que cumpre suas tarefas muito burocraticamente. Contudo, assim no conto de Melville, o que se sobrepõe ao leitor atento é a recusa à banalidade do cotidiano, embora as devidas diferenças no final de cada texto: enquanto a vida de Ubiratan S. É um pouco mais excitante, a de Bartleby o leva ao fim da prórpia existência – desfecho inexorável da condição humana, mas que poderia ser mais digna, ao menos em momentos decisivos da história, quando é preferível não fazer o que se impõe...


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