Uma das boas sugestões literárias da poesia brasileira é o livro Vaga música (1942), de Cecília Meireles, que marcou
definitivamente o auge de sua carreira. É uma poesia contínua que vai ao
encontro das imagens do mar. Nesse livro, uma das formas poéticas mais utilizadas pela
poeta é a da
canção, o que vem indicado, à maneira antiga, já nos títulos: "Pequena
canção da onda", "Canção da menina antiga", "Canção
excêntrica", "Canção quase inquieta", "Canção do
caminho", "Canções do mundo acabado", "Canção quase melancólica",
"Canção de alta noite", entre outras... Tendo herdado a linguagem musical e cadenciada do
simbolismo, e procurando depurá-lo, o lirismo de Cecília Meireles é perpassado pela melancolia e
pelo sentimento da saudade do tempo que passou, o que sugere uma reflexão sobre
a fugacidade da vida, a descrição do real e a preocupação com a falta de
sentido da existência, bem como a ênfase na condição solidária do homem.
De Vaga Música, vem este singelo poema em forma de canção:
Pequena canção
Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?
Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...
Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!
Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?
Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...
Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!
Confirmam-se, assim, algumas das características de uma bela canção: o som e o ritmo, a impregnação da realidade exterior pela
emoção, o apagamento dos fatos e a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço.
Fica, então, o convite a música ceciliana, para além de uma vaga música....
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