sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Uma breve reflexão sobre a proposta literária de Anton Tchekhov


Em meio à oportuna sugestão de um dos contos mais conhecidos de Tchekhov, A dama do cachorrinho, vale lembrar que até o século XIX a literatura russa ainda não tinha chamado a atenção do mundo literário. Somente a partir do contato com os modelos de organização política e estética, vigentes na Europa mais moderna, é que haveria uma aproximação com a cultura europeia, sobretudo, através da tradução dos grandes autores franceses da época. É nesse momento que os bons escritores russos passariam a questionar a identidade de sua própria produção, surgindo, assim, escritores como Púchkin e Gógol, no início do século XIX. Nessa linha de uma consciência estética mais apurada é que Anton Tchekhov (1860-1904) despontou como o escritor clássico russo que abriu os caminhos para a literatura contemporânea e influenciou a formação da prosa e do drama do século XX. Toda a sua produção se destacará, então, por uma perspectiva verbal concisa para atingir tal grau de condensação formal que seus contos poderiam ser comparados simbolicamente a icebergs, ou seja, o texto de Tchekhov revela apenas uma parte do mundo de seu autor. Nesse sentido, caberia aos seus leitores a descoberta, nas entrelinhas do texto, a profundidade da dimensão interior do inesgotável universo tchekhoviano. Como um dos grandes escritores russos de todos os tempos, Tchekhov entendeu que a grande literatura é aquela que permite a liberdade de se interpretar o texto literário como um privilégio sagrado do bom leitor, tornando-se este um participante ativo que deve acrescentar à obra aquilo que ainda não foi dito...

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